Pablo Marçal (PRTB) registrou seu principal avanço na disputa pela prefeitura de São Paulo nesta quinta-feira, 22, data em que alcançou 21% das intenções de voto na pesquisa Datafolha, em empate técnico com Guilherme Boulos (PSOL, 23%) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB, 19%).

Além do crescimento de sete pontos percentuais em relação ao levantamento anterior do instituto, divulgado no início de agosto, o ex-coach viu seu principal rival pelo eleitorado da direita — o atual prefeito — perder quatro pontos no mesmo período.

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O que ajuda a explicar os dois movimentos é a migração dos bolsonaristas. Marçal chegou a 44% das intenções de voto entre os eleitores de Jair Bolsonaro (PL) na capital paulista, ante 30% de Nunes, de acordo com o Datafolha. No início do mês, eram 38% a 29% a favor do emedebista, que tem o apoio oficial do ex-presidente.

Mas o que mudou desde então?

Marçal “bolsonarizou” candidatura

Embora tenha na coordenação de campanha um marqueteiro tradicional da política paulista, o influenciador dobrou a aposta no discurso contrário ao sistema político, a exemplo do que Bolsonaro (que recentemente disse que o sistema quer executá-lo) faz desde a eleição presidencial de 2018.

“O discurso antissistema ressoa muito bem entre o eleitorado bolsonarista. Em pesquisas qualitativas, esses eleitores afirmam que o país precisa de uma revolução, uma ‘limpeza profunda’, o que demonstra a força desse discurso, que segue relevante mesmo após a saída de Bolsonaro da Presidência”, disse Camila Rocha, cientista política e pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), ao site IstoÉ. “Em eleições mais polarizadas, como é o caso de São Paulo, candidatos que mobilizam esse discurso tendem a capitalizar com isso”, concluiu.

No primeiro debate da disputa, Marçal disse que os adversários representavam um “sistema” que trabalha para excluí-lo e os associou ao comunismo. “A cidade está infestada de comunistas”, afirmou.

No segundo encontro, reforçou a narrativa de um suposto conluio para derrotá-lo ao citar o fato de que a candidata a vice de Boulos, Marta Suplicy (PT), foi secretária na gestão de Ricardo Nunes.

Em seguida, viu Boulos, Nunes e José Luiz Datena (PSDB) faltarem ao debate da revista Veja e explorou as desistências para publicar nas redes sociais a “encenação” de um encontro entre os adversários e o “titio Sistema” para combinar as ausências. “Titio Sistema está proibindo que tenha boné no debate. Titio vai conversar com todas as emissoras, mas só o boné com a letra M [usado por Marçal]”, diz um diálogo. Os vídeos somam 3,5 milhões de visualizações no Instagram do candidato.

Nesta semana, o Ministério Público Eleitoral pediu a suspensão da candidatura do ex-coach por abuso de poder econômico e deu a Boulos três direitos de resposta à acusação sem provas de que ele é consumidor de cocaína (decisão que foi suspensa). Após os processos, Marçal voltou a fazer comentários em relação a uma suposta “perseguição” contra sua empreitada política.

Vale lembrar que, nas eleições em que disputou, Bolsonaro já acusou adversários de atuarem juntos para derrotá-lo, questionou as urnas eletrônicas e, desde que foi declarado inelegível por oito anos pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), incluiu as “interferências indevidas” do Judiciário no conluio que atuaria contra ele, mas nunca apresentou provas. “Marçal é um candidato que se coloca como conservador, cristão e antissistema, e faz política a partir do confronto e da autenticidade. Esses valores e essa forma correspondem à agenda bolsonarista”, disse Camila Rocha.

Como Pablo Marçal avançou sobre eleitorado bolsonarista em São Paulo
Ricardo Nunes (MDB): prefeito tem apoio de Bolsonaro, mas relação com militância é atribulada | Divulgação

Nunes gera desconfiança

Enquanto trabalhava para bolsonarizar a própria candidatura, Marçal viu a desconfiança do grupo político do ex-presidente em Nunes dar sinais mais evidentes. Em entrevista a uma rádio, Bolsonaro disse que o prefeito não é seu “candidato dos sonhos” e elogiou o postulante do PRTB.

Já o emedebista gravou um vídeo de apoio a Joice Hasselmann (Podemos), candidata a vereadora na capital e desafeto dos Bolsonaro, o que lhe rendeu críticas. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) chegou a dizer que Nunes “cavou a própria sepultura”.

“Os eleitores de Bolsonaro sinalizam que o apoio dele [a um candidato] importa, mas não é primordial. Eles têm a percepção de que o ex-presidente sofre pressões da política tradicional para costurar alianças. O fundamental [para eles] é a adesão à agenda e aos princípios bolsonaristas”, afirmou Camila Rocha.

Após o entrevero, Marçal publicou um vídeo direcionado a Bolsonaro, em que o chama de “capitão” — como fazem os eleitores e aliados mais fiéis –, diz ter ouvido seus conselhos e entender que ele tinha de “manter a palavra” (em relação ao apoio a Nunes).

Nos comentários da publicação, que tem mais de 11 milhões de visualizações, bolsonaristas declaram apoio ao influenciador. “Esses eleitores preferem o estilo e o discurso do Marçal. É uma fatia da direita não se vê representada pelo prefeito, isso é um fato”, disse a cientista política Deisy Cioccari ao site IstoÉ.

Dias depois, o candidato do PRTB publicou uma foto ao lado de Eduardo Bolsonaro e sugeriu, na legenda, que o parlamentar não se sente representado pelo prefeito. “Aqui em São Paulo deixa que tiro essa cambada do PT, PMDB, PSOL, PSB, PSDB e outros ordinários. Nunes e Boulos não representam os nossos princípios e valores”, escreveu.

Comprometidos com a reeleição do emedebista, de quem indicaram o vice, os integrantes do grupo político de Bolsonaro tentaram “estancar a sangria”, com críticas e ironias públicas direcionadas ao ex-coach. Mas os esforços não parecem ter surtido efeito sobre os eleitores ouvidos pelo Datafolha. O resultado da pesquisa foi comemorado por Marçal: “Somos nós (o povo e deus) contra tudo e todos”.