SÃO PAULO, 10 MAI (ANSA) – Por Tatiana Girardi – Que o futebol brasileiro serviu de inspiração para diversos clubes italianos, isso é fato. Mas, muitos dos milhares de italianos que vieram em busca de uma nova vida no Brasil também deram sua contribuição para desenvolver o esporte bretão em território nacional.   

Até a década de 1920, cerca de 1,4 milhões de italianos vieram ao país e muitos deles se deslocaram para a capital de São Paulo, onde estabeleceram grupos e organizações que muito tinham a ver com a cultura que traziam na bagagem. Nesse cenário de adaptação e de busca por uma vida melhor, muitos clubes esportivos e recreativos foram criados para promover a integração da comunidade italiana com a brasileira, em uma troca de informações que ajudou a criar a imagem da maior metrópole do país.   

Entre alguns desses clubes que causaram uma interação entre as duas nações, está o time de várzea Associação Atlética Anhanguera, que foi objeto de um estudo da historiadora e doutoranda pelo Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP), Diana Mendes Machado da Silva. A especialista, que lançará seu livro “Futebol de Várzea em São Paulo” no próximo dia 12 de maio, estudou o clube entre 1928 e 1940 e constatou alguns pontos interessantes que ligam tanto a história do futebol como dos italianos que chegavam à capital paulista.   

Fundado por italianos, mas com uma forte ligação com o bairro da Barra Funda, o time foi um dos principais pontos de encontro dos imigrantes que chegaram ao país para morar e fazer uma nova vida em uma pátria distante.   

“Os imigrantes italianos não se viam como italianos ainda, porque vinham de várias regiões de uma Itália que tinha acabado de se unificar, que não tinha sua identidade nacional forte, e vinham aqui como calabreses, napolitanos, venezianos. E muitos deles ficavam na hospedaria da cidade, não só aqueles da península itálica, mas também espanhóis, portugueses”, explica a historiadora.   

Esse “agrupamento” na hospedaria, fazia com que eles conhecessem outros imigrantes que já moravam em bairros, se mudassem para a região dos “conhecidos” e replicassem no Brasil os padrões de vida que tinham na Itália.   

“O clube Anhanguera foi formado nessa mesma base. Muitos amigos de colônia e de família e o que acontecia, isso era muito comum naquela várzea e eles se reuniam para jogar futebol, para os bailes, etc.”, ressalta Silva.   

Como tinham como foco ficar em São Paulo, os clubes de várzea – tanto o Anhanguera como outros da região – abriam suas portas para pessoas de várias nacionalidades, provocando uma troca cultural e esportiva constante.   

“Eles aceitavam pessoas de todas as nacionalidades e você encontra também nomes de brasileiros. E pelas fotografias, você vê uma pluralidade. Isso não quer dizer que essa integração não tivesse conflitos […], que passavam pela cor, por uma questão de classe”, ressalta. No entanto, diz Silva, por conta de seu foco em um “clube de integração”, o Anhanguera não sofreu um taxamento de “clube de colônia”, mas sim como um local de comunidade. No âmbito esportivo, ao longo das décadas, o Anhanguera também proporcionou que alguns de seus jogadores fossem “profissionalizados” pelos maiores clubes da capital naqueles anos: Corinthians, Juventus e Palmeiras, explica a historiadora.   

Por conta da forte presença italiana, o Palmeiras – ainda na época do Palestra Itália – era o que mais pinçava esses jogadores, mas o intercâmbio com outros clubes era frequente. E essas negociações prosseguem até atualmente. A estrela palmeirense Gabriel Jesus, que hoje atua no Manchester City, foi descoberto, justamente, no Anhanguera. (ANSA)