Como os israelenses veem a guerra em Gaza e a situação dos palestinos?

Pesquisas mostram oposição ao conflito em alta em Israel, movida sobretudo pelo desejo de recuperar reféns e poupar soldados – e não necessariamente pela situação dos palestinos

Como os israelenses veem a guerra em Gaza e a situação dos palestinos?

À medida que o governo de Israel se prepara para expandir ainda mais a campanha militar na Faixa de Gaza, pesquisas indicam que cada vez mais israelenses vêm se opondo à continuidade do conflito e favorecendo a costura de um acordo com o Hamas para encerrar a guerra.

No último fim de semana, após quase dois anos de guerra, Israel foi palco de alguns dos maiores protestos contra a guerra no enclave palestino, com dezenas de milhares de israelenses saíndo às ruas para se manifestar.

O Hamas – considerado um grupo terrorista pela União Europeia, Alemanha, Estados Unidos e outros – ainda mantém cerca de 50 reféns israelenses na Faixa de Gaza, dos quais só 20 ainda permanecem vivos, segundo estimativa de Israel.

Associações de familiares de reféns afirmaram temer que o plano do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de ocupar a Cidade de Gaza coloque ainda mais em risco as vidas dos sequestrados.

“Sabemos que a única maneira de trazê-los de volta com vida é por meio de um acordo”, diz Naama Shueka, prima de Evyatar David, refém israelense visto recentemente em vídeo divulgado pelo Hamas. “Então estamos gritando: Por favor, parem [os combates].”

Pouco “incômodo” sobre Gaza

Desde outubro de 2023, as opiniões em Israel vêm se inclinando progressivamente ao apoio a um acordo com o Hamas. Segundo o Instituto Democracia de Israel (IDI), centro de estudos apartidário, o percentual de israelenses que achavam que o governo deveria negociar para libertar os reféns, incluindo se isso significasse encerrar os combates, passou de 17% a 53% no primeiro ano da guerra em Gaza.

Já em julho deste ano, uma pesquisa realizada pela rede de TV Keshet12 mostrou que 74% dos israelenses desejam que o governo faça um acordo com o Hamas.

Outra pesquisa do IDI mostrou, na mesma época, que 79% dos participantes israelenses judeus responderam não se sentir “incomodados” ou “muito incomodados” com os relatos de fome e sofrimento da população palestina em Gaza. Já entre os israelenses árabes, 86% disseram se sentir “muito incomodados” ou “um pouco incomodados”.

No passado, o IDI também perguntou aos israelenses qual seria o motivo mais importante para encerrar a guerra. Mais da metade respondeu que era importante libertar os reféns remanescentes, contra 6% que disseram que a guerra deveria acabar “pelo grande custo em vidas humanas” e pelo desejo de paz.

Posições extremas se amplificam

Mais pessoas estão falando agora sobre o que está acontecendo em Gaza, disse à DW um morador de Tel Aviv, que pediu anonimato devido à sensibilidade do assunto. “Mas o foco geral está nos reféns e nos soldados, e numa relutância em se envolver numa guerra sem fim.”

Para Tamir Sorek, professor da Pennsylvania State University, dos EUA, posições antes consideradas marginais e extremas sobre os territórios palestinos vêm migrando para o centro do debate.

Um estudo encomendado pelo pesquisador indicou que 82% dos israelenses judeus podiam imaginar a expulsão completa dos palestinos de Gaza.

Essas posições, diz Sorek, “ganharam força – e mais aceitação pública – à medida que as perspectivas de paz se desfizeram na década de 1990, a ansiedade existencial entre os israelenses cresceu e os sionistas religiosos ganharam mais poder político no século 21.”

Já uma pesquisa de março de 2025 do Pew Research Center, dos Estados Unidos, constatou que apenas 21% dos israelenses acreditam que Israel e um Estado palestino poderiam coexistir pacificamente. Foi o menor percentual desde 2013, segundo os pesquisadores.

Pedidos de paz

Há vozes em Israel, entretanto, que se levantam contra a guerra em Gaza em nome da paz. No último sábado (09/08), ativistas do movimento Standing Together, que afirma reunir israelenses e palestinos, interrompeu a transmissão do Big Brother Israel para pedir um cessar-fogo em Gaza.

Eles foram retirados à força do estúdio enquanto protestavam contra o envio de soldados israelenses à guerra e a crise de fome no território palestino.

Por sua vez, o escritor israelense Etgar Keret se manifesta há meses em favor do que chama de uma “razão universal, liberal e humanitária”. “Há pessoas em choque, com medo, que não sabem o que Netanyahu está fazendo”, argumenta, criticando a cobertura jornalística em Israel sobre a guerra em Gaza.

Mais de três quartos dos israelenses dizem ter visto “muitas ou algumas fotos ou vídeos” mostrando a destruição generalizada em Gaza, segundo outra pesquisa do IDI, de abril de 2025.