As eleições de domingo, 6, definiram disputas de segundo turno pelas prefeituras de 15 capitais brasileiras, mas deixaram de fora candidaturas populares que não ficaram entre as duas mais votadas nessas cidades.

O site IstoÉ levantou quais dessas novas disputas reúnem a menor proporção de votos no primeiro turno e explica, neste texto, como os apoios dos derrotados podem definir a eleição em 27 de outubro.

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David Almeida (Avante) e Capitão Alberto (PL) disputam segundo turno pela Prefeitura de Manaus
David Almeida (Avante), à esquerda, e Capitão Alberto Neto (PL) disputam o segundo turno em Manaus

Manaus

David Almeida (Avante) – 32,15% dos votos válidos

Capitão Alberto Neto (PL)24,95%

Total: 57,10%

Amom Mandel (Cidadania), com 19,10% dos votos, e Roberto Cidade (União Brasil), com 17,01%, travaram embate acirrado pelos votos restantes no domingo. Em seguida, Marcelo Ramos (PT) teve 6,03% e representa um polo importante — a militância petista manauara.

Desde a apuração, nenhum dos dois se posicionou publicamente. Ainda que seja difícil imaginar Amom ou Ramos no palanque bolsonarista de Alberto Neto, ambos são reconhecidos também pela oposição ao atual prefeito, que enfrenta o candidato do PL em 27 de outubro. Já Roberto Cidade representou o grupo do governador Wilson Lima (União) no pleito, um ex-aliado de David Almeida que rompeu com o incumbente.

Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme (Boulos) disputarão segundo turno em São Paulo | Montagem/IstoÉ
Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme (Boulos) disputarão segundo turno em São Paulo | Montagem/IstoÉ

São Paulo

Ricardo Nunes (MDB) – 29,48%

Guilherme Boulos (PSOL) – 29,06%

Total: 58,54%

No maior colégio eleitoral do país, a baixa proporção da soma que levou Nunes e Boulos ao segundo turno foi consequência direta do bom desempenho de Pablo Marçal (PRTB) nas urnas. Sem tempo de televisão e com as redes sociais bloqueadas por decisão da Justiça Eleitoral, o ex-coach conseguiu 28,14% dos votos válidos no domingo e os movimentos de seu eleitorado podem decidir a votação definitiva.

Embora a adesão ao candidato do PSOL seja menos esperada, Marçal fez duros ataques ao atual prefeito durante a campanha e associou um eventual apoio no segundo turno à absorção de suas propostas pelo incumbente. Em entrevista ao portal UOL na segunda, 7, o emedebista reconheceu que também ocupa o campo da direita, mas refutou a chance de ter o oponente em seu palanque. Nas redes sociais, apoiadores do ex-coach ameaçaram votar no psolista pela decepção com Nunes.

“A identificação do eleitor do Marçal é muito mais personalista do que com partidos ou ideias. Neste sentido, se ele quiser atacar Nunes no segundo turno, é possível que isso seja determinante para o resultado da eleição“, afirmou Gabriel Pires, analista de pesquisas do instituto Travessia, ao site IstoÉ. “A ala bolsonarista desses 28% deve migrar com facilidade para o prefeito, dado que a alternativa do PSOL, mas há uma imprevisibilidade no eleitorado diretamente identificado com Marçal”, concluiu.

Outra peça importante no tabuleiro é Tabata Amaral (PSB), que teve 9,91% no domingo. A parlamentar não tardou a declarar voto em Boulos no novo embate — apesar das críticas feitas a ele na reta final da campanha. “Tendencialmente, a Tabata irá transferir uma proporção maior de votos para Boulos do que para o atual prefeito“, disse Pires.

Fred Rodrigues (PL) e Sandro Mabel (União) disputarão segundo turno em Goiânia | Montagem/IstoÉ
Fred Rodrigues (PL) e Sandro Mabel (União) disputarão segundo turno em Goiânia | Montagem/IstoÉ

Goiânia

Fred Rodrigues (PL) – 31,14%

Sandro Mabel (União) – 27,66%

Total: 58,80%

A capital goiana terá um embate entre representantes de duas forças da direita — Rodrigues é um bolsonarista de primeira hora, enquanto Mabel é aliado do governador Ronaldo Caiado (União) –, mas ambos terão de mirar no eleitorado da petista Adriana Accorsi para conquistar a eleição: terceira na corrida, a deputada recebeu 24,44% dos votos válidos.

Após a apuração, Rodrigues descartou diálogo com o PT. Já Caiado falou de forma mais estratégica pelo aliado e defendeu “conversar com todo mundo” no segundo turno — Accorsi, vale lembrar, destacou em sua campanha a boa relação com o governador e evitou se associar às principais marcas do PT.

A transferência de voto ocorre de forma mais direta com eleitores mais ideológicos. No caso dos simpatizantes do PT em Goiânia, é possível inferir que vão preferir um candidato do União Brasil a um do PL. Mas, para a maior parte dos votantes, questões locais importam muito mais do que os cabos eleitorais e partidos nessa tomada de decisão“, disse Gabriel Pires.

Bruno Engler (PL) e Fuad Noman (PSD) disputarão segundo turno em Belo Horizonte | Montagem/IstoÉ
Bruno Engler (PL) e Fuad Noman (PSD) disputarão segundo turno em Belo Horizonte | Montagem/IstoÉ

Belo Horizonte

Bruno Engler (PL) – 34,38%

Fuad Noman (PSD) – 26,47%

Total: 60,95%

Em um movimento de antecipação do segundo turno, Fuad apelou ao “voto útil” e ganhou a adesão de políticos de PSB, Rede e PV, que estavam nas chapas de Gabriel Azevedo (MDB), que teve 10,55%, e Rogério Correia (PT), 4,37%, desidratando as duas candidaturas para reduzir as chances de um segundo turno entre “dois bolsonaristas”. Nesta terça, 8, o PT formalizou apoio à reeleição de Fuad, que tem a simpatia do presidente Lula (PT), e há expectativa de que o PDT de Duda Salabert, que teve 7,68%, reforce o palanque do atual prefeito — vereadores do partido lideram a base de seu governo na Câmara.

O apoio de Mauro Tramonte (Republicanos), terceiro colocado com 15,22% dos votos válidos, é uma incógnita. Embora a referência à chance de uma decisão entre dois bolsonaristas fosse justamente a ele, o apresentador não se associou ao ex-presidente na campanha e teve como principal cabo eleitoral o ex-prefeito Alexandre Kalil (Republicanos), apoiador de Lula.

Tramonte liderava as pesquisas de intenção de voto até a semana da eleição. Na avaliação de Rudá Ricci, cientista político e presidente do Instituto Cultiva, o fracasso de uma figura tão conhecida nas urnas deve ser creditado aos efeitos da polarização nacional. “O petismo é um movimento de muita chegada eleitoral, e se moveu em direção ao Fuad. E o bolsonarismo, embora não tenha se estruturado de maneira partidária, está demonstrando ter essa mesma força eleitoral”, disse ao site IstoÉ.