O surgimento do ChatGPT em novembro de 2022 modificou as buscas na internet e obrigou o Google, que domina o setor há 15 anos, a acelerar a integração dessa ferramenta, explicou em entrevista à AFP Kent Walker, diretor de Assuntos Globais do gigante americano.

Pergunta: Há um ano, o ChatGPT foi lançado. Qual foi o impacto para o Google?

Resposta: Se vocês têm usado o mecanismo de busca do Google, o Maps, o Google Translate ou o Gmail, já estão usando inteligência artificial (IA) há uma dúzia de anos. No ano passado, a IA se tornou mais visível. O aumento desses chatbots acelerou nosso trabalho e ampliou a aceitação popular da IA. Mas muitos dos novos avanços são baseados em artigos que publicamos desde 2012.

P: No entanto, os usuários da internet agora preferem usar o ChatGPT em vez do mecanismo de busca do Google. É uma ameaça?

R: Algumas dessas novas ferramentas de IA nem sempre são tão precisas quanto a busca tradicional. Elas sofrem o que é chamado de “alucinação”. Por isso, devemos usar nossa experiência em pesquisa para basear os resultados em informações precisas. E é por isso que estamos integrando a IA em nosso mecanismo de busca para obter o que chamamos de uma experiência de busca generativa, a fim de ter o melhor dos dois mundos.

P: O que pensa da futura lei sobre IA na União Europeia?

R: Concordamos com os governos francês, alemão e italiano, que recentemente publicaram um documento que diz que a lei sobre a IA deve se concentrar em uma resposta proporcional e baseada no risco, examinando seus usos específicos. O que está em jogo é muito diferente nos setores bancário, de saúde ou de transporte. Nós nos referimos ao que chamamos de uma abordagem de distribuição entre o centro e as conexões, onde existe um centro de experiência, mas onde cada agência reguladora deve entender o potencial e os riscos em seu campo. Esperamos poder nos associar aos governos para criar um ambiente legal que promova a inovação e a adoção por parte das empresas europeias. Foi notável ver 150 empresas líderes europeias dizerem que desejam uma regulamentação flexível.

P: Estamos vendo tentativas de censura em países como China, Arábia Saudita, Rússia e Irã. Você acredita que a internet sobreviverá como uma rede global?

R: A missão fundamental do Google foi tornar a informação global acessível de forma universal. Estamos sempre trabalhando para alcançar esse objetivo de maneira responsável.

P: Mas às vezes vocês aceitam a censura?

R: Estamos trabalhando arduamente para minimizar o impacto em nossos serviços. Em 2010, acabamos retirando nossos serviços da China devido ao regime de censura. Governos em todo o mundo exercem cada vez mais pressão, e reconhecemos que devemos cumprir as leis dos países onde operamos. Mas defendemos um maior acesso à informação sempre que possível. Esperamos que prevaleça a visão de uma rede de internet aberta e gratuita. Podemos compartilhar ideias e descobertas em poucos minutos. Uma geração atrás, isso levaria meses ou anos.

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