RESUMO

• Cidades com arenas prontas, rede hoteleira e saber técnico acumulado em grandes eventos ajudaram o Brasil na escolha da Fifa
• Torcida é para que a conquista impulsione os investimentos e melhore a estrutura para as meninas
• Desafio é conquistar título inédito, mesmo tendo a melhor jogadora do mundo

 

Com infra-estrutura certificada, profissionais formados desde o Pan do Rio 2007, tradição no futebol e sucesso entre os turistas estrangeiros atraídos pela Copa do Mundo 2014, o Brasil fez valer seu slogan de campanha – Uma Escolha Natural – e venceu o processo de escolha para ser a sede da Copa do Mundo Feminina 2027.

Pela primeira vez, a FIFA abriu a disputa a todas as federações nacionais. Na eleição realizada no congresso final, em Bangkok, na Tailândia, a candidatura sul-americana superou a europeia. O Brasil teve 119 dos 207 votos totais. A poderosa coligação formada por Bélgica, Holanda e Alemanha recebeu 78. Jogadoras, técnicos e dirigentes esperam que a conquista ajude a atrair investimentos, aprimorar a estrutura e elevar as remunerações do futebol feminino no País.

A escolha foi uma vitória de peso para gerações de brasileiras tiveram acesso vetado ao futebol nos últimos 40 anos. A proibição da prática do esporte, imposta às mulheres pelo presidente Getulio Vargas, caiu apenas em 1979, e a regulamentação só saiu quatro anos depois.

Para a ex-jogadora Formiga, que participou de sete Copas do Mundo (foi bronze nos EUA 1999 e prata na China 2007, e conquistou duas pratas olímpicas, em Atenas 2004 e Pequim 2008), presente na cerimônia da FIFA como convidada de honra, a sensação foi de “recompensa” pela luta e o trabalho das antecessoras.

Como o Brasil venceu a disputa para sediar a Copa do Mundo Feminina 2027
(Divulgação)

Como o Brasil venceu a disputa para sediar a Copa do Mundo Feminina 2027(Divulgação)

O longo processo

• Ricardo Trade, diretor-executivo na Copa 2014 e chefe de operações na edição do Catar 2022, levou à CBF, no início de 2023, a ideia de trazer ao Brasil a sede da Copa Feminina.
O projeto recebeu apoio do presidente Ednaldo Rodrigues, da então ministra do Esporte, a ex-jogadora de vôlei Ana Moser, e da federação sul-americana de futebol, a Conmenbol.
Após conseguir garantias do governo federal, dos estados e das dez cidades-sede, o Brasil recebeu o aval da FIFA para seguir com a candidatura.
No início, as articulações foram voltadas para a desistência da candidatura coligada EUA e México. Em seguida, a nota quatro da proposta brasileira, contra 3,7 da parceria europeia, ajudou a encaminhar a eleição.

Trade usou o conhecimento acumulado nos eventos anteriores para pavimentar a candidatura brasileira conquistando, na diplomacia, votos decisivos em federações asiáticas e africanas.

“Além do apoio da CBF e dos governos, o Brasil possui estádios e centros de treinamento prontos, aeroportos em boas condições e rede de hotelaria capacitada nas cidades-sede”, enumera o dirigente. “O legado de conhecimento que reunimos em competições anteriores, formando profissionais especializados em grandes eventos esportivos, do Pan 2007 à Copa 2014 e, depois, nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, contribuiu decisivamente para a escolha do Brasil”.

Um exemplo dessa capacidade: nada menos do que 331 dos 1,5 mil funcionários da Copa do Catar 2022 eram brasileiros.

Como o Brasil venceu a disputa para sediar a Copa do Mundo Feminina 2027
Seleção tentará seu primeiro título mundial feminino em casa. Os Estados Unidos têm quatro conquistas e a Alemanha duas. Japão, Noruega e Espanha venceram uma vez (Crédito:Divulgação )

A logística e o desafio

No Brasil, e pela primeira vez na América do Sul, a Copa Feminina terá 32 seleções disputando jogos em dez das doze cidades do Mundial masculino de 2014 (ficaram de fora apenas Natal e Curitiba).

A abertura e a final estão programadas para o Maracanã.

Como sede, o Brasil tem vaga assegurada na competição.

Os Estados Unidos conquistaram a Copa Feminina quatro vezes, a Alemanha duas, e Japão, Noruega e Espanha, atual campeã, uma vez cada.

A edição mais recente, disputada na Austrália e na Nova Zelândia 2023, gerou, de acordo com a associação australiana de futebol, um impacto econômico de 1,32 bilhão de dólares australianos, algo em torno de R$ 4,5 bilhões.

Setenta por cento da população da Austrália acompanhou os jogos pela tevê e 90 mil turistas internacionais visitaram o país durante a disputa. Foram estimados ainda 324 milhões de dólares australianos (R$ 1,4 bilhão) em ganhos adicionais e redução de custos.

Como o Brasil venceu a disputa para sediar a Copa do Mundo Feminina 2027
A CBF vai aproveitar a grande oferta de profissionais especializados em eventos esportivos, formados do Pan Rio 2007 aos Jogos de 2016, para realizar a Copa Feminina no País (Crédito:Rafael Ribeiro/CBF)

Os efeitos da escolha do Brasil começam a ser sentidos nas competições internas. Após a final do Campeonato Paulista, que levou 40.235 pessoas à Neoquímica Arena, o estádio do Corinthians, a nova edição do torneio começou na terça- feira 21, com onze times, transmissão de cinco veículos de comunicação e R$ 3,23 milhões distribuídos às equipes participantes.

O Corinthians defende o título conquistado sobre o São Paulo em novembro passado, no mesmo estádio e com público semelhante. As Brabas, como são chamadas as meninas corintianas, conquistaram o quinto título do Brasileiro em setembro passado, contra a Ferroviária, e seguem na liderança da primeira fase do Brasileiro 2024.

A Seleção Brasileira, convocada pelo técnico Arthur Elias, se apresentará no Recife na segunda-feira (27) para amistosos nos dias 1o e 4 de junho, contra a Jamaica, em preparação para a estreia nos Jogos Olímpicos de Paris contra a Nigéria, em 25 de julho. Terá Marta, 38 anos, cinco vezes eleita a melhor do mundo pela FIFA, que pretendia encerrar carreira em Paris. Isso antes do Brasil ganhar a sede da Copa 2027. A conferir as cenas do próximo capítulo protagonizadas pela Rainha.