Com 80 anos de atuação no setor financeiro, o Banco Mercantil atua em sete estados e no Distrito Federal, atende mais de 7 milhões de clientes e conta com pontos de atendimento em mais de 200 cidades brasileiras. No segundo semestre deste ano, o banco firmou uma parceria com o Google Cloud para migração de sua infraestrutura de TI para a nuvem. Para entender melhor este processo, conversamos com Felipe Boff, vice-presidente de Produtos, Tecnologia e Serviços do banco. Confira a seguir a conversa.

Quais as razões que levaram o banco a avaliar e implementar este processo de migração para a nuvem?

Ao longo dos últimos quatro anos, reforçamos o processo de digitalização do banco. E o objetivo principal é levar os benefícios da tecnologia para um público que não é necessariamente tão íntimo dela.

Como o Banco Mercantil está migrando para a nuvem
Boff, do Banco Mercantil: aposta na nuvem para acelerar inovação (Crédito:Divulgação)

Nesse sentido, a migração para a nuvem é uma etapa fundamental deste processo. Atualmente temos dois data centers em Belo Horizonte, mas nossos clientes estão também em outras partes do País. Com a migração para a nuvem, conseguimos distribuir nossa capacidade de processamento por vários lugares, e isso no fim das contas resulta em mais rapidez no acesso aos serviços para o cliente. Esse é um exemplo de ganho da operação na nuvem.

Além disso, há a questão dos avanços tecnológicos. Fizemos alguns estudos juntos com o Gartner e observamos que novas tecnologias e ferramentas já ficam disponíveis primeiro nas plataformas de nuvem, em relação a instalações on-premises. Inclusive alguns serviços criados por outras empresas – desde que não infrinjam questões de patentes, exclusividade ou direitos autorais – também são oferecidos nas plataformas de nuvem para outros clientes.

Ou seja, ao adotar a nuvem temos acesso mais fácil e rápido a inovações, como ferramentas de Inteligência Artificial.

Em relação à atual infraestrutura de TI do banco, como será o processo de migração?

Como boa parte dos bancos brasileiros, usamos uma plataforma de mainframe baseada em COBOL. E nos últimos três anos já viemos preparando este componente para interagir melhor com outros sistemas e para uma possível migração para a nuvem.

Mas a questão aí é que o mainframe não lida muito bem com operações com tempo de resposta muito grande entre os diferentes servidores envolvidos em uma transação. Para resolver isso, avaliamos opções como reescrever as aplicações do mainframe, usar plataformas de migração de software, entre outras alternativas.

Fizemos alguns testes, investimos algum dinheiro nesses processos. Mas no fim entendemos que não existe hoje uma tecnologia para fazer essa migração de forma tão rápida, estruturada ou automática quanto desejávamos.

Foi aí que começamos a discutir com os provedores de cloud: e se nós levássemos fisicamente nosso mainframe para dentro das suas instalações? Assim, resolveríamos o problema de latência e manteríamos o controle das aplicações do mainframe sem a necessidade de alterações.

E essa solução acabou evoluindo muito bem com o Google Cloud. Nesse processo, haverá um espaço na região de nuvem do Google Cloud aqui no Brasil para o mainframe. Além da infraestrutura necessária para conectar o mainframe ao ambiente de cloud.

É um processo muito complexo colocar um hardware de um cliente dentro do data center de um provedor de nuvem. São muitos procedimentos de segurança e logística envolvidos. E o Google Cloud se mostrou disposto a fazer isso.

E como será feita essa migração?

Nessa operação, a máquina é desligada, embalada e despachada para entrega em uma sexta feira, e entregue no novo local físico no sábado, onde é instalada e religada no domingo, voltando a operar na segunda-feira. O banco tem mais de um mainframe, então a operação dos serviços não sofre nenhum impacto durante o transporte de uma unidade.

E além do mainframe, como será a migração das outras estruturas e aplicações?

Acho que um ponto fundamental desse processo é que tomamos a decisão de não termos mais data centers próprios. Estes dois que atualmente existem em BH serão desativados até o fim do processo de 5 anos, que é o prazo desta etapa da parceria com o Google Cloud. Apenas o mainframe vai permanecer, mas como já comentado ele será integrado fisicamente à nuvem.

Em relação às aplicações, nosso objetivo é que, daqui a 12 meses, cerca 60% de toda a carga de processamento do banco já rode na nuvem. E até o fim do contrato de 5 anos todas as aplicações devem rodar na nuvem, já que não teremos mais data centers próprios.

Atualmente consideramos que o Banco Mercantil tem cerca de 500 aplicações que interagem com nossos dados. Mas algumas aplicações são externas e não estão sob nosso controle. Mas entre aquelas que estão sob nossa gestão, todas irão para a nuvem.

No processo de migração das aplicações, sempre olhamos pela ótica de maior impacto e menor esforço. Dentro dessa visão, nossa maior vertente de crescimento é de clientes de carteira de crédito, e isso claro tem um impacto direto no número de transações processadas pelo banco. Temos um novo canal de vendas no WhatsApp que movimenta mais de R$ 100 milhões por mês. É um canal que vem crescendo muito.

Esses são exemplos de aplicações que vamos migrar primeiro para a nuvem. Aplicações com alto volume e que tem uma carga de dados que oscila ao longo do mês. A quantidade de dados varia com fatores como datas de depósitos de salário, pagamento de contas etc. No meu ambiente antigo on-premises, rodávamos o mês todo em cima de uma capacidade disponível constante. Já dentro da cloud eu posso ajustar essa capacidade.

Nesse processo de migração, como o banco está lidando com questões relativas à proteção de dados?

Para empresas do setor financeiro, existem basicamente três etapas nesse processo. A primeira é selecionar provedores que obedeçam às regras de acesso a dados do Banco Central. Essa regra permite contratar provedores baseados fora do Brasil, desde que os países onde ficarão os dados tenham acordos de acesso a dados com o governo brasileiro.

Ou seja, seria possível para nós hospedarmos lá fora. Mas aí você cria um problema de velocidade no acesso aos dados. Por isso, optamos por hospedar todos os nossos dados no Brasil.

A segunda etapa é, após a escolha do provedor, comunicar ao Banco Central o plano de migração, fornecer as documentações, contratos etc. E aí aguardar uma aprovação.

O terceiro passo é cumprir as auditorias que verificam se a lei está sendo cumprida. Então temos auditorias internas e externas para comprovar que o que foi comunicado ao BC está sendo cumprido.