24/11/2024 - 22:42
Ao menos 55 áudios que circulavam em grupo de militares de alta patente mostram como eles preparavam uma trama golpista após o segundo turno das eleições de 2022. O programa Fantástico, da TV Globo, deste domingo, dia 24, mostrou os diálogos que foram importantes para a investigação da PF (Polícia Federal).
De acordo com a PF, Mário Fernandes, general da reserva e ex-número 2 da Secretária-Geral da Presidência, foi quem articulou o plano. A trama envolvia uma conspiração para matar o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, seu vice, Geraldo Alckmin e o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.
“Qualquer solução, caveira, tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, sem quebrar cristais”, diz áudio atribuído ao general Mário Fernandes. “Tá na cara que houve fraude. Tá na cara. Não dá mais pra gente aguardar essa p…”, disse Fernandes de forma exaltada.
O áudio é de 4 de novembro de 2022. Nele, ele alega, sem provas, que houve fraude na eleição. Pessoas próximas a ele e oficiais do Exército responderam assim: “Eu tô pedindo a Deus pra que o presidente tome uma ação enérgica e vamos, sim, pro vale tudo. E eu tô pronto a morrer por isso”, afirma participante do grupo, que não foi identificado.
“O presidente tem que fazer uma reunião com o petit comité. Esse pessoal acima da linha da ética não pode estar nessa reunião. Tem que ser a rataria. Tem que debater o que vai ser feito”, afirma um oficial do Exército.
Acampamentos
A investigação mostrou também que os acampamentos em frente a quarteis no final de 2022 faziam parte de um movimento orquestrado pelos militares. O general Mário Fernandes se comunicava de maneira frequente com os grupos.
“Talvez seja isso que o alto comando, que a defesa quer. O clamor popular, como foi em 64. Nem que seja pra inflamar a massa. Para que ela se mantenha nas ruas”, disse o general em áudios que circulavam nos grupos que queriam o golpe.
“Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição? Qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro. Tudo. Mas aí na hora: pô, presidente. A gente já perdeu tantas oportunidades”, mostra outro áudio. Nela, ele fala sobre uma conversa que teve com o então presidente Jair Bolsonaro, sobre a diplomação da chapa Lula e Alckimin.
No dia 12 de dezembro, data da diplomação, manifestantes tentaram invadir o prédio da PF e incendiaram carros e ônibus em Brasília. “O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o c… Quatro linhas da constituição é o c… Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa”, disse um oficial do Exército.
A investigação mostrou que o agente da Polícia Federal Wladimir Matos informou ao grupo que planejava o golpe de estado algumas informações sobre a equipe de segurança e a localização de Lula.
Concluída pela PF na última quinta-feira (21), a investigação levou ao indiciamento de 37 pessoas, entre elas o ex-presidente Jair Bolsonaro, o general Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro; Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; Valdemar Costa Neto, presidente do PL; e Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência.