O empresário Elon Musk anunciou a saída do Departamento de Eficiência Governamental dos Estados Unidos depois de apenas cinco meses no cargo.
Em uma atuação polêmica e responsável por altos cortes orçamentários, Musk se retira da gestão de Donald Trump acompanhado de especulações sobre possíveis atritos. Apesar disso, o republicano elogiou a trajetória do aliado e pressentiu um eventual retorno no anúncio oficial da saída.
Neste texto, a IstoÉ elenca os principais episódios da passagem do bilionário pela Casa Branca.
Como Musk chegou ao cargo
Proprietário de uma fabricante de veículos elétricos — a Tesla –, uma empresa de foguetes — a SpaceX — e uma rede social — o X (antigo Twitter) —, Musk não havia se envolvido efetivamente com política até 2024, à exceção de declarações de apoio a ideias que foram do liberalismo ao extremismo conservador.
No ano passado, o bilionário sul-africano fez discursos remotos em comícios nas eleições da Alemanha e Reino Unido, além de ter se reunido com o primeiro-ministro da Hungria. Em todas as passagens, os apoios foram ligados a políticos e lideranças da direita radical.
Na campanha eleitoral americana, em que Trump enfrentou a democrata Kamala Harris, alterações na política de conteúdo do X devolveram o acesso a contas ligadas ao extremismo, anteriormente derrubadas por materiais contrários aos direitos humanos, em movimento que fortaleceu a militância digital pelo republicano.
Musk passou a acompanhar Trump em viagens pelos EUA, subir em palanques e fazer discursos, assumindo o papel efetivo de “cabo eleitoral”. Além do apoio vocal, o empresário doou US$ 259 milhões (cerca de R$ 1,4 bilhão, pela cotação atual) à campanha do republicano, segundo dados da Comissão Eleitoral Federal.
Com protagonismo nos palanques e na conta bancária de uma candidatura que triunfou nas urnas, a projeção de que Musk ganhasse um cargo no governo cresceu. Em 12 de novembro, Trump oficializou a ideia e anunciou a criação de uma nova estrutura para o aliado comandar: o Departamento de Eficiência Governamental, com o objetivo declarado de “desmantelar a burocracia do governo, reduza os excessos de regulamentação, corte gastos desnecessários e reestruture as agências federais”.
Gestão sob críticas
Desde que tomou posse para seu segundo mandato, Trump foi claro ao dar “carta branca” para o bilionário executar mudanças exponenciais nos recursos do governo federal.
Em um discurso na Casa Branca, com um boné estampado “Make America Great Again” (Faça a América grande novamente, lema eleitoral de Trump) e o presidente sentado numa cadeira, Musk discursou em nome da gestão. “Temos um déficit de US$ 2 trilhões e, se não fizermos algo a respeito, o país irá à falência”, afirmou.
Questionado por repórteres sobre os conflitos de interesse imbuídos na responsabilidade de rever contratos da gestão — vários deles envolvem suas empresas —, o bilionário se comprometeu a tentar ser “o mais transparente possível” no cargo.
Cortes de custos e declarações questionáveis
A empreitada política do empresário tomou forma rapidamente e, em menos de um mês de atuação, ele anunciou a demissão de 10 mil trabalhadores de diversas áreas da administração federal.
Com o consentimento de Donald Trump, de 1 mil a 2 mil servidores do Departamento de Energia foram desligados, incluindo supervisores de estoque nuclear. Já o Departamento do Interior, que cuida de terras e parques nacionais, sofreu baixas superiores a 2 mil demissões.
Outros setores considerados “essenciais” para a manutenção pública – como Departamento da Agricultura, Centro de Controle e Prevenção de Doenças, Assuntos de Veteranos, Administração de Pequenas Empresas e Educação – também foram fortemente afetados pelos cortes do DOGE. A maioria dos funcionários acometidos estava em período probatório, o que os torna ainda mais vulneráveis em contextos trabalhistas.
Outro alvo evidente da gestão foi a USaid (Agência de Desenvolvimento Internacional), que teve cerca de 90% dos empregados colocados em licença. A organização é utilizada para destinar recursos a outros governos e oferecer ajuda humanitária internacional, mas perdeu grande parte do financiamento após as deliberações de Elon Musk. O bilionário chegou a classificar a USaid como “criminosa”.
Uso de Inteligência Artificial
Ligado a diferentes empreendimentos tecnológicos, Musk sempre deixou evidente sua intenção de incorporar sistemas de Inteligência Artificial na gestão da Casa Branca.
Dentro da Administração de Serviços Gerais (GSA), aliados do empresário defendem o uso de IA para avaliar contratos, documentos governamentais, detectar áreas de desperdício e possíveis fraudes. Além disso, informações da Reuters indicam que o DOGE emprega chatbots desenvolvidos por corporativas do próprio Musk para otimizar processos e analisar dados.
Saída e relação com Trump
Após apenas cinco meses no cargo, Elon Musk anunciou sua saída do Departamento de Eficiência Governamental. Na última sexta, 30, o bilionário se despediu da gestão americana e chegou a ser elogiado pelo presidente Donald Trump: “Ele fez um trabalho fantástico”, avaliou o republicano.
Questionado sobre a presença de algum atrito que pudesse ter motivado a partida do empresário, Trump negou e afirmou ter um “pressentimento” de que Musk voltará ao governo no futuro.
Apesar das declarações, disparidades entre Musk e Trump em relação às tarifas e medidas protecionistas geraram especulações sobre um possível desgaste – nos últimos meses, o bilionário criticou abertamente a agenda de isenções fiscais, tributação de produtos estrangeiros e aumento nos gastos com a Defesa promovida pelo republicano.
Quando entrou no governo, Musk prometeu uma economia de pelo menos US$ 2 trilhões no orçamento federal. Com pouco tempo de atuação, o empresário finaliza o cargo com menos de 10% realizado, tendo a economia de US$ 175 bilhões.