Como fica o debate sobre as câmeras corporais após os abusos da PM de São Paulo

Como fica o debate sobre as câmeras corporais após os abusos da PM de São Paulo

Após a Polícia Militar de São Paulo protagonizar ao menos quatro episódios de abuso de força em um mês — ações de seus agentes culminaram nas mortes de um jovem que tentou furtar um supermercado, uma criança de 4 anos e um estudante de medicina e no arremesso de um rapaz de uma ponte –, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse que estava “completamente errado” sobre o uso de câmeras corporais por agentes da corporação. Os excessos foram captados por câmeras de segurança e filmagens de transeuntes.

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Para Melina Risso, diretora de pesquisa do Instituto Igarapé e co-autora do livro “Segurança Pública para virar o jogo”, a mudança de opinião poderá permitir a retomada de uma política “muito efetiva para garantir maior segurança e reduzir a letalidade policial”. Desde a campanha em que foi eleito, Tarcísio era crítico à medida.

O bom policial quer a câmera como um mecanismo de defesa de sua conduta. Os agentes que afirmam que elas limitam seu trabalho perderam o entendimento do papel da Segurança Pública. Seria ingênuo acreditar que a atividade dispensa o uso da força, mas os abusos tiram a legitimidade da polícia”, disse ao site IstoÉ.

Antes dos episódios recentes, a PM paulista matou 496 pessoas entre janeiro e setembro de 2024, maior número para o período desde 2020, quando houve 575 óbitos do tipo. Mesmo à frente da quebra de uma tendência de redução da letalidade policial no estado, o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite (PP), seguiu prestigiado no governo e até cotado para voos mais altos em 2026.

Para a pesquisadora, os números indicam um “padrão de violência policial” que está diretamente relacionado ao desabono de políticas como o uso das câmeras, o investimento em armamento não-letal e o envolvimento da cúpula das tropas com as investigações de abusos.

“Nós vivíamos um processo de redução da letalidade policial [antes do atual mandato], mas houve uma mudança de paradigma. Da liderança política às medidas concretas nas ruas, tudo faz parte dessa quebra”, disse Risso.