Os EUA têm uma longa história de amor e ódio pelos seus magnatas, capazes de transformar o país, acumular um poder desmedido e depois enfrentar a ruína. Rockefeller dominou a indústria do petróleo na virada do século XX, até que a lei antitruste quebrou seu império. Howard Hugues foi um visionário que antecipou a revolução aeronáutica e a capacidade transformadora do cinema. William Randolph Hearst, o poderoso chefão da imprensa, foi imortalizado como Cidadão Kane por Orson Welles no apogeu de Hollywood, logo antes de os grandes estúdios serem também dizimados por uma lei antitruste.

Elon Musk representa a nova geração dos bilionários, que acumularam fortunas por meio de startups surfando na revolução tecnológica e na internet. Ao mudar o paradigma dos transportes com os carros elétricos e digitais, ele criou a Tesla, uma companhia hoje mais valiosa que a centenária General Motors. Com a Space X, ele quis inventar a exploração espacial comercial. Como acontece com frequência nesse universo de fantasia dos unicórnios criados por Wall Street, Musk vende terrenos na Lua (em Marte, no caso), costuma blefar e vive de mistificação. Até hoje deu certo, o que pode torná-lo em breve o primeiro trilionário do planeta.

Ao comprar o Twitter por US$ 44 bilhões, ele dobra sua aposta e deseja dominar também o mundo da comunicação moderna, as redes sociais. Seu colega Jeff Bezos, da gigante Amazon, foi mais modesto e responsável: comprou e salvou o “Washington Post”, jornal que ajudou a moldar a democracia americana nos últimos 50 anos. Já Musk não tem nenhum apreço pelo desenvolvimento da democracia e nem ambições comerciais com a nova aquisição. Quer radicalizar o sonho libertário da direita alternativa, que tenta implodir a imprensa e minar o sistema de freios e contrapesos estabelecido pela democracia americana há 200 anos. Quer reinar no mundo que emergirá do caos disruptivo.

Os sinais são evidentes. Para fugir do controle da sociedade (e dos impostos), Musk transferiu sua empresa da Califórnia para o Texas. Simbolicamente, abandonou o oásis criativo do vale do Silício para se estabelecer no reduto político do reacionarismo. Já foi investigado por usar o próprio Twitter para manipular as ações da Tesla. Sua ânsia por se libertar das amarras da regulação corporativa e, agora, da própria regulação das big techs, gerou o impulso para se apoderar da rede social mais barulhenta e potente.

Gigantes tecnológicos como o Twitter e o Facebook estão sob pesado escrutínio desde que ficou claro seu papel nocivo. Meia dúzia de empresas, controladas por menos de 10 pessoas, são capazes de derrubar governos, fomentar movimentos políticos, criar tendências e consolidar convenções sociais. Tudo por meio de manipulação de algoritmos secretos que semeiam o ódio e o extremismo, gerando lucros. Não é à toa que os seguidores de Trump exultaram com a possibilidade de o Twitter voltar a ser usado como arma política e pelos bolsonaristas que sonham em fraudar as eleições de outubro por meio do submundo das redes sociais.