Como é o complexo nuclear do Irã que foi alvo de ‘superbomba’ dos EUA

Encravado nas profundezas de uma montanha, complexo de Fordow representava desafio militar para os israelenses. EUA usaram superbomba antibunker em ataque.

Como é o complexo nuclear do Irã que foi alvo de 'superbomba' dos EUA

Ao anunciar a entrada dos EUA na campanha militar israelense contra o Irã, o presidente Donald Trump afirmou que suas forças destruíram completamente três instalações nucleares do regime de Teerã. Entre os alvos, estava o complexo subterrâneo de Fordow.

“Concluímos nosso ataque muito bem-sucedido às três instalações nucleares do Irã, incluindo Fordow, Natanz e Isfahan. Todos os aviões estão agora fora do espaço aéreo do Irã. Uma carga completa de bombas foi lançada no local principal, Fordow”, disse Trump, em uma publicação nas redes sociais.

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Situada em uma região montanhosa ao sul de Teerã, Fordow era o principal obstáculo à meta autodeclarada de Israel de inviabilizar o programa de enriquecimento de urânio do Irã e impedir que o país desenvolva armas de destruição em massa.

Desde que lançou sua ofensiva militar, Israel já havia conseguido danificar os centros nucleares de Natanz e Isfahan, onde o regime fundamentalista de Teerã acumulava altos níveis de urânio enriquecido a 60% de pureza.

O complexo nuclear de Fordow, porém, havia passado praticamente ileso desde o início da campanha israelense, em 13 de junho, de acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Foi lá que, em 2023, a agência da ONU anunciou ter encontrado partículas de urânio enriquecido a um grau de 83,7% de pureza – próximo dos 90% necessários ao desenvolvimento de armas nucleares.

Ao contrário das demais instalações, acredita-se que Fordow tenha sido construída 100 metros abaixo do solo, a partir de uma estrutura de túneis usados pela elite da Guarda Revolucionária Islâmica, pilar de sustentação do regime.

Tal profundidade fornecia uma proteção natural contra ataques aéreos israelenses. Esse aspecto, segundo análises que circularam na imprensa, teria levado o presidente dos EUA, Donald Trump, a reconsiderar seu nível de envolvimento direto no conflito.

Israel possui armas de destruição de bunkers já usadas, por exemplo, contra alvos da milícia libanesa Hezbollah. No entanto, seu poder explosivo era insuficiente para um ataque a Fordow.

Segundo a imprensa americana, no ataque lançado neste fim de semana, os EUA empregaram uma superbomba antibunker para atingir o complexo: a poderosa GBU-57. O explosivo, de 13,6 toneladas, é capaz de penetrar até 61 metros de rocha ou 18 metros de concreto antes de detonar.

Fordow se valia de montanha como defesa natural

Situada em uma antiga base militar perto da cidade de Qom, Fordow foi construída secretamente no início dos anos 2000.

A comunidade internacional sabia das atividades operadas nas profundezas da região montanhosa ao menos desde 2009, após a República Islâmica reconhecer sua existência.

Ao menos 3 mil centrífugas de enriquecimento de urânio teriam sido dispostas no subterrâneo, distribuídas em dois túneis principais. Imagens de satélite mostraram que acima da superfície havia apenas um edifício de apoio e seis entradas subterrâneas.

Embora Fordow fosse considerado um complexo menor do que Natanz, ele teria sido projetado para produzir graus mais puros de urânio, o que o tornava militarmente mais significativo.

Antes do início da ofensiva israelense, o Irã havia anunciado um plano de modernizar as estruturas do local.

A bomba GBU-57

A mídia estatal iraniana confirmou neste domingo que parte do complexo de Fordow, assim como as instalações nucleares de Isfahan e Natanz, foram atacadas, mas negou que os locais tenham sofrido danos decisivos.

Trump evitou fornecer detalhes sobre como foram executados os ataques. A imprensa dos EUA, citando fontes da Casa Branca, relata que a operação empregou seis bombardeios B-2 e dezenas de mísseis disparados a partir de submarinos.

No caso do ataque à instalação nuclear de Fordow, os EUA teriam empregado mais de uma dúzia de bombas GBU-57, conhecida como “destruidora de bunkers”.

Devido ao seu peso e forma de operação, o explosivo antibunker de 6,2 metros de comprimento precisava ser lançado a 12 quilômetros de altura a partir da única aeronave capaz de carregá-lo: o bombardeiro americano B-2.

Eficácia?

Em um breve pronunciamento, Trump anunciou que os aviões dos EUA “obliteraram” as três instalações nucleares iranianas, incluindo Fordow.

Mas ainda não está claro se a operação conseguiu mesmo destruir o complexo subterrâneo. Antes do ataque, não havia consenso entre especialistas sobre a eficácia do uso da bomba GBU-57 no caso de Fordow, já que, além de estar situada em uma profundidade aparentemente superior ao alcance da bomba, a instalação também possuiria uma estrutura interna reforçada com concreto armado.

Estruturas de concreto também poderiam barrar o avanço da GBU-57 no subsolo.

Nas horas seguintes ao ataque ao Irã, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU disse no que não detectou nenhum aumento nos níveis de radiação nas imediações das principais instalações nucleares.

“Após os ataques a três instalações nucleares no Irã (…) a AIEA pode confirmar que nenhum aumento nos níveis de radiação fora do local foi relatado até o momento”, publicou o órgão de inspeção nuclear na rede X.

(afp, ap, dw, ots)