Líderes ideologicamente alinhados, como Javier Milei na Argentina e Donald Trump nos Estados Unidos, não desistem do apoio a Jair Bolsonaro — réu no Supremo Tribunal Federal por suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022 — enquanto intensificam críticas e pressões por medidas contra o ministro Alexandre de Moraes.
Há tempos que aliados do ex-presidente buscam assistência fora do País para que o julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre uma suposta trama golpista seja considerado ilegítimo. Ele e outros sete réus são acusados de tentar impor um golpe de Estado após as eleições de 2022, a fim de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os ânimos foram reenergizados na última segunda-feira, 7, após uma publicação de Trump em defesa de Jair Bolsonaro, alegando que o brasileiro é vítima de uma “caça às bruxas” – termo já usado pelo republicano para se referir ao tratamento que ele mesmo recebeu de oponentes políticos. Ele afirma que o ex-líder não é culpado de nada e que sofre perseguição.
“O único julgamento que deve acontecer é o julgamento pelos eleitores no Brasil – chama-se eleição. DEIXE BOLSONARO EM PAZ!”, escreveu na rede Truth Social em referência ao julgamento de Bolsonaro.
O principal nome que permanece na mira de bolsonaristas é o de Alexandre de Moraes. Figura importante do Poder Judiciário, o magistrado está envolvido em casos de relevância internacional e é criticado vorazmente por blocos de direita. Por ser relator do julgamento de Jair Bolsonaro, é visto como encabeçador da suposta “perseguição” sofrida pelo ex-chefe.
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Reações bolsonaristas
A declaração de Donald Trump foi recebida com satisfação por aliados e até pelo próprio Jair Bolsonaro. O ex-presidente comemorou a postagem e disse à CNN que o republicano é um “grande chefe de Estado com o qual convivi por dois anos, sempre defendendo nossas nações e a liberdade”. Ele alega que o processo pelo qual passa no Brasil é fruto de perseguição política.
Na mesma linha, o governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também compartilhou a postagem do americano e acrescentou: “Jair Bolsonaro deve ser julgado somente pelo povo brasileiro, durante as eleições. Força, presidente!”.
Com a palavra, presidente @realDonaldTrump . @jairbolsonaro deve ser julgado somente pelo povo brasileiro, durante as eleições. Força, presidente! pic.twitter.com/XSFz0nO1LI
— Tarcísio Gomes de Freitas (@tarcisiogdf) July 7, 2025
Além deles, o filho do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro, intensificou o discurso contra o ministro do STF Alexandre de Moraes após a postagem de Trump. Ele ressaltou o comentário do republicano e celebrou como o Brasil “tem espaço na agenda da maior potência bélica e econômica do mundo”.
É importante lembrar que Eduardo se licenciou do mandato como deputado federal para permanecer nos Estados Unidos e articular eventuais punições por parte do governo americano em cima de Moraes.
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Busca por retaliação
O movimento de Eduardo Bolsonaro, que procura apoio internacional, não é isolado. Diversos aliados do ex-presidente clamam por retaliações contra magistrados brasileiros, quem eles consideram arbitrários. O maior alvo é Alexandre de Moraes, que é relator do julgamento de Bolsonaro no STF.
As punitivas reivindicadas pelos bolsonaristas são baseadas na Lei Magnitsky. Trata-se de uma legislação dos EUA que permite ao governo estadunidense impor sanções econômicas e restrições de visto a estrangeiros relacionados com corrupção ou graves violações de direitos humanos. As medidas incluem bloqueio de bens e contas em território americano e mesmo a proibição da entrada no país.
Essa possibilidade já foi classificada como afrontosa à soberania nacional por políticos da base, como a ministra das Relações Institucionais do governo Lula (PT), Gleisi Hoffmann, e o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ), líder da bancada petista na Câmara.
Autoridades americanas contra Moraes
As próprias autoridades dos EUA já sinalizaram possibilidade de retaliar Moraes com base na Lei Magnitsky. Em maio, durante Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes, o congressista Cory Mills perguntou ao secretário de Estado, Marco Rubio, sobre reações do governo americano à suposta “perseguição” promovida pela Suprema Corte brasileira contra opositores, jornalistas e o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Rubio, por sua vez, respondeu que existiam chances para que Moares fosse punido.“Isso está sob análise neste momento e há uma grande possibilidade de que isso aconteça”, disparou.
Em outro episódio, em fevereiro, o Departamento de Estado dos Estados Unidos criticou o bloqueio de redes sociais norte-americanas pelo Brasil, classificando as decisões como “censura”. O órgão, equivalente ao Ministério das Relações Exteriores, fez uma publicação no X afirmando que tais ações são “incompatíveis com os valores democráticos”. A publicação foi compartilhada pela Embaixada dos Estados Unidos no Brasil. Apesar de não citar diretamente Moraes, o texto fazia referência à decisão do magistrado brasileiro sobre a plataforma Rumble.
Postagem de Trump agita brasileiros: quais as chances reais de retaliações?
Apesar das declarações de Trump terem reanimado parte dos apoiadores de Jair Bolsonaro em relação à possibilidade de punir Moraes, grande parte dos analistas internacionais enxergam que esse cenário é pouco provável.
O próprio ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, disse “não acreditar” nas sanções contra o magistrado, apesar das ameaças do governo americano. Segundo falou à Folha de S. Paulo, mesmo que as retaliações aconteçam, o País deve “virar as costas e seguir” com a regulação das redes sociais e demais políticas internas.
O diretor sênior da Humans Rights First – organização de direitos humanos dos EUA – Adam Keith, chegou a dizer À BBC que a Lei Magnitsky só foi usada contra ditaduras violentas e que “fora desse tipo de contexto, sancionar um juiz por suas decisões judiciais provavelmente seria um uso grave e sem precedentes dessas sanções“.
Conforme alegou Eduardo Bolsonaro em entrevista ao podcast americano “War Room”, a demora das eventuais sanções contra Moraes fazem com que elas percam efeito político. A intenção do bolsonarista é que as retaliações pressionem o STF e abram caminho para a candidatura do pai em 2026 – que, atualmente, está inelegível.
Especialistas olham para o apoio público de Trump a Bolsonaro como uma forma de expor aliança política e legitimar o bolsonarismo como futura opção eleitoral. Porém, como já foi demonstrado nas relações com outros países, se essa associação mostrar-se um peso para os norte-americanos, a política brasileira não será prioridade para Donald Trump.