O cuidado com a saúde mental é um direito de todos os brasileiros, garantido, inclusive, por diferentes dispositivos na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e em normas do Ministério da Saúde. No entanto, a demanda por atendimento psicológico vem aumentando exponencialmente, sem que a estrutura disponível acompanhe de forma a conseguir absorvê-la.
Para se ter uma ideia, um em cada três brasileiros se sentem ansiosos, relatam problemas para dormir ou em relação à alimentação sempre ou com frequência. Um quinto tem dificuldade de atenção e concentração e cerca de 25% têm pouco interesse ou prazer em realizar suas atividades. Os números são de um levantamento do Datafolha e foram divulgados em 2024.
Em 2023, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou 27,9 milhões de atendimentos psicológicos, um aumento de 23% em relação ao ano anterior, de acordo com o Ministério da Saúde. Ainda assim, de acordo com uma pesquisa da República.org, a cada 10 cidades brasileiras, 9 têm menos de um psicólogo a cada mil habitantes. Em 400 municípios não há sequer registros oficiais da presença de psicólogos na rede pública.
De acordo com Cristina Ventura Couto, do Núcleo de Pesquisa em Políticas Públicas de Saúde Mental do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); a saída vai além de ampliar o acesso ao atendimento psicológico, envolve também experiências de pertencimento social e combate à pobreza. “As pessoas estão sofrendo muito, sim, e precisam de cuidados. Esse cuidado, porém, não pode ser reduzido a uma especialidade, seja psiquiátrica ou psicológica; ele precisa ser enfrentado com estratégias multiprofissionais, que incidam não só no sujeito, mas no seu entorno, na sua comunidade. Não há saúde mental sem democracia e sem melhoria da desigualdade social”, completa.
Como conseguir atendimento psicológico no SUS
A estrutura voltada aos cuidados com saúde mental dentro do Sistema Único de Saúde é a chamada Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), que é dividida em atenção primária, atenção especializada (que envolvem os Centros de Atenção Psicossocial, conhecidos como CAPS), atendimentos de emergência, atendimento residencial transitório, atenção hospitalar e estratégias de reabilitação.
O primeiro passo para solicitar atendimento psicológico gratuito, caso não seja uma emergência, é ir a uma Unidade Básica de Saúde (UBS). A princípio, o cidadão precisa marcar uma consulta com um clínico geral, explicar o que está acontecendo e pedir o encaminhamento a um psicólogo. Com o pedido, é possível marcar a consulta com o profissional mais próximo.
Vale lembrar, como você leu acima, que alguns municípios não dispõem de psicólogos disponíveis. Além disso, por conta da alta demanda, a rede de atenção psicossocial prioriza casos mais urgentes. Por isso, o tempo de espera pelas consultas pode ser longo. De acordo com dados do Instituto República.org, no Rio de Janeiro, um paciente demora, em média, cerca de 3 meses e meio, para conseguir um agendamento, por exemplo. Em alguns casos, dependendo dos sintomas e do quadro do paciente, o clínico geral encaminha o paciente diretamente para o CAPS.
Mais alternativas possíveis
Caso você precise de atendimento psicológico e não consiga uma vaga em tempo hábil pelo SUS, é possível buscar Organizações Não Governamentais, coletivos e outras instituições que forneçam apoio a grupos específicos, como CVV para prevenção ao suicídio, a Casa 1, focada no público LGBTQIAPN+, o Prematuridade, que atende famílias de recém-nascidos em risco, internados em UTIs neonatais, entre outras entidades.
Outra opção é buscar apoio em universidades. Muitos cursos têm clínicas-escola, onde a população interessada é atendida por estudantes, sob supervisão de professores. Informe-se sobre abertura de vagas e inscrições em cada instituição na sua região, já que o número de atendimentos costuma ser limitado.