Como Ciro Gomes se move em direção a 2026

Como Ciro Gomes se move em direção a 2026
Como Ciro Gomes se move em direção a 2026 Foto: Arte: Luma Venâncio/IstoÉ

Quatro vezes candidato à Presidência da República, duas vezes ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT) teve parte de sua trajetória atrelada ao potencial para suceder o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como liderança da centro-esquerda.

Enquanto o petista tem pela frente uma dura disputa pelo quarto mandato no Palácio do Planalto, o ex-aliado está de malas prontas para trocar de partido e embarcar no campo ideológico oposto, com duas possibilidades à vista. Neste texto, a IstoÉ situa os caminhos colocados para Ciro até as eleições de 2026.

Entre partidos

Qualquer rota depende da definição de seu futuro partidário. Ciro está de malas prontas para deixar o PDT, um movimento conhecido nos 43 anos e mais de 10 partidos de sua trajetória. No geral, as mudanças são provocadas por colisões de ideias e projetos.

Na sigla de Leonel Brizola (morto em 2004), o ex-ministro concorreu duas vezes a presidente (em 2018 e 2022) e, na última disputa, depois de receber 3,04% dos votos e ficar em quarto lugar no primeiro turno, não subiu ao palanque do presidente Lula e defendeu que a legenda não formalizasse apoio ao petista na votação definitiva, quando ele derrotou Jair Bolsonaro (PL).

Desde o início do mandato de Lula, o PDT chefia o Ministério da Previdência (Carlos Lupi até maio de 2025, Wolney Queiroz desde então) e é base governista no Congresso. Ciro, por outro lado, é uma voz crítica aos rumos da gestão.

Como Ciro Gomes se move em direção a 2026

Hoje um opositor contumaz de Lula, Ciro foi ministro da Integração Nacional de seu segundo governo

A nível estadual, o descaminho é mais claro. O ex-governador do Ceará rompeu com seu irmão, o senador Cid Gomes (PSB-CE), que rumou ao atual partido e ouviu de Ciro que é “cumplice de tragédia”, referindo-se à aliança com o governador Elmano de Freitas (PT).

Em 2022, PDT e PT encerraram uma aliança de 16 anos quando o grupo cirista lançou o ex-prefeito de Fortaleza e aliado do então presidenciável, Roberto Cláudio (PDT), ao Palácio da Abolição, para não dividir palanque com Lula. Elmano foi eleito ainda em primeiro turno e atraiu, além de Cid, outros pedetistas à gestão.

“A princípio, nós pensamos em ficar no PDT para evitar que ele fosse entregue ao PT, mas essa é uma decisão que foi tomada. O povo nos colocou na oposição ao eleger um projeto [de Elmano] que entregou o Ceará às facções criminosas e à redução da conomia. O estado está retrocedendo, e nós somos contra isso”, afirmou à IstoÉ o deputado Claudio Pinho, lider da bancada pedetista na Alece (Assembleia Legislativa do Ceará), prestes a desembarcar da sigla junto do aliado.

A disposição em aglutinar a oposição cearense se consolidou a partir das eleições para a prefeitura de Fortaleza, em 2024, quando o grupo se reuniu em torno de André Fernandes (PL) para o segundo turno contra Evandro Leitão (PT), que acabou eleito por uma margem inferior a 10 mil votos.

Na rodada final da disputa, Roberto Cláudio, o ex-deputado Capitão Wagner (União Brasil) e outras lideranças distantes de André o apoiaram, em um consenso de que a eleição de Evandro representaria uma vitória de Elmano, Camilo e Lula na capital, única governada pelo PT desde então. Mesmo sem subir no palanque, Ciro fez acenos ao candidato bolsonarista.

André Fernandes (PL) ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) | Reprodução/Redes sociais

André Fernandes ao lado de Bolsonaro: eleição em Fortaleza serviu para unir oposição ao PT

Depois da campanha, o ex-presidenciável ficou mais perto da oposição estadual e antecipou, de forma surpreendente, apoio ao pai de André, Alcides Fernandes (PL), como candidato ao Senado em 2026. “[Com esse gesto] Ciro mostrou que as convergências devem estar acima das divergências. A mesa da oposição no Ceará é redonda, os partidos abriram a mente e perceberam que só terão êxito em 2026 se saírem juntos“, disse à IstoÉ o deputado estadual Felipe Mota (União Brasil-CE).

Em julho, Ciro foi convidado a se filiar ao União Brasil pelo presidente da sigla, Antonio Rueda. Na última semana, participou do anúncio da federação União Progressista, que também inclui o PP, em Brasília, onde discursou em defesa de um projeto que una “centro-esquerda e centro-direita” para “tirar o Brasil desse desastre” e jantou com lideranças da oposição a Lula.

O ex-ministro também tem na mesa uma proposta para retornar ao PSDB, onde esteve de 1990 a 1997 — quando governou o Ceará e foi ministro da Fazenda –, apresentada por Tasso Jereissati, seu antecessor no Palácio da Abolição e principal padrinho na política. Presidente estadual da legenda e prefeito de Massapê, Ozires Pontes dá a filiação como certa, mas ela já esteve mais próxima antes da aproximação do União Brasil.

“Há uma dívida de gratidão de Ciro com Tasso, que poderia explicar essa escolha”, disse Felipe Mota. “Mas para ter esse espaço no campo da centro-direita, estrutura partidária e recursos que viabilizem uma candidatura, o melhor caminho é da federação União Progressista“, concluiu, lembrando que, ao se unirem, União Brasil e PP passam a ter 109 deputados federais, o que resulta nas maiores fatia de fundo eleitoral e propaganda eleitoral. O PSDB, por sua vez, enfrenta um período de incerteza, perda de lideranças e risco de perder acesso ao financiamento público após o pleito de 2026.

A definição passa, também, pela própria equação de forças da oposição cearense. Principal cirista do bloco, Roberto Cláudio tem definida a ida ao União Brasil. “Pensando em composição de chapa, com o ex-prefeito no União, é natural que Ciro vá para outro partido. Ainda há tempo para essa definição”, disse Claudio Pinho.

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Tasso Jereissati, então senador: padrinho de Ciro defende sua volta ao tucanato

O retorno ao ninho

Da ruptura com o PDT à entrada no bloco da centro-direita, Ciro reiterava seu apoio ao ex-prefeito de Fortaleza para enfrentar Elmano. Neste fim de agosto, justamente na festa de aniversário do aliado, pegou o microfone para dizer que estará “100% à disposição do povo do Ceará, para qualquer que seja a tarefa“, sinalizando disposição para o pleito estadual.

Aventada até por políticos com quem teve embates, a candidatura de Ciro a governador é encarada como o esforço necessário para tirar o PT do poder após 12 anos, já que André Fernandes ainda não terá a idade mínima para concorrer ao cargo e outras lideranças do grupo — casos do próprio Cláudio e de Capitão Wagner — foram derrotadas por Elmano na eleição passada.

À IstoÉ, Wagner, que já trocou críticas com o ex-presidenciável, disse ter deixado “qualquer sentimento, mágoa ou desejo pessoal por determinado cargo em segundo plano diante da necessidade de libertar o Ceará” e se colocou à disposição para concorrer ao cargo mais adequado aos planos do grupo. Já o ex-prefeito afirmou que Ciro terá seu apoio caso seja candidato ao governo.

No bolsonarismo, André, que já chamou o ex-ministro de “pessoa preparada, inteligente e corajosa” para enfrentar o atual governador e depois garantiu que o PL teria candidatura própria, elogiou a iminente mudança de partido do potencial aliado: “É bom que saia do PDT, porque é um partido muito atrelado ao governo Lula e ao PT”.

Entre os aliados que participam das negociações, as chances da empreitada soam concretas. “Hoje, lógico, desponta o nome do Ciro. O PL definiu que quer a candidatura ao Senado, mas o grupo tem também os nomes de Capitão Wagner, Roberto Cláudio e mesmo Eduardo Girão [senador pelo Novo]”, disse Claudio Pinho.

Além da definição partidária, o ex-presidenciável não concorre ao governo do Ceará desde quando se elegeu, em 1990, e não liderou uma eleição presidencial no estado pela primeira vez em 2022.

Em 1998, pelo antigo PPS, teve 34,2% dos votos dos cearenses, à frente de Lula (32,8%) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB, 30,3%), eleito na votação. No pleito seguinte, recebeu 44,5% dos votos no estado, à frente dos 39,4% de Lula e dos 8,5% de Serra, que avançaram ao segundo turno.

No primeiro turno de 2018, recebeu 40,9% dos votos no Ceará, contra 33,1% de Fernando Haddad (PT) e 21,7% de Jair Bolsonaro (PL), que foram ao turno final. Já em 2022, Lula teve 65,9% dos votos no estado, contra 25,4% de Bolsonaro e apenas 6,8% do pedetista. Após o resultado frustrante, Ciro disse nunca ter visto uma “situação tão complexa, desafiadora e potencialmente ameaçadora” e prometeu não participar de outra eleição.

Curva à direita

Quase três anos mais tarde, a segunda hipótese para Ciro retornar às urnas é em nova disputa nacional, mas numa posição diferente daquela que ocupou anteriormente — em ambos os sentidos. O ex-presidenciável assegurou seu passaporte de entrada na centro-direita ao enfileirar críticas ao governo.

No evento da União Progressista, saudou efusivamente o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como mostrou o PlatôBR, expondo uma hipótese já dialogada de sair candidato a vice-presidente na chapa do ex-ministro de Bolsonaro caso realmente ingresse no União Brasil.

O governador, vale lembrar, se diz candidato à reeleição em 2026, mas é o herdeiro mais cotado do espólio eleitoral do ex-presidente, que está inelegível, pela capacidade de atração irrestrita ao bolsonarismo. Para políticos que acompanham o movimento, o cearense daria a Tarcísio um palanque forte no Nordeste, onde Lula mais tem votos.

A gente só perde Ciro como candidato a governador se ele receber esse conviteA pesquisa Genial/Quaest mostrou que ele tem 8% [das intenções de voto em cenários de primeiro turno], número forte para compor uma chapa [presidencial]”, afirmou Mota. “Se seguir essa marcha para ser vice-presidente e rodar o Brasil, temos outras opções no Ceará para liderar e viabilizar o campo da centro-direita”, concluiu.

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Tarcísio de Freitas: com Bolsonaro fora do jogo, governador pode ter companhia de Ciro em 2026

Para Claudio Pinho, qualquer participação do aliado em uma chapa nacional depende da ausência de um representante da família Bolsonaro. “Se tiver um Bolsonaro, dificulta“, afirmou.

Desde que o ex-presidente virou réu no STF (Supremo Tribunal Federal) por suposta tentativa de golpe de Estado e seu filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), articulou junto ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros para pressionar o Judiciário, os partidos do “centrão” passaram a trabalhar por alternativas que não incluem esse sobrenome para enfrentar Lula — que tem maior vantagem nas pesquisas ao enfrentar os filhos do antecessor.

Ciro já chamou Bolsonaro e os filhos de “bandidos”, o que restringe o espaço para que se unam — mesmo para enfrentar o petista. Sem essa condição, o caminho se abre para o ex-presidenciável ocupar outro espaço na corrida para governar o país.