Foi no dia 29 de junho de 2007 que o primeiro iPhone chegava às lojas americanas e compradores ávidos faziam fila para o que inicialmente seria um iPod com acesso à internet e que também faria ligações telefônicas. A revolução, entretanto, estava na tela: sem botões, ao contrário da maioria dos telefones vendidos à época. Sem teclado e um único botão ao final do aparelho. O novo modelo seguido e até melhorado por quase todas as marcas concorrentes de celulares veio para ficar e hoje, ter um “computador no bolso” faz com que as notícias sejam acessadas com um simples clique, tanto as verdadeiras como as falsas. Diversos sites e aplicativos surgiram, as redes sociais tomaram conta e o jornalismo investigativo passou a ser um detalhe na vida de muitos brasileiros.

Quem já teve algum contato com jornais e revistas deve ter visto ou percebido que esses veículos, seja ISTOÉ, Vogue ou a Folha de S. Paulo, por exemplo, tinham (e continuam tendo) seções diferentes. Há uma parte direcionada às notícias, com ambos os lados da história ouvidos, investigados, editados e checados por diversas pessoas e também as seções de “Opinião”, “Artigo”, “Coluna social”, “Editorial”, “entrevistas” – aquelas onde há a pergunta em negrito e a resposta – como as famosas “Páginas Vermelhas” da ISTOÉ ou até o “Entrevistão” da finada Playboy. “Eu leio a Playboy por causa das entrevistas”, era uma frase muito usada, pois as entrevistas, com políticos, presidentes e artistas de todos os níveis, eram tão reveladoras quanto as fotos da publicação.

Hoje, passados exatos 14 anos do surgimento da “tela de bolso”, se vê nos comentários de grandes veículos jornalísticos e em suas contas oficiais de redes sociais como uma enorme parcela dos leitores não vê ou não entende essa diferença, que é crucial. O que mais se observa nos comentários de grandes veículos jornalísticos brasileiros são puro ódio e ignorância. Quando textos de comentaristas e articulistas são publicados nas redes surge, na maioria das vezes, alguém para dizer: “está faltando assunto para publicar uma besteira dessas?”, isso até quando o artigo é sobre algo trivial, como o fim de uma relação amorosa, por exemplo.

Você já viu quantas postagens por dia um jornal, uma revista e os portais de notícias fazem nas principais redes sociais? Qual delas são notícias, as Hard News; e quantas são notas de celebridade ou artigos opinativos? Você sabe a diferença?

Quando o artigo de um jornalista, historiador ou até governante tem como assunto a Política, então, os comentaristas de internet se incendeiam por quem “lacra mais”, destruindo o mensageiro (veículo) e nunca a mensagem (conteúdo).

A “tela” e suas possibilidades tiraram o senso de direção em que se organizam muitas plataformas de notícias, isso sem falar nas “Fake News”, textos postados como se fossem notícias, mas com informações e dados falsos.

Sempre preste atenção: o que você está lendo possui fontes como especialistas, gráficos, pesquisas científicas? Você consegue achar a notícia em outros veículos? A “Tela” não é a única culpada. O objetivo inicial do revolucionário Steve Jobs era ampliar as opções dos consumidores. Criaram até os tablets e os relógios inteligentes. Tudo isso a favor da pluralidade de ideias e do avanço tecnológico.

Hoje, a ameaça ao Jornalismo, no entanto, não é o meio onde a mensagem é lida – celular, tablet, computador, relógio, rádio, podcast ou papel. É o descrédito da imprensa propagado, geralmente, por ditaduras, governos totalitaristas e democracias em declínio. “A imprensa mente e somente o líder fala a verdade” é o lema, não importando a situação. Aliás, esse modelo de tratar os diversos veículos de comunicação com total desrespeito é visto diariamente pelo presidente de nosso País.

Jair Bolsonaro não quer um leitor (e eleitor) informado. Ele, o “Mito”, não quer que você leia, assista ou ouça a maioria das publicações nacionais, sejam impressas ou digitais, de qualquer viés político. Ele quer que você escute apenas a ele. “Mas e o PT, hein?”, frase também altamente difundida entre comentários de rede social. Quando, desde a democratização, um governo ameaçou tanto a informação? FHC, Lula, Dilma e Temer eram criticados diariamente com a mesma força e pela mesma imprensa que hoje critica Jair Bolsonaro. Quando um deles ameaçou a suspensão de licença? Xingou com palavras de baixo calão um repórter? Quando pararam de conceder entrevistas durante o mandato e formaram “um cercadinho de apoiadores”, sem a presença de jornalistas, para fazerem as perguntas “corretas”?

Agora, quando os veículos buscam a presidência para que ela possa dar o seu lado da história, é preciso ouvir o apresentador de telejornal dizer: “Procurado, o presidente não respondeu aos questionamentos”.

Bolsonaro confunde, grita, desrespeita os profissionais e raramente concede entrevistas, pois não consegue responder com franqueza diversas questões que são cruciais para o Brasil. Em uma rara entrevista ao apresentador Datena, da Rede Bandeirantes, disse que o cheque de R$ 89 mil recebido por sua esposa, era apenas um cheque sobre pagamentos feitos a ele por serviços prestados ao longo de diversos anos, “uns 750 reais por mês”, disse. Quem aceita receber salário honesto depois de anos? Ou seja, se a propina é pequena, deixa de ser crime? Não se deixe enganar. Pesquise. Não cultue líderes. Valorize a democracia. Leia “de tudo” e forme a sua própria opinião, assim como eu fiz ao escrever esse simples artigo.