Como as tarifas de Trump impactam Lula, Bolsonaro e suas estratégias para 2026

Nelson Almeida/AFP
Como oponentes na eleição presidencial de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) participam de debate na Band Foto: Nelson Almeida/AFP

O presidente Donald Trump mirou sua artilharia tarifária no Brasil ao anunciar sobretaxas de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos.

Na carta em que definiu as tarifas, o republicano citou Jair Bolsonaro (PL) e afirmou que o ex-presidente, réu no STF (Supremo Tribunal Federal) por participação em uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, é vítima de “caça às bruxas” do Judiciário brasileiro.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reagiu. Disse que nenhum chefe de Estado poderá interferir na soberania brasileira e prometeu aplicar a Lei da Reciprocidade Econômica para responder às tarifas americanas.

Nesta quinta-feira, 10, convocou ministros ministros ao Palácio da Alvorada para discutir as formas de retaliação. Se não houver recuo, as taxas entram em vigor em 1º de agosto, intervalo que mobiliza as principais lideranças políticas das duas nações para capitalizar com o cenário.

Bolsonarismo pisa em falso

A crise entre Palácio do Planalto e Casa Branca foi inicialmente celebrada por políticos brasileiros simpáticos a Trump, em especial Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, que está nos EUA desde março com o objetivo de articular sanções do governo americano ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, em pressão internacional para que Legislativo e Judiciário brasileiros livrem seu pai de punições.

No X (antigo Twitter), o deputado licenciado publicou um agradecimento a Trump e convocou seguidores a fazerem o mesmo com “rumo à lei Magnitsky“, legislação americana que autoriza sanções contra indivíduos acusados de corrupção ou graves violações de direitos humanos.

Fora do núcleo mais radical do bolsonarismo, os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, não elogiaram as tarifas, mas se alinharam à estratégia do grupo ao responsabilizar o governo federal pela ação de Trump. “Lula colocou sua ideologia acima da economia, esse é o resultado“, afirmou Tarcísio.

Nas redes sociais, no entanto, mesmo perfis ligados à direita se posicionaram contra as taxas e a estratégia bolsonarista, em repercussão bastante visível na própria publicação de Eduardo Bolsonaro. Conteúdos atrelam o parlamentar e seu pai a uma tática que coloca os interesses econômicos dos EUA acima dos brasileiros; outros associam a militância pela anistia ao ex-presidente aos danos potenciais à indústria e agronegócio brasileiros.

Lula tem potencial a explorar

Para Renato Dorgan, cientista político e proprietário do instituto de pesquisas Travessia, a posição bolsonarista é um “tiro que pode voltar na testa” desse grupo político, a depender de como for explorado por Lula e seus aliados.

É um episódio que pode afastar setores da economia — como o agronegócio — do bolsonarismo, ainda que não necessariamente da direita. Ainda que Trump recue, a repercussão é negativa. Apenas o eleitor bolsonarista raiz, que é minoritário, manifestou apoio ao anúncio”, afirmou à IstoÉ.

O marqueteiro Wilson Pedroso, que esteve à frente da coordenação das campanhas eleitorais de políticos distantes da esquerda, como Pablo Marçal (PRTB) e João Doria (ex-PSDB), disse que a crise poderá “virar o maior ativo eleitoral de Lula” para 2026.

“Basta lembrar o que já foi dito, filmado, postado. Tem carinho explícito [de Bolsonaro] por Trump. A esquerda não vai dizer ‘eles traíram o país’, vai mostrar os efeitos da crise e dar esse contexto“, afirmou, em publicação nas redes sociais.

Conforme reportou o jornal Folha de S. Paulo, embora não admitam publicamente, aliados de Bolsonaro consideram que o episódio desgastou o grupo. Diante da inviabilidade econômica de celebrarem as tarifas, decidiram lamentá-las associando a erros de Lula — como fez Tarcísio.

No campo governista, a estratégia é justamente recobrar o discurso da soberania nacional e “colar” o aumento na tributação em Bolsonaro. “Eles tinham Lula e Alexandre de Moraes como alvo, mas atingiram o povo brasileiro em cheio. Querem destruir nossa economia e nossos empregos”, escreveu Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do partido na Câmara dos Deputados.

Gleisi Hoffmann (PT), ministra das Relações Institucionais de Lula, disse que “todos os cúmplices de Bolsonaro que aplaudem o tarifaço” apoiam o “maior ataque já feito ao Brasil em tempos de paz, visando atingir não apenas nossa economia, mas a soberania nacional e a própria democracia“.

O cálculo governista, agora, depende da retaliação que será definida por Lula e seus ministros. Parte dos analistas lembra que, como relatou a IstoÉ, presidentes como Claudia Sheinbaum, do México, Gustavo Petro, da Colômbia, e o primeiro-ministro Justin Trudeau, do Canadá, faturaram politicamente e ganharam popularidade com suas reações à artilharia tarifária de Trump.