A direita radical na Alemanha, na Europa e nos EUA se apresenta como defensora de um Ocidente supostamente cristão. Sua luta é contra o Islã. Na verdade, religiosidade tem um papel secundário."Qual é o seu nome?" Alice Weidel não conhece o jovem loiro que quer entrevistá-la. Ele se aproxima rapidamente da líder do partido Alternativa para a Alemanha (AfD). "LE-O-NARD JÄ-GER é meu nome." Jäger está vestindo um grande blazer preto sobre uma camisa branca. Seu cabelo é penteado para trás, em estilo esportivo. "Talvez a senhora me conheça. Eu estava na viagem aos EUA onde encontramos Donald Trump!", emenda. Weidel dá um sorriso morno.
É janeiro de 2025, e o partido radical de direita AfD está realizando sua convenção nacional na cidade de Riesa, na Saxônia, no Leste da Alemanha. Para Weidel, o evento termina em uma maratona de entrevistas. As principais emissoras de TV e os jornais diários fazem perguntas: A AfD se radicalizou? Até que ponto o partido é de extrema direita?
Weidel também dedica muito tempo a jornais e YouTubers da extrema direita. Leonard Jäger é um deles. Ele administra suas próprias plataformas de mídia social. Seu canal no YouTube tem meio milhão de assinantes. Sua entrevista com Weidel será vista por mais de um milhão de pessoas. "A mídia está sempre atirando em você", diz o jovem em solidariedade à líder do partido. Ele a entrevistará por oito minutos. O tema: Deus.
Alice Weidel sobre fé e Deus
"Você acredita em Deus?" é a primeira pergunta dele. Weidel dá uma leve enrolada, fala sobre água, minerais e metais, dos quais os seres humanos são feitos. E como ela acha interessante a questão a respeito de Deus. E que ela é uma pessoa que procura muito buscar o seu "eu interior". "Gostaria de acreditar, mas acho que preciso de um pouco mais de tempo."
Jäger é um influenciador que atinge milhões de jovens. A essência de sua marca: atrevido e alegre, ele vai a manifestações de esquerda em busca de controvérsia. Sobre a questão de gênero. Sobre a AfD. Sobre a homossexualidade. Sobre Deus. Ele edita seus vídeos de forma a ridicularizar críticos. Seus mantras: existem apenas dois gêneros; os esquerdistas querem sexualizar as crianças desde cedo; os que estão lá em cima querem nos proibir de tudo; Jesus é a resposta.
Mesmo que Alice Weidel não pareça ser uma pessoa particularmente religiosa, as ideias culturais e tradicionais cristãs certamente caem bem para sua Alternativa para a Alemanha. O partido alimenta massivamente o medo do Islã, da insegurança social e de qualquer forma de mudança. A imagem de um mundo ideal com festas de Natal alegres e cheias de neve, fiéis que frequentam a igreja e regras claras e simples sobre o que fazer e o que não fazer parece uma receita contra a complexidade do mundo moderno. E é por isso que a AfD busca a proximidade da tradição cristã.
"Minha companheira é cristã e muito religiosa", explica Alice Weidel em sua entrevista a Jäger. "Nossos filhos também estão sendo educados como cristãos. Acho que isso é muito importante como fundamento."
Membros abertamente cristãos são um fenômeno marginal na AfD. As principais igrejas cristãs alemãs acusam o partido – a exemplo dos serviços de segurança alemães – de incitar ódio e discriminação. E a fé desempenha um papel cada vez menor na sociedade alemã, assim como na Europa como um todo. E os redutos da AfD no leste da Alemanha, onde o partido é mais popular, são mais seculares do que a média.
AfD utiliza tradições cristãs
Mas por que o flerte com o cristianismo? "Porque ele apela ao eleitorado de centro", explica Matthias Kortmann em uma entrevista à DW. Ele é professor da Universidade Técnica de Dortmund e se especializou na relação entre religião e a direita radical. "Muitos na população, mesmo aqueles que não tendem a votar na AfD, creem que o cristianismo tem um papel especial na história e na cultura da Alemanha. E a AfD capitaliza isso."
Principalmente quando se trata do Islã, geralmente equiparado pela AfD à migração. Desde que centenas de milhares de refugiados do Oriente Médio começaram a chegar à Alemanha em 2015, a AfD vem alertando sobre o fim do Ocidente, sobre uma suposta "substituição da população". A alegação é de que os outros partidos estariam inundando a Alemanha deliberadamente com muçulmanos a fim de destruir a própria cultura. Cada terrível ataque islâmico, cada crime com faca cometido por um refugiado é alardeado como prova de que a tese está certa.
Cerca de 83 milhões de pessoas vivem na Alemanha, cerca de 25% são imigrantes ou filhos de pai e mãe imigrante. Mas a proporção de muçulmanos continua extremamente pequena. Segundo estimativas oficiais de 2020, eles são cerca de 5,5 milhões. Isso representa apenas 6,6% da sociedade como um todo.
Apesar disso, a deputada Beatrix von Storch, da AfD, fala em risco de "descristianização" da Alemanha. Em entrevista à DW, ela adverte sobre uma "crescente influência das correntes islâmicas na cultura, na sociedade e na política e a diminuição do papel dos valores cristãos no discurso público".
Punição por ataque a deputada trans
Von Storch tem assento no Bundestag, o parlamento alemão, e é católica devota. "Vejo meus deveres como um serviço a Deus e às pessoas, com a responsabilidade de promover o bem e fazer a coisa certa", diz.
Para ela, isso inclui a luta contra o aborto e contra a comunidade LGBTQ+. Sua militância ferrenha rendeu-lhe até mesmo uma repreensão pela presidência do Bundestag – algo raro –, após ela tecer repetidos comentários ofensivos sobre a deputada transgênero Tessa Ganserer, do Partido Verde. A conduta foi punida no ano passado com uma multa. A vice-presidente da Casa, Katrin Göring-Eckart, classificou a provocação como "humilhante e desrespeitosa".
Matthias Kortmann, da Universidade Técnica de Dortmund, vê as discussões sobre identidade de gênero como um exemplo típico de como os populistas querem explorar o sentimento de incerteza existente dentro da sociedade e alimentar a intolerância. "Isso pode ser maravilhosamente instrumentalizado: temos incerteza, e agora eles também nos tirando os dois sexos [masculino e feminino]."
A AfD tem uma relação tendencialmente instrumental com o cristianismo: onde é útil, o partido faz uso das tradições cristãs. "A AfD deve sempre tomar cuidado para não se alinhar muito estreitamente com certos grupos que, pensando bem, podem desencadear um grande ceticismo entre a população", explica Matthias Kortmann.
Ele considera que os fundamentalistas cristãos são a exceção dentro da AfD. "Porque esses grupos não são apenas contra os transgêneros, mas talvez também tenham uma imagem muito ultrapassada das mulheres ou sejam contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Tudo isso é absolutamente aceito na sociedade." Afinal de contas, a própria Weidel é casada com uma mulher.
Religiosidade como força política: Europa e EUA
Essa é uma das principais diferenças entre a Europa e os EUA. Lá, ser um fiel tem um status social diferente. E os bilionários evangélicos tentam direcionar a política a seu favor com enormes somas de dinheiro em nome de Deus. Eles apoiam a direita radical em torno de Donald Trump.
O fenômeno também está se espalhando pela Europa, observa Philipp Greifenstein. Ele é o editor da revista online Die Eule, especializada em política religiosa, igreja e teologia. "Influenciadores de direita ou de extrema direita usam a religiosidade como uma forma de autoflagelação e de se aproximar do movimento evangélico nos EUA", diz Greifenstein em entrevista à DW. "Razões financeiras também desempenham um papel aqui, porque esse movimento dos EUA tem recursos financeiros muito grandes à sua disposição."
Greifenstein acha que alguns influenciadores cristãos estão menos impressionados com a mensagem evangélica do que com os dólares americanos. "Com Leonard Jäger, não tenho a impressão de que ele queira promover Cristo. Trata-se de aumentar seu alcance."
Aumentar o alcance – esse objetivo tem muito em comum com os planos da líder de ultradireita Alice Weidel.