O homem que abriu fogo em uma mercearia na cidade de Buffalo, no estado de Nova York, matando dez pessoas, parece ter sido motivado por uma ideologia cada vez mais popular entre os norte-americanos de extrema direita. A chamada teoria da “grande substituição” vende a ideia equivocada de que a população branca está sendo substituída por imigrantes e “pessoas de cor”.

O assassino de Buffalo, o jovem supremacista branco Payton Gendron, de apenas 18 anos, não atirou em pessoas a esmo. Gendron procurou deliberadamente uma região do país com grande concentração de negros para cometer o crime, que também deixou três pessoas feridas. Em uma tentativa de justificar seus atos, o autor dos disparos deixou um documento com cerca de 160 páginas onde defende uma série de ideias equivocadas, como a morte de pessoas negras por pessoas brancas. No documento, o autor escreve que um de seus desejos era matar Sadiq Khan, prefeito de Londres, que é filho de imigrantes paquistaneses.

A linha de pensamento de Gendron não é inédita e já foi usada para justificar outros massacres, inclusive fora dos Estados Unidos, como o que aconteceu na Nova Zelândia contra muçulmanos, em 2019. A teoria racista da substituição foi ainda citada diretamente pelo atirador responsável por matar 20 pessoas em El Paso, no Texas, também em 2019. Patrick Crusius, de 21 anos, deixou por escrito que estava combatendo uma “invasão hispânica”, referindo-se aos imigrantes latinos presentes nos Estados Unidos.

Essa crença de que a raça branca estaria à beira da extinção é o que tem motivado tantos atiradores a agirem contra grupos específicos de pessoas, seja por questões religiosas ou étnicas. Difundida em canais de televisão conservadores, a teoria racista da “substituição” foi citada pela primeira vez com esse nome pelo autor francês Renaud Camus.

No livro “Le Grand Remplacement”, de 2011, o escritor defende que a “cultura francesa” seria, em breve, substituída por causa de uma forte presença de população árabe na França. Ainda, segundo o autor, essa substituição teria o apoio das “elites” que promovem o “genocídio por substituição”. Nos EUA, os liberais do partido Democrata, comandados pelo atual presidente Joe Biden, incentivariam a imigração para ganhar eleições e defender pautas como o aborto ou direitos LGBTQIA +. Sem se basear em dados, ou qualquer estatística, essa ideologia que divide pessoas em “raças puras” poucas vezes esteve tão forte como agora.