Em represália à invasão da Ucrânia, a União Européia, os Estados Unidos e o Canadá fecharam um acordo para tirar a Rússia da Sociedade Mundial de Intercomunicação Financeira Interbancária (Swift), sistema de transferências que conecta as instituições globalmente e agiliza os negócios internacionais. Com sede na Bélgica, a plataforma integra mais de 11 mil bancos de 200 países e é hoje a principal ferramenta para a realização de transações comerciais no planeta, movimentando entre US$ 5 trilhões e US$ 6 trilhões diariamente. A princípio, a exclusão do Swift, tratada como uma espécie de bomba atômica financeira, poderia significar uma imediata paralisação dos negócios, mas, na prática, além de seus efeitos sobre a economia local serem difusos, já que nem todos os bancos locais serão atingidos, ela também vai atingir europeus, americanos, brasileiros e outros países com os quais os russos mantêm trocas comerciais. Sem o Swift, serão desaceleradas as exportações, importações e os fluxos de capital entre a Rússia e seus parceiros.

Uma consequência inevitável do banimento do Swift, que funciona como um sistema de mensagens em tempo real que informa bancos e empresas sobre pagamentos e recebimentos, é a eventual interrupção no fornecimento de mercadorias e serviços por causa da demora no processamento de transações. Existem outras plataformas semelhantes, mas são mais lentas e custosas e não tem o mesmo alcance global. A questão é que vários países não podem deixar de fazer negócios com a Rússia por conta da dependência extrema de matérias-primas e insumos. O próprio fornecimento de gás para a Europa, por exemplo, não pode ser interrompido, assim como a entrega de fertilizantes para o Brasil. Tratam-se de relações estratégicas que se forem abaladas vão causar mais problemas para quem compra do que para quem vende. Mesmo que a Rússia tenha barreiras para comercializar seus produtos, os outros países farão de tudo para comprá-los. E não vai ser a falta do Swift que vai impedir o negócio. Só vai torná-lo mais demorado e caro, obrigando os negociadores a adotarem caminhos alternativos.

Há, por exemplo, um plano de contingência russo para substituir o Swift. Desde 2014, o país desenvolve uma plataforma similar, o Sistema de Transferência de Mensagens Financeiras (SPFS), que, segundo o Banco Central da Rússia, já conta com a adesão de 331 bancos nacionais e estrangeiros e vai ser amplamente utilizado. Outra saída é voltar os olhos para a China, que conta com sua própria plataforma de transações. Lançado em 2015, o Sistema de Pagamentos Interbancários Transfronteiriços (CIPS), processa mais de US$ 20 bilhões por dia e vem crescendo de forma acelerada. Acostumada com sanções, a Rússia está trabalhando para se realinhar e se reorientar financeiramente para escapar da armadilha criada pelo seu banimento do sistema financeiro global. E uma das compensações virá da própria China, que se tornou a maior compradora da indústria bélica local, além de parceiro estratégico e prioritário. Sem apoio do Ocidente, é no vizinho asiático que a Rússia encontrará apoio para manter os seus negócios. E os alemães, como Swift ou sem Swift, continuarão comprando seu gás.