Coluna: Guilherme Amado, do PlatôBR

Carioca, Amado passou por várias publicações, como Correio Braziliense, O Globo, Veja, Época, Extra e Metrópoles. Em 2022, ele publicou o livro “Sem máscara — o governo Bolsonaro e a aposta pelo caos” (Companhia das Letras).

Como a ‘Ilha Bolsonaro’ pode ajudar Lula a se reeleger em 2026

Cientista político Creomar de Souza classifica como 'insulamento relacional' o isolamento sistemático de Bolsonaro em seu círculo familiar

Bolsonaro
Bolsonaro Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Inelegível e conhecido pela dificuldade de construir e manter relações políticas duradouras fora de seu círculo familiar, Jair Bolsonaro pode acabar favorecendo Lula nas eleições de 2026 ao não dar passagem a um nome alternativo em seu campo ideológico. Essa avaliação foi feita pelo cientista político Creomar de Souza (foto abaixo), analista de risco e fundador da Dharma Political Risk and Strategy.

Souza observa na trajetória política de Bolsonaro o que ele chama de “insulamento relacional”, ou seja, uma espécie de “Ilha Bolsonaro”, um isolamento sistemático do ex-presidente.

Esse comportamento, diz o analista, é percebido em dois padrões: histórico partidário atribulado de Bolsonaro, que passou por nove siglas até chegar ao PL, e a criação de um “cordão sanitário” familiar, com todos os filhos adultos dele lançados à política — dois dos quais, Flávio e Eduardo, cotados para o substituírem em 2026. A mulher do ex-presidente também deve estrear nas urnas no ano que vem.

As eleições de 2024, diz Souza, mostraram como esse “insulamento” de Bolsonaro, aliado à necessidade dele de manter sua base política mobilizada e coesa, pode gerar desconfianças entre lideranças do mesmo campo político que ele.

Os exemplos mais eloquentes disso foram os apoios discretíssimos de Bolsonaro a Ricardo Nunes, em São Paulo, e Eduardo Pimentel, em Curitiba, em meio a um flerte do bolsonarismo e de sua base eleitoral com adversários deles, os “outsiders” da direita Pablo Marçal e Cristina Graeml.

Com o ex-presidente em uma postura de “autopreservação”, como classifica o cientista político, Nunes e Pimentel foram impulsionados por outros padrinhos políticos, como os governadores Tarcísio de Freitas e Ratinho Júnior.

Para o cientista político, essa “flexibilidade” nas alianças de Bolsonaro “alimenta um nível de desconfiança entre aliados acerca do interesse do ex-presidente de apoiar qualquer nome que não seja o seu para a corrida presidencial de 2026”.

“Isso alimenta burburinhos de que haja um caminho que não seja tão dependente dele em termos de candidatura à direita. Isso está se manifestando sobretudo nesse movimento de Ronaldo Caiado [que já anunciou sua candidatura]”, disse Souza à coluna.

Pelo lado do governo Lula, que tem tido sucessivas notícias ruins nas pesquisas de opinião, com aumento na avaliação negativa do presidente, o analista avalia que o “insulamento” de Bolsonaro e a insistência em ser os planos A, B e C de seu campo para 2026 podem facilitar a reeleição do presidente.

“Bolsonaro tenta conduzir a lógica político-eleitoral da direita no sentido de que esta seja vista como sinônimo de seu nome”, concluiu Creomar de Souza.

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