Por Gram Slattery e Alexandra Ulmer e Nathan Layne

WASHINGTON (Reuters) – Há pouco mais de duas semanas, a campanha presidencial de Donald Trump tinha visões de uma estratégia nacional expansiva que resultaria em uma vitória esmagadora em novembro.

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Agora, enquanto eles lutam para neutralizar uma Kamala Harris em ascensão, que rapidamente substituiu o presidente norte-americano, Joe Biden, como candidata presidencial do Partido Democrata no mês passado, os assessores da campanha dizem que estão recalibrando para proteger Estados antes considerados seguros e estreitando as ambições sobre o mapa eleitoral.

Embora os principais assessores de Trump já tenham visto a chance de uma avalanche eleitoral — com Estados de tendência democrata como Minnesota e Virgínia em jogo — a ascensão de Kamala fez com que os republicanos voltassem a se concentrar em um caminho mais estreito para a vitória que passa por Estados disputados tradicionais, como Pensilvânia e Georgia.

“A disputa mudou”, afirmou Corey Lewandowski, conselheiro de longa data do ex-presidente, à Reuters, embora tenha dito que a disputa ainda favorece Trump. “Muitos de nós queríamos concorrer ativamente contra Joe Biden. Nós nos sentimos muito bem com nossa corrida.”

Publicamente, Trump e seus aliados tem buscado vigorosamente colar em Kamala, uma californiana, como uma progressista radical e vinculá-la a políticas impopulares de Biden sobre imigração e inflação. Eles dizem que pouco importa se estão enfrentando Biden ou Kamala.

Internamente, nove fontes disseram à Reuters que veem a vice-presidente como uma adversária muito mais difícil do que Biden, que há meses vinha enfrentando dúvidas sobre sua acuidade mental e enfraquecimento nas pesquisas.

“Isso não muda o mapa, mas o diminui. Agora não há mais razão para falar de lugares como Nova Jersey”, disse um membro da campanha de Trump, que falou sob condição de anonimato para discutir assuntos internos da campanha.

A Reuters entrevistou 12 membros da equipe de campanha, conselheiros e doadores que descreveram uma campanha que está tentando encontrar uma nova estratégia ao enfrentar uma candidata democrata mais jovem e dinâmica que energizou a base democrata e arrecadou centenas de milhões de dólares em questão de dias.

“Está claro para todos que ela poderia vencer”, disse um conselheiro sênior de Trump, que falou sob condição de anonimato para discutir mais livremente as deliberações internas.

Quando questionada sobre as perspectivas de um mapa de campo de batalha cada vez menor, a equipe de Trump disse que sua estratégia não mudou desde que Kamala se tornou a candidata democrata.

“A equipe de Trump tem anúncios em todos os Estados decisivos, expandimos o mapa político para incluir os tradicionais ‘Estados azuis’, como Minnesota e Virgínia, com equipes em campo”, disse a porta-voz do Partido Republicano Anna Kelly, referindo-se à cor do Partido Democrata.

Ammar Moussa, um porta-voz da campanha de Kamala, disse que Trump e seu companheiro de chapa, o senador JD Vance, estão levando o país para trás, enquanto Kamala está levando o país para a frente. Ele não falou sobre o mapa eleitoral.

As fontes de Trump com as quais a Reuters conversou apontaram três questões: atrasos na veiculação de anúncios contra Kamala, que são vistos como fundamentais para apontar as fraquezas percebidas de um oponente; dúvidas entre alguns líderes e doadores republicanos sobre a escolha de Vance como companheiro de chapa; e preocupações com o próprio Trump, que atropela os esforços de seus assessores para definir Kamala com base em suas posições políticas.

Uma fonte disse que os anúncios contra Kamala demoraram a ser veiculados em parte porque o material teve de ser submetido a grupos de discussão primeiro.

A campanha também queria ver quem Kamala escolheria como seu companheiro de chapa, de acordo com a fonte informada sobre os planos.

Kamala anunciou esta semana o governador de Minnesota, Tim Walz, um homem de fala simples do Meio-Oeste, como seu candidato a vice-presidente.

“LUA DE MEL”

Tony Fabrizio, um pesquisador da campanha de Trump, previu em um memorando divulgado para a imprensa no mês passado que Kamala teria um impulso de curto prazo nas pesquisas, mas que a corrida se acalmaria em seguida.

“A ‘Lua de mel’ de Harris terminará e os eleitores voltarão a se concentrar em seu papel como parceira e copiloto de Biden”, escreveu ele no memorando.

No período que antecedeu a saída de Biden, o super PAC MAGA Inc, alinhado a Trump, preparou um anúncio de TV acusando Kamala de encobrir a debilidade de Biden. O anúncio começou a ser veiculado em quatro Estados decisivos em 21 de julho, dia em que Biden anunciou que estava encerrando sua campanha à reeleição.

Ao mesmo tempo, a campanha se viu na defensiva em relação à escolha de Vance por Trump como seu companheiro de chapa.

Vance enfrentou uma onda de críticas da imprensa por causa de comentários anteriores em que se referiu a alguns democratas, incluindo Kamala, como “um bando de senhoras dos gatos”, um insulto visto como misógino e desdenhoso em relação a pessoas sem filhos.

O Comitê Nacional Republicano e a campanha têm recebido telefonemas de alguns doadores que temem que Vance tenha se tornado uma distração e esteja prejudicando a chapa, de acordo com duas fontes a par dos telefonemas.

Como a campanha se concentra em um mapa menor, espera-se que Vance passe mais tempo em lugares relativamente conservadores e rurais, especialmente em Estados do Cinturão da Ferrugem, como Michigan e Pensilvânia, onde suas raízes rurais e preocupações com a decadência industrial têm maior probabilidade de repercutir entre os eleitores, de acordo com quatro fontes próximas à campanha ou ao candidato a vice-presidente.

Nesta semana, Vance realizou coletivas de imprensa perto dos eventos da campanha Kamala-Walz em Wisconsin e Michigan.

INSULTOS

E ainda há o fato de Trump recorrer a insultos em vez de se concentrar nas posições políticas de Kamala. Trump tem feito uma série de insultos pessoais contra Kamala. Esses esforços geraram manchetes negativas — sobre Trump, em vez de Kamala.

Em um evento da Associação Nacional de Jornalistas Negros na semana passada, Trump questionou se Kamala — cuja mãe nasceu na Índia e o pai na Jamaica — era realmente negra. Isso deixou doadores e assessores perplexos e alarmados.

Três dias depois, Trump atacou o governador republicano da Georgia, Brian Kemp, em um comício, possivelmente alienando uma figura popular em um Estado decisivo onde Trump pode precisar de ajuda para mobilizar os eleitores para as urnas.

Trump também tem disparado várias missivas confusas em seu aplicativo Truth Social, incluindo uma na terça-feira, na qual ele refletiu sobre o retorno de Biden como cabeça de chapa.

Na primavera e no início do verão, quando as pesquisas de opinião pública mostravam que Trump estava ampliando sua vantagem sobre Biden nos Estados decisivos, o ex-presidente realizou eventos em áreas consideradas seguras para os democratas — Minnesota, Virgínia e até mesmo a cidade de Nova York — em uma tentativa de ampliar seu mapa eleitoral.

No último sábado, Trump voltou ao básico: fazer campanha na Georgia, onde as pesquisas mostravam que a disputa havia se acirrado após a entrada de Kamala.

O Estado será extremamente competitivo, com Trump mantendo uma pequena vantagem graças ao apoio de alguns eleitores negros, disse Mark Rountree, um pesquisador de opinião pública da Georgia que não é afiliado a nenhuma das campanhas.