MILÃO, 7 AGO (ANSA) – O comitê técnico-científico nomeado pelo governo da Itália para orientar o combate à pandemia do novo coronavírus recomendou a instauração de um lockdown rígido nas cidades de Alzano Lombardo e Nembro, na província de Bergamo, em 3 de março.   

A medida seria uma forma de conter a crescente disseminação dos casos de Sars-CoV-2 nos dois municípios, que estão entre os primeiros a ser afetados pela pandemia na Itália, mas não foi acatada pelo governo.   

Alzano Lombardo e Nembro entraram em quarentena apenas em 9 de março, quando o primeiro-ministro Giuseppe Conte colocou toda a região da Lombardia, onde fica a província de Bergamo, em isolamento. No dia seguinte, o restante do país entraria em lockdown.   

O documento da reunião do comitê técnico-científico realizada em 3 de março foi publicado nesta sexta-feira (7) pelo jornal Eco di Bergamo. A transcrição do encontro mostra que o chamado CTS recomendou a “adoção de oportunas medidas restritivas já adotadas nos municípios da zona vermelha também nessas duas cidades [Alzano Lombardo e Nembro]”.   

O sistema apelidado na Itália de “zona vermelha” foi imposto a 11 cidades no dia 22 de fevereiro, logo após a descoberta dos primeiros casos de transmissão interna do novo coronavírus. A lista incluía 10 municípios da Lombardia, como Codogno, “marco zero” da pandemia no país, mas não englobava Alzano Lombardo e Nembro, que descobririam seus primeiros contágios logo depois.   

O regime de “zona vermelha” era até mais rígido que a quarentena vigente a partir de 10 de março e previa inclusive toque de recolher para a população. Esse sistema ficou em vigor nos 11 municípios até a instituição do lockdown nacional.   

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Focos de contágio – Até agora, o governo italiano não explicou a decisão de não ter instituído “zonas vermelhas” em Alzano Lombardo e Nembro, de onde o coronavírus começou a se espalhar pela província de Bergamo, uma das mais atingidas pela pandemia.   

Essa hesitação está no centro das mais de 100 denúncias apresentadas por familiares de vítimas do coronavírus ao Ministério Público de Bergamo, que questionam os motivos de não ter sido imposto um lockdown imediato na província.   

Em junho passado, o primeiro-ministro Conte depôs por mais de três horas ao MP bergamasco, mas não como investigado, e sim como “testemunha informada sobre os fatos”. O governador da Lombardia, Attilio Fontana, também foi ouvido e disse que a prerrogativa de instituir uma zona vermelha era de Roma.   

Alzano Lombardo e Nembro somam cerca de 25 mil habitantes e, em 3 de março, contabilizavam pouco mais de 20 casos, “provavelmente atribuíveis a uma única cadeia de transmissão”, segundo o CTS.   

Com cerca de 1,1 milhão de habitantes, a província de Bergamo foi o pior foco de contágio durante o pico da pandemia na Itália e soma 15.093 casos. Mais tarde, ela seria ultrapassada por três províncias mais populosas: Milão (25 mil casos), Turim (16 mil) e Brescia (16 mil).   

Bergamo ainda sofreu alguns dos episódios mais dramáticos da pandemia no país, como a fila de caminhões do Exército para remover corpos para cemitérios e crematórios de outras regiões.   

(ANSA).   


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