Comissária europeia chama de ‘desafio muito grande’ acolhida de milhões de ucranianos

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Acolher milhões de refugiados ucranianos é um “desafio muito grande”, mas a União Europeia (UE) está mais bem preparada do que em 2015, ao mesmo tempo que os Estados-membros mostram uma “solidariedade sem precedentes”, declarou nesta quinta-feira a comissária europeia do Interior, Ylva Johansson.

Em duas semanas, a UE recebeu mais de 2 milhões de refugiados, número comparável apenas ao fluxo de solicitantes de asilo, principalmente sírios, entre 2015 e 2016, destacou Ylva em Bruxelas.

“Veremos cada vez mais pessoas fugindo da Ucrânia. Não sabemos exatamente quantas, mas eu diria que milhões”, indicou a comissária sueca, especialmente preocupada com o destino das crianças, que representam metade dos exilados.

Os primeiros refugiados tinham laços familiares ou amigos na UE, mas os que irão entrar agora, não. “Vai ser um desafio muito grande, já é, mas irá piorar, temos que nos preparar para isso”, alertou Ylva.

A situação é inédita. Os 27 concordaram na semana passada em conceder um regime de proteção temporária aos ucranianos, que lhes permite permanecer e trabalhar na UE por, pelo menos, um ano.

A diretiva que concede esse status, prevista em caso de afluxo maciço de refugiados, não foi ativada em 2015. “Estamos muito mais preparados” do que naquela época, explicou Ylva. “Começamos a planejar planos de contingência semanas antes” do ataque russo.

Em 2015, a UE “esteve ausente”, declarou a social-democrata, que, naquela época, era ministra na Suécia, país da União Europeia que recebeu mais refugiados por habitante durante aquela onda. Polônia e Hungria, dois dos Estados-membros mais relutantes a acolher refugiados naquela época, abriram as portas para os ucranianos desta vez.

– ‘Garantir a normalidade’ –

“Testemunhamos hoje uma solidariedade sem precedentes por parte dos Estados-membros entre si e para com os refugiados ucranianos”, ressaltou a comissária, cética sobre a necessidade de criar um mecanismo para distribuir os refugiados entre os Estados-membros, a fim de aliviar os países da UE que fazem fronteira com a Ucrânia.

“Todos os Estados-membros devem receber refugiados da Ucrânia, mas já cooperam, por meio de uma plataforma solidária, compartilhando informações sobre suas capacidades. Acho que, neste momento, é a forma correta de fazê-lo”, argumentou Ylva. Ela acredita que um mecanismo poderia ser implementado para distribuir certas categorias da população, como menores desacompanhados, órfãos, deficientes físicos ou doentes.

A comissária voltou a alertar para o risco de crianças que fogem sozinhas da guerra caírem nas mãos de traficantes de menores. “Sabemos, por experiência, que as crianças desaparecem quando há grandes ondas de migração”, lembrou. Por esse motivo, a Comissão ativou uma rede contra o tráfico de pessoas, que reúne vários países-membros.

A Comissão propôs que os Estados de acolhida possam aplicar a verba não utilizada do orçamento de 2014-2020, o que permitiria liberar 420 milhões de euros e autorizar o uso de fundos de coesão para financiar medidas de integração nos âmbitos da educação, cuidado infantil e habitação.

Cerca de 10 bilhões de euros dos fundos para 2022 do programa “React-EU”, parte do plano de recuperação pós-Covid, também podem ser usados para financiar ações de apoio aos exilados da Ucrânia, segundo a Comissão, que anunciou uma ajuda humanitária de 500 milhões de euros para aqueles que fogem da guerra.