Comissão fracassa na Bélgica para se desculpar de abusos do passado colonial

Comissão fracassa na Bélgica para se desculpar de abusos do passado colonial

Uma comissão do Parlamento da Bélgica criada em 2020 para analisar os abusos cometidos durante o período colonial, como consequência do movimento Black Lives Matter, encerrou seus trabalhos nesta segunda-feira (19) sem chegar a um consenso sobre se o país deveria formular um pedido formal de desculpas.

O anúncio acontece no mesmo dia em que o primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, ofereceu desculpas oficiais pelo papel do Estado holandês durante o período da escravidão.

A comissão na Bélgica trabalhou durante dois anos sem chegar a um acordo sobre como formular uma desculpa pelos excessos durante a colonização da República Democrática do Congo, Ruanda e Burundi.

Os socialistas e ecologistas belgas afirmaram que o partido no poder, o liberal, é o responsável pelo fracasso por sua recusa a votar um relatório com recomendações que incluísse o tema das desculpas.

“Os liberais sabotaram o trabalho da comissão por dogmatismo colonial”, afirmou à AFP o deputado ecologista Guillaume Defossé. “É um desastre, uma decepção enorme”, acrescentou.

Em 2020, após os protestos nos Estados Unidos do movimento contra o racismo Black Lives Matter, ocorreram manifestações na Bélgica contra a memória do rei Leopoldo II e outras figuras da era colonial.

Esse monarca do século 19 é uma figura polêmica, considerado o pai da nação belga moderna. Contudo, na África, seu reinado esteve marcado por assassinatos, mutilações e a escravização de dezenas de milhares de pessoas.

O monarca atual, rei Philippe, manifestou em junho o seu “profundo pesar” pelo “paternalismo, as discriminações e o racismo” que deram lugar a “abusos e humilhações” durante a era colonial.

Para alguns no Parlamento, este gesto foi suficiente.

Muitos legisladores liberais afirmaram que são contra um pedido de desculpas pelo conjunto dos fatos, ao invés do reconhecimento de responsabilidade por crimes específicos.