Mais de 100 dias de mobilização representaram um duro golpe na economia de Hong Kong, uma das capitais mundiais mais apreciadas para ir às compras.

Em agosto, Hong Kong registrou uma redução de 40% no número de turistas em comparação com o ano anterior, segundo o secretário de Finanças, Paul Chan.

A grande maioria dos turistas em Hong Kong procedem da China continental. As imagens de confrontos, por vezes violentos, entre os manifestantes pró-democracia e a polícia deram a volta ao mundo desde o lançamento, em junho, de um projeto de lei que facilitaria as extradições para a China, alimentada pelo temor de que Pequim ganhe mais poder na ex-colônia britânica.

Um dos bairros mais afetados desde junho é Causeway Bay, conhecido por suas diversas lojas de luxo. No fim de semana passado, os clientes testemunharam confrontos entre a polícia, que disparava gás lacrimogêneo, e manifestantes mascarados.

Chiu, de 39 anos, farmacêutico de Causeway Bay, teve uma queda de faturamento de 50%. Os estrangeiros, que representavam metade de sua clientela antes do início dos protestos, quase não frequentam mais seu comércio, explica à AFP.

“Também parece que são menos clientes locais comprando. O clima social não está bom”, lamenta Chiu. Em várias ocasiões, o farmacêutico, que não quis dar seu nome completo, fechou as portas para proteger a loja das granadas lacrimogêneas.

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– Pior que em 2014 –

Segundo ele, a situação é pior do que em 2014, quando a “Revolução dos Guarda-Chuvas” paralisou a cidade, um dos maiores centros financeiros do mundo, por 79 dias.

A taxa de ocupação dos hotéis diminuiu, com repercussões em cascata na atividade de lojas e restaurantes. Recentemente, muitos eventos culturais e esportivos foram cancelados, incluindo o torneio internacional de tênis feminino.

O crescimento econômico da cidade, ajustado pelas variações, recuou 0,4% no segundo trimestre. Mas essa queda teve início antes dos protestos, com a desaceleração econômica global e a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos.

A agência de classificação de crédito Fitch rebaixou a dívida soberana de Hong Kong no início de setembro, considerando que a confiança internacional de Hong Kong no “sistema de governo e Estado de Direito” foi afetada.

Os avisos de Pequim, que ligaram as manifestações a atos de “quase terrorismo”, contribuíram para o desaparecimento de turistas da China continental, que em junho representaram mais de 80% dos visitantes.

O número de grupos de turistas chineses diminuiu 90% nos primeiros 10 dias de setembro, em comparação com o ano passado, segundo a AFP Jessica Wan, porta-voz do Conselho de Turismo.

O aeroporto da cidade, o oitavo aeroporto internacional mais frequentado do mundo, registrou uma queda de 12,4% no número de passageiros, ou seja, cerca de 850.000 passageiros a menos.

– Lojas fechadas –

Muitos comerciantes viram sua rotatividade profundamente afetada. Em Wan Chai, o gerente de uma loja de relógios teve que demitir metade de sua equipe. “Se você andar pelas ruas, verá que várias lojas de relógios já fecharam”, disse o gerente da loja, que se chama Wong, à AFP.


Neste bairro popular, cheio de letreiros luminosos de inúmeras lojas, os comerciantes também estão preocupados. Uma vendedora de bolsas falsificadas diz que ganha cinco vezes menos do que no início do ano.

Os protestos não mostram sinais de apaziguamento, e mesmo os comerciantes que apoiam o movimento pró-democracia têm sentimentos contraditórios. “Eu apoio os jovens”, diz o farmacêutico Chiu, que deixa água à sua porta para os manifestantes. “Mas também tenho que levar meus negócios adiante”, acrescenta.


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