O ator e comediante, novato na política, Volodimir Zelensky obteve no domingo (21) uma impressionante vitória nas eleições presidenciais da Ucrânia contra o atual presidente Petro Poroshenko, refletindo a desconfiança dos eleitores a respeito do governo neste país em tensão mulitar com a Rússia.

Poucos levaram o humorista de 41 anos a sério quando ele anunciou sua candidatura em 31 de dezembro.

Após quatro meses de campanha, focada principalmente nas redes sociais, o ator conquistou 73,2% dos votos no segundo turno da eleição, contra 24,2% do rival, anunciou a Comissão Eleitoral após a apuração de 85% das urnas.

“Eu nunca vou decepcionar vocês”, prometeu Zelensky aos ucranianos do seu quartel-general de campanha. Ele também agradeceu a seus partidários, antes de se dirigir a “todos os países do espaço pós-soviético”: “Olhem para nós! Tudo é possível!”.

Em sua primeira entrevista coletiva após eleito, o futuro presidente prometeu que continuará o “processo de Minsk”, em referêncua aos acordos de paz assinados na capital de Belarus em fevereiro de 2015 para tentar encerrar o confluto no leste da Ucrânia que custou 13.000 vidas.

O primeiro-ministro russo Dmitri Medvedev afirmou nesta segunda-feira que Moscou tem uma “oportunidade” de melhorar as relações com Kiev após a vitória de Zelenski.

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“Há uma oportunidade de melhorar a cooperação com nosso país”, afirmou Medvedev, ao mesmo tempo que destacou “não ter ilusões” sobre Zelenski, alegando que “ninguém dúvida que o novo chefe de Estado utilizará a mesma retórica a respeito da Rússia que utilizou durante a campanha”.

Cinco anos após a revolução pró-ocidental, conhecida como Euromaidan, violentamente reprimida, os ucranianos mais uma vez decidiram virar a mesa, em um processo eleitoral repleto de golpes baixos, mas marcado pela calma e pelo respeito às regras democráticas.

Neste novo episódio impressionante da onda global anti-elites, o maremoto de Zelensky, que prometeu “quebrar o sistema” sem se desviar do curso pró-ocidental, dá a medida da desconfiança dos ucranianos em relação à sua classe política.

Aos 53 anos, o veterano político Petro Poroshenko foi penalizado pelos diversos escândalos de corrupção em curso desde a independência em 1991, pelas dificuldades econômicas de um dos países mais pobres da Europa e por sua incapacidade de dar fim ao conflito que seu país enfrenta.

Poroshenko admitiu a derrota parabenizou o rival antes mesmo dos resultados oficiais. “Vou deixar o gabinete, mas quero reforçar firmemente: não vou largar a política”, prometeu.

– Presidente sem maioria –

O projeto político de Volodymyr Zelensky permanece muito vago.

Presidente, ele será chefe das Forças Armadas e responsável por nomeações importantes. Mas sua margem de manobra para tomar medidas concretas será muito limitada pela falta de maioria parlamentar, enquanto as eleições legislativas estão planejadas apenas para 27 de outubro.

Os desafios nesta ex-república soviética são imensos. A chegada ao poder dos pró-ocidentais em 2014 foi seguida pela anexação por Moscou da península ucraniana da Crimeia e por uma guerra no leste que matou quase 13.000 pessoas em cinco anos.

A crise contribuiu em grande parte para as graves tensões atuais entre a Rússia e os ocidentais, que se impuseram sanções recíprocas.

Com a confirmação da eleição deste inexperiente presidente será acompanhada de perto pelas chancelarias.


Para Moscou, a vitória de Zelensky mostra “que os cidadãos ucranianos votaram pela mudança”, segundo afirmou à agência Ria Novosti o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Grigori Karassin.

Ele acrescentou que “o novo governo do país deverá compreender e concretizar as esperanças dos eleitores”.


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