O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou nesta quarta-feira, 13, que a economia brasileira tem vários “colchões” para enfrentar o ano eleitoral de 2018. Apesar de evitar a todo custo falar sobre o impacto das eleições na economia, o presidente do BC disse que entrar em 2018 com a inflação abaixo da meta já é um importante colchão.

Ele, que concedeu nesta quarta entrevista coletiva para fazer um balanço da instituição em 2017 e das ações da Agenda BC+, citou outros “colchões”: reservas internacionais elevadas, contas externas sustentáveis financiadas pelo investimento estrangeiro direto, níveis de swaps cambiais mais baixos e expectativas de inflação ancoradas.

Segundo ele, a economia está preparada para diferentes choques e fez referência ao cambial. Ele descartou qualquer mudança no nível de reservas internacionais. Na sua avaliação, não é o momento de discussão de redução das reservas no ano que vem. “Não vamos discutir o seguro no momento do sinistro”, afirmou de forma categórica e, na prática, sinalizando riscos de volatilidade em 2018.

Ilan fez questão de ressaltar que o balanço de pagamento do País com o exterior está caminhando para um déficit em conta corrente abaixo de 0,5% do PIB e sendo financiado por um volume de investimentos estrangeiros diretos de 4,5% do PIB.

“Temos uma quantidade de reservas de quase 20% que nos dá a tranquilidade para atravessar qualquer momento mais volatilidade”, disse ele, ressaltando que posição do BC em ano de eleições é dar uma contribuição “neutra” e “técnica”. Em relação à quantidade de estoque de swaps cambiais, o presidente do BC destacou que o volume caiu de US$ 110 bilhões para um patamar de US$ 20 bilhões a US$ 30 bilhões.

O presidente do BC disse considerar que a inflação de um grande ativo que permitiu a queda da taxa de juros e a recuperação do poder de compra da população brasileira. “É algo benéfico para sociedade brasileira”, disse.

Ele elencou duas decisões do BC que foram importantes para que isso ocorresse: atingir as expectativas de inflação por meio de uma política monetária firme e não tentar combater a queda de preços de itens que o BC não tem controle tentando subir os preços daqueles que controla.

Permanência

O presidente do BC não quis responder pergunta do Broadcast (serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado) se permanece no BC até o final de 2018 ou se pode substituir Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda, no caso do ministro se candidatar no pleito do ano que vem.

Conservadorismo

Ao ser questionado sobre se arrependeria de ter sido muito conservador no corte de juros em algum momento desde o ano passado, Ilan Goldfajn respondeu que, olhando os resultados da economia e da inflação deste ano, acredita que os BC seguiu os princípios de boa condução da política monetária. “Quando você ancora as expectativas, você reduz o custo da política monetária. A ancoragem de expectativas contribuiu para melhora da economia e para a criação de empregos”, afirmou.

O presidente da autoridade monetária também esclareceu que a taxa de juros do cartão de crédito regular – aquele que está sendo pago – já caiu, sim, pela metade. “A taxa que não caiu é a não regular. Fizemos inclusive uma campanha para que consumidores paguem pelo menos o mínimo do cartão. Vamos continuar no esforço de reduzir todas as taxas do cartão do crédito”, completou.

Reformas

Ilan Goldfajn afirmou que o BC não pode antecipar seus próximos passos, “porque tem que olhar a conjuntura, olhar os riscos e tomar a decisão a cada 45 dias”. No entanto, segundo ele, se as reformas e os ajustes na economia forem aprovados, o País terá uma trajetória de juros mais baixa.

Sobre as taxas cobradas do consumidor final, afirmou que os juros bancários são altos, “mas estão em queda e acredito que seguirão em queda”. Ele citou uma série de medidas tomadas pelo BC com impacto no custo do crédito, como as relacionadas a garantias (registro eletrônico e LIG), à competição entre as instituições e às fintechs. “Tudo isso faz parte do esforço para reduzir o custo de crédito no Brasil”, disse.

Questionado a respeito do nível dos compulsórios no Brasil, superior ao verificado em outros países, Ilan Goldfajn afirmou que a questão é pensada de forma estrutural, com foco no médio e no longo prazo, para reduzir o custo do crédito. “A ideia é ir para baixo, não ir para cima ou ficar parado”, disse.

Ele destacou ainda que o cenário básico do BC é bastante positivo. Lembrou também que contempla o risco de inflação mais baixa que o esperado e o risco de frustração com as reformas. De acordo com Ilan Goldfajn, estes riscos são simétricos.

Impacto no câmbio

O presidente do Banco Central evitou responder sobre o impacto da aprovação ou não da reforma da Previdência sobre a trajetória do câmbio. “Para nós é complicado comentar impactos de curto prazo em ativos financeiros. Mas acredito que, com o avanço da reforma da Previdência, haverá impacto positivo na economia brasileira e os agente econômicos irão prestar atenção nisso”, afirmou.

O presidente do BC disse ainda que a política econômica do governo e suas reformas têm contribuído para os resultados atuais da economia. Segundo ele, houve complementariedade entre as políticas monetária e fiscal.

“A inflação não teria caído nessa intensidade se a política econômica não houvesse mudado de direção, no sentido de estabilizar a dívida e dar mais segurança para a economia. Não podemos perder a oportunidade de consolidar os ganhos deste ano”, afirmou o presidente do BC. “Seria uma perda de oportunidade não sustentarmos essa recuperação de forma permanente, com inflação baixa e juros baixos. Por isso as reformas são importantes”, enfatizou.

Ele voltou a dizer que o cenário básico considerado pela autoridade monetária é positivo, com expectativas de inflação ancoradas, continuidade do crescimento da economia, e uma perspectiva de marcado com taxa de juros relativamente baixa pelos próximos anos. “Mas existe riscos para os dois lados, tanto de termos um cenário mais conturbado, como também o risco de uma inflação mais baixa se perpetuar adiante”, repetiu.

Perguntado sobre o projeto que altera a relação entre o BC e o Tesouro Nacional, Ilan Goldfajn explicou que havia “desconfortos e assimetrias” no excesso de transferências entre os dois órgãos. “O que a nova lei faz é limpar isso. O impacto é apenas mais eficiência e transparência”, respondeu. Segundo ele, a mudança não foi proposta com o objetivo de auxiliar o governo a cumprir a Regra de Ouro.

Questionado também sobre a redução do prazo para o pagamento dos cartões de crédito aos lojistas, que fazia parte das ações da Agenda BC+ prometidas pela autoridade monetária há um ano, o presidente do BC afirmou apenas que os estudos para viabilizar isso estão avançando.