Quatro jovens afegãos começaram a ser julgados nesta sexta-feira (11) em um tribunal na ilha grega de Chios, acusados de atear fogo ao campo de refugiados de Moria, em Lesbos, então o maior da Europa, em setembro de 2020.

Os réus, que chegaram algemados e escoltados por policiais, podem ser condenados a até 15 anos de prisão sob a acusação de incêndio criminoso e de pertencer a uma organização criminosa, informou uma fonte judicial à AFP.

O acampamento de Moria, criado em 2005 no auge da crise migratória, foi completamente destruído por dois incêndios em 8 e 9 de setembro de 2020, que não causaram vítimas.

Mais de 13.000 migrantes desabrigados vagaram por dias na ilha de Lesbos, incluindo crianças e pessoas com deficiência, antes que um novo campo de emergência fosse aberto.

Em outro julgamento em março, dois jovens afegãos, menores na época dos eventos, foram condenados a cinco anos de prisão por um tribunal de Lesbos por causa desses incêndios.

Na vizinha ilha de Chios, onde acontece o segundo julgamento no qual jornalistas não foram autorizados a entrar por razões sanitárias, os advogados dos quatro afegãos devem levantar a questão da idade dos acusados.

A ONG Legal Centre Lesbos, que os defende, denuncia que três deles não foram reconhecidos como menores, apesar de terem apresentado documentos que comprovavam a idade durante a sua detenção.

– Testemunha-chave ausente –

A maior parte da acusação é baseada no testemunho de um solicitante de asilo afegão que também vivia no campo de Moria e que identificou os seis jovens como os autores do incêndio, de acordo com uma fonte judicial.

Esta testemunha-chave não estava presente na audiência desta sexta-feira, constatou um jornalista da AFP.

Segundo a defesa, também não compareceu ao julgamento de março, pois não foi localizada.

“Nós não fizemos isso. Somos inocentes”, disseram os quatro suspeitos, segundo seu intérprete, durante audiência em meados de setembro com um juiz de instrução.

Os suspeitos acusam esta testemunha de tê-los incriminado por não pertencerem à mesma tribo, disseram os advogados de defesa à AFP.

Os confrontos entre tribos ou grupos étnicos rivais eram comuns no campo de Moria, que abrigava mais de 20.000 pessoas em março de 2020.

No momento do incêndio, a situação era explosiva no acampamento superlotado, onde os migrantes viviam em péssimas condições de higiene e sob estrito confinamento por meses devido ao coronavírus.

Como todo o país, Moria ficou confinado em março de 2020, mas, por outro lado, não se beneficiou da suspensão gradual das medidas restritivas.

O acesso das ONGs também foi proibido devido aos riscos de contágio.

Em 2 de setembro de 2020, um primeiro caso foi detectado em um refugiado que retornava a Moria após uma estadia no continente e as tensões explodiram dias depois.

De acordo com depoimentos obtidos pela AFP, na noite do primeiro incêndio, cerca de 200 migrantes se recusaram a ser colocados em quarentena em uma zona de isolamento criada no campo.