O julgamento criminal contra Donald Trump, o primeiro ex-presidente da história dos Estados Unidos a se sentar no banco dos réus, começou nesta segunda-feira (15) em um tribunal de Nova York, em plena campanha presidencial de 2024.

Durante a manhã, o juiz de instrução Juan M. Merchan rejeitou várias petições da defesa, incluindo o pedido de afastamento do caso.

O juiz também advertiu o magnata, que em alguns momentos balançava a cabeça com irritação para expressar sua desaprovação e chegou a ser surpreendido dormindo, de que poderia ser acusado de desacato em caso de interrupção do processo.

Em 24 de abril, durante uma audiência, será decidida uma denúncia do Ministério Público de que o republicano de 77 anos teria violado a ordem do juiz que lhe proibiu de se referir ao caso, especialmente em suas redes sociais, onde costuma criticar Merchan, sua família e as testemunhas que comparecerão ao julgamento.

Trump é acusado de ocultar um pagamento de US$ 130 mil (R$ 672 mil, na cotação atual) à ex-atriz pornô Stormy Daniels para comprar seu silêncio sobre um suposto caso extraconjugal que remonta a 2006 e para proteger sua campanha eleitoral em 2016, na qual acabou vencendo contra a democrata Hillary Clinton.

O bilionário não está sendo acusado pelo pagamento em si para ocultar um relacionamento sexual que ele sempre negou, mas por tê-lo disfarçado como despesas legais da Organização Trump, sua empresa familiar, o que pode resultar em uma condenação de até quatro anos de prisão.

Seu destino estará nas mãos de um júri de 12 membros e seis suplentes que começaram a ser selecionados nesta segunda-feira entre centenas de candidatos potenciais e que emitirão um veredicto unânime após um julgamento que se estima possa durar até dois meses.

Dos primeiros 96 candidatos que entraram na sala, mais da metade levantou a mão para dizer que não seria imparcial e foi dispensada.

Escolhidos por sorteio, os candidatos são identificados por um número para ocultar seus nomes por razões de segurança e devem responder a um questionário minucioso sobre suas simpatias políticas, as fontes de informação que utilizam e sobre sua imparcialidade e capacidade de decidir o destino de um dos políticos mais influentes dos últimos tempos, tanto nos Estados Unidos quanto no mundo.

A seleção pode durar vários dias.

Uma sentença de culpabilidade não seria um obstáculo para que Trump se candidate às eleições presidenciais de 5 de novembro, onde enfrentará pela segunda vez o democrata Joe Biden, que o derrotou há quatro anos. Nem mesmo para assumir a Presidência.

– ‘Perseguição política’ –

Para o republicano, o julgamento é uma “perseguição política” orquestrada pelos democratas para impedir que ele realize seu sonho de retornar à Casa Branca.

“Isso é um ataque aos Estados Unidos. Nunca aconteceu nada parecido”, disse o republicano ao chegar ao tribunal.

Trump é acusado de 34 falsificações de documentos contábeis da Organização Trump para camuflar os pagamentos feitos a Stormy Daniels como “despesas legais”, adiantadas do próprio bolso pelo então advogado de Trump e homem de confiança, Michael Cohen, atualmente seu inimigo declarado e que será uma das testemunhas-chave da acusação.

O julgamento terá que determinar o que Trump sabia sobre esses pagamentos, pelos quais Cohen já foi condenado.

– ‘Muito em jogo’ –

Este é uma das diversas frentes aberta pelo magnata nova-iorquino, que acumulou sua fortuna no setor imobiliário e na construção de campos de golfe e que alega ser vítima de “uma caça às bruxas”.

O republicano também é acusado de tentar reverter os resultados das eleições presidenciais de 2020 e pelo manuseio irresponsável de documentos sigilosos que levou para sua residência ao deixar a Casa Branca.

“Muito está em jogo, porque Trump e seus advogados conseguiram até agora adiar os [outros] julgamentos” para depois das eleições, diz à AFP Carl Tobias, professor de direito da Universidade de Richmond.

No entanto, longe de prejudicar sua caminhada rumo à Presidência, esses confrontos judiciais parecem fortalecê-la entre seus seguidores fiéis.

Shawn, um dos poucos apoiadores que compareceu ao tribunal para apoiar Trump, afirma que “estamos chegando a um ponto realmente ridículo”. “No final do dia, é uma interferência eleitoral. Eles estão tentando impedir que um oponente político ganhe”, disse à AFP.

Já Jamie Bauer, uma crítica ao ex-presidente, argumenta, pelo contrário, que a “interferência eleitoral” ocorreu no pagamento pelo silêncio “para encobrir informações que ele considerava prejudiciais para sua campanha”.

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