Uma greve ferroviária deve paralisar os trens em toda a Alemanha por quase seis dias a partir da madrugada desta quarta-feira (24/01), na maior greve do tipo na história do país.

O sindicato alemão GDL, que tem 40 mil membros e representa principalmente maquinistas de trem, mas também outros funcionários da rede ferroviária, anunciou a paralisação na segunda-feira.

A greve afeta os transportes de passageiros da Deutsche Bahn, a companhia ferroviária nacional da Alemanha, desde as 2h da madrugada desta quarta-feira (horário de Berlim) até a tarde da próxima segunda-feira. Além dos trens de longa distância, a paralisação também atinge composições regionais e alguns trens urbanos.

Já os transportes de mercadorias pararam algumas horas antes, na noite de terça, e só retornam na segunda às 18h, somando um total de 144 horas.

A paralisação desta semana é a quarta greve ferroviária na atual disputa sobre salários entre a Deutsche Bahn e o GDL. O sindicato convocou outras duas grandes greves no final de 2023 e uma terceira no início de janeiro, que durou três dias e levou a reduções drásticas nos serviços.

A Deutsche Bahn tentou – sem sucesso – impedir greves anteriores por meio de uma liminar judicial. Desta vez, a empresa disse que não acionará a Justiça.

A convocação da atual greve veio depois de a companhia ferroviária ter tentado atrair o GDL de volta à mesa de negociações com uma nova oferta de salário e condições na última sexta-feira, mas que o sindicato acabou rejeitando.

“Com sua terceira oferta, supostamente melhorada, a Deutsche Bahn demonstrou mais uma vez que está dando continuidade ao seu curso anterior de descumprimento e confronto – não há nenhum traço de vontade de reconciliação”, disse o GDL em comunicado.

Já Martin Seiler, chefe de pessoal da Deutsche Bahn, criticou o sindicato, argumentando que ele usa as greves não como último recurso, mas como um meio de autopromoção.

Quais são as exigências dos grevistas?

De acordo com a Deutsche Bahn, sua última oferta para o GDL previa um aumento salarial de 4,8% em média para os funcionários a partir de agosto e mais 5% a partir de abril de 2025.

A companhia disse que os termos também incluiriam um pagamento compensatório para levar em conta a inflação, que seria fixado por um período de 32 meses.

A partir de 2026, também ofereceria aos funcionários em turnos rotativos a opção de passar de uma média de 38 horas semanais para 37, ou de receber pagamento extra caso não desejem reduzir sua carga de trabalho.

O GDL, por sua vez, está pedindo um adicional de 550 euros por mês para os funcionários e um pagamento de compensação pela inflação fixado apenas por um período de 12 meses.

Também está pedindo uma redução imediata da carga horária dos trabalhadores em turnos de 38 para 35 horas, sem alteração na remuneração.

Entre os motivos para negar as exigências do sindicato, a Deutsche Bahn alega que está tentando recrutar novos funcionários, e que tamanha redução das horas dos funcionários existentes agravaria a escassez de pessoal.

Quais são os custos da greve?

A paralisação afeta não só a Deutsche Bahn, mas outras empresas alemãs que transportam suas matérias-primas ou mercadorias por via férrea. E as consequências serão sentidas também nos países vizinhos, já que a Alemanha é considerada o “coração logístico” da Europa.

Quase 60% dos serviços de transporte de mercadorias da Deutsche Bahn são realizados em todo o continente. Seis dos 11 corredores para transporte de mercadorias europeus passam pela Alemanha, de acordo com o Ministério dos Transportes.

Os custos de tais greves são difíceis de avaliar. Análises de paralisações anteriores mostraram que elas podem causar perdas de até 100 milhões de euros por dia.

Michael Grömling, chefe de pesquisa em economia do Instituto Econômico Alemão, afirma, porém, que os custos de uma greve de seis dias não aumentam linearmente, mas costumam se multiplicar. “Rapidamente nos encontramos diante de um prejuízo de 1 bilhão de euros”, prevê.

Além disso, o impacto da greve do transporte de carga deverá ser sentido mesmo depois, por interrupções no tráfego. Após a última greve do transporte de carga, foram necessários dias para que os atrasos fossem resolvidos. A Deutsche Bahn está prevendo uma perda de cerca de 25 milhões de euros por dia somente para a empresa.

Sem contar que greves do tipo “mancham a imagem da Alemanha como local de negócios”, segundo o economista-chefe do Commerzbank, Jörg Krämer.

Frank Huster, diretor administrativo da Associação Alemã de Agenciamento de Cargas e Logística, afirma que greves podem fazer com que as empresas de logística percam a confiança no transporte ferroviário de cargas.

A reputação da Deutsche Bahn já estava sofrendo muito devido a repetidas falhas técnicas, uma rede ferroviária extremamente ultrapassada e problemas contínuos de infraestrutura, diz Huster.

ek (DW, AFP, DPA, Reuters)