Os combates recomeçaram, neste domingo (16), entre as forças do governo afegão e o Talibã no sul do Afeganistão, ao final de três dias de trégua decretada pelo feriado muçulmano do Eid al-Fitr e em um contexto de retirada das últimas tropas americanas.

Os confrontos eclodiram na periferia de Lashkar Gah, capital da província de Helmand, disseram um porta-voz do Exército e uma autoridade local.

Essa área tem sido palco de intensos combates desde 1º de maio, quando os Estados Unidos deveriam ter retirado seus 2.500 soldados do país.

“O Talibã e as forças do governo entraram em confronto quando o cessar-fogo terminou”, declarou à AFP Ataullah Afghan, presidente do conselho provincial de Helmand.

Ele acrescentou que os “combates começaram de manhã cedo e ainda continuam”. Os insurgentes atacaram vários postos de controle ao redor da capital provincial e em outros distritos.

Um porta-voz do Exército afegão também confirmou a retomada dos combates.

Já o porta-voz dos insurgentes, Zabihullah Mujahis, ressaltou que as forças afegãs “iniciaram as operações”. “Não nos responsabilize”.

O Talibã, e depois o governo afegão, anunciaram na segunda-feira passada um cessar-fogo de três dias por ocasião do Eid al-Fitr, o feriado muçulmano que marca o fim do Ramadã.

Essa trégua foi respeitada globalmente por ambas as partes. Mas a frágil calma foi interrompida na sexta-feira pela explosão de uma bomba em uma mesquita nos arredores de Cabul, na qual 12 fiéis, incluindo o imã, morreram.

O Talibã negou responsabilidade pelo ataque, reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI), de acordo com a agência americana SITE, especializada no monitoramento da atividade online de grupos extremistas islâmicos.

O EI afirmou que o explosivo foi colocado na mesquita e detonado quando os fiéis entraram no prédio.

A trégua, que terminou na noite de sábado, foi a quarta entre os talibãs e as forças do governo em duas décadas de conflito.

Na sexta, negociadores do governo afegão e membros da liderança do movimento talibã se reuniram no Catar para discutir como acelerar as negociações de paz, após meses de bloqueio.

“Ambas as partes concordaram em continuar as negociações após” o Eid al-Fitr, disseram os insurgentes no Twitter.

Antes da trégua, e desde 1º de maio, quando Washington deveria ter concluído a retirada de seus 2.500 soldados ainda presentes em virtude de um acordo assinado sob a presidência de Donald Trump, o Afeganistão é palco de um ressurgimento da violência.

As tropas americanas retiraram-se na quarta-feira da base aérea de Kandahar, uma das mais importantes do território afegão, no sul.

Os Estados Unidos e os outros países da Otan se comprometeram a retirar todos os seus contingentes do Afeganistão antes de 11 de setembro, aniversário de 20 anos dos ataques de 2001.

Os combatentes talibãs estão se aproximando dos grandes centros urbanos, como se esperassem a retirada das tropas americanas para lançar grandes ofensivas contra as cidades.

Em 8 de maio, mais de 50 pessoas foram mortas e cerca de 100 ficaram feridas em um bairro xiita do oeste da capital, em uma série de explosões em frente a uma escola de meninas.

Foi o ataque mais mortal em um ano. As autoridades atribuíram ao Talibã, que negou.

“Será muito difícil para nós realizar as operações”, declarou na semana passada à AFP um oficial afegão, após a retirada das forças americanas da base aérea de Kandahar.

“Nossos aviões não podem voar à noite, então as operações noturnas serão difíceis”, acrescentou.