Confrontos armados entre apoiadores de dois governos rivais na Líbia deixaram neste sábado 23 mortos e 140 feridos em Trípoli e aumentaram o medo de que o caos político no país do norte da África possa se transformar em guerra.

Os combates ocorreram em diversos bairros da capital e se estendiam na noite de hoje para outras regiões. Seis hospitais foram atingidos pelos ataques, segundo o Ministério da Saúde, que divulgou o novo balanço das vítimas.

Dois governos disputam o poder na Líbia desde março: um baseado em Trípoli (oeste), liderado por Abdelhamid Dbeibah desde 2021, e outro liderado por Fathi Bashagha, radicado em Sirte, e que conta com o apoio do marechal Khalifa Haftar, que exerce grande poder no leste.

Dbeibah apareceu em um vídeo cercado de seguranças e cumprimentando combatentes do seu grupo. Ambos os governos se acusaram mutuamente pela explosão de violência mais recente, que causou danos significativos. Dezenas de veículos foram incendiados e prédios foram atingidos por tiros ou alvo de incêndios.

– Acusações –

Na noite de hoje, apenas milicianos circulavam pelas ruas de Trípoli e fumaça era vista em vários pontos da cidade.

Bashagha considera que o Executivo da capital é “ilegítimo” e desde que foi nomeado líder pelo Parlamento em fevereiro, tentou, sem sucesso, entrar em Trípoli. Recentemente, ele ameaçou recorrer à força.

Ele é apoiado pelo poderoso marechal Khalifa Haftar, líder militar do leste da Líbia, cujas forças tentaram conquistar Trípoli em 2019.

Dbeibah disse que só entregará o poder a um governo eleito e acusou Bashagha de “cumprir suas ameaças” de tomar Trípoli à força.

De acordo com seu Governo de União Nacional (GNU), os combates eclodiram após o fracasso de uma série de negociações para evitar um derramamento de sangue na cidade ocidental, conversas que Bashagha teria “abandonado no último momento”.

Bashagha negou que tais conversas tenham ocorrido e acusou a administração “ilegítima” de Dbeibah de “se agarrar ao poder”.

– Preocupação internacional –

Emadeddin Badi, analista do Atlantic Council, alertou que a violência pode aumentar rapidamente. “A guerra urbana tem sua própria lógica. É prejudicial tanto para a infraestrutura civil quanto para as pessoas, então, mesmo que não seja uma guerra longa, será muito destrutiva, como já vimos”, disse à AFP.

Para o especialista, a luta pode fortalecer Haftar e pessoas próximas a ele. “Eles se beneficiarão das divisões no oeste da Líbia e terão uma melhor posição de negociação quando a poeira baixar.”

As tensões entre grupos armados leais ao líderes rivais aumentaram nos últimos meses em Trípoli. Em 22 de julho, os combates causaram 16 mortes, incluindo civis, além de cinquenta feridos.

A missão da ONU na Líbia pediu “o fim imediato das hostilidades”, citando “confrontos armados em andamento, incluindo bombardeios indiscriminados em bairros habitados por civis”. A embaixada dos Estados Unidos no país expressou preocupação com os confrontos. O Catar, por sua vez, pediu “a todas as partes que evitem uma escalada da violência e um banho de sangue e resolvam suas disputas por meio do diálogo”.

A tensão entre grupos armados leais a um ou outro dos líderes rivais aumentou nos últimos meses em Trípoli. Em 22 de julho, os combates causaram 16 mortes e deixaram meia centena de feridos.

A Líbia está há mais de uma década em crise e em repetidos episódios de conflito armado por mais de uma década após a queda do ditador Muammar Khadafi em uma revolta apoiada pela Otan em 2011. Desde então, o país teve uma dezena de governos e não consegue organizar eleições presidenciais, devido às fortes divergências.