Novos combates entre a Armênia e o Azerbaijão nesta terça-feira (14) mataram ao menos nove militares, apesar dos pedidos internacionais de contenção, inclusive da Rússia, a principal potência regional.

Esses confrontos, no distrito fronteiriço de Tovouz, opõem dois inimigos de longa data e constituem os incidentes mais sérios em vários anos, provocando temores de um conflito que pode abalar o Cáucaso, uma região instável.

O Azerbaijão anunciou nesta terça a morte de sete de seus soldados e de um civil. O país havia relatado anteriormente quatro soldados mortos em suas fileiras nos últimos dois dias. O saldo total do lado azerbaijano subiu para 11 soldados e um civil mortos.

A Armênia anunciou, por sua vez, as primeiras baixas, com a morte de dois membros de suas forças armadas sob fogo inimigo.

As duas ex-repúblicas soviéticas estão em conflito há décadas sobre a região separatista de Nagorny-Karabakh, no Azerbaijão, um território predominantemente povoado por armênios que proclamou independência, com o apoio de Erevan, no início dos anos 1990: isso de início a um conflito que matou 30.000 pessoas. Um cessar-fogo precário está em vigor desde 1994.

Os confrontos nos arredores desta região são bastante frequentes, mas os combates na fronteira entre o Azerbaijão e a Armênia, como os que estão em andamento, são muito mais raros.

Os dois campos rejeitam a responsabilidade pelas hostilidades.

Pelo terceiro dia consecutivo, o ministério da Defesa do Azerbaijão acusou a Armênia de partir para a ofensiva com artilharia, morteiros e metralhadoras pesadas.

Seu vice-ministro, Karim Valiev, elogiou a “morte heroica” nesta terça de um general, de um coronel e de cinco outros soldados.

O ministério também anunciou em uma breve declaração que havia realizado “medidas punitivas” contra as forças armênias, levando à destruição de equipamentos, incluindo sistemas de armas, bem como à perda de vidas do adversário.

Já a Armênia acusou as forças do Azerbaijão de atacar “usando artilharia, tanques e veículos aéreos não tripulados”, segundo Chouchane Stepanian, porta-voz de seu ministério de Defesa.

Infraestruturas civis teriam sido alvos na cidade de Berd, perto da fronteira.

“Esses ataques à segurança da população civil da Armênia serão objeto de uma resposta proporcional”, alertou o ministério das Relações Exteriores armênio.

Os combates levaram a Rússia, os Estados Unidos e a União Europeia a pedir uma trégua, enquanto a Turquia, inimiga de longa data da Armênia, apoiou o Azerbaijão, país de língua turca.

O Kremlin, um dos mediadores do conflito de Nagorny-Karabakh, pediu “contenção” ao Azerbaijão e à Armênia.

“Estamos profundamente preocupados com a troca de tiros na fronteira entre a Armênia e o Azerbaijão”, disse Dmitri Peskov, porta-voz da presidência russa, oferecendo uma “mediação”.

Uma guerra aberta entre Baku e Erevan poderia desestabilizar toda a região do Cáucaso, onde Moscou e Ancara, em particular, têm interesses geoestratégicos concorrentes.

A recente escalada ocorre pouco depois das declarações do presidente do Azerbaijão Ilham Aliyev, que ameaçou deixar as negociações de paz em Karabakh, dizendo que seu país tinha o direito de buscar “uma solução militar para o conflito”.

Os gastos militares do Azerbaijão, uma potência petrolífera, são maiores do que todo o orçamento da Armênia. Mas Erevan pertence a uma aliança político-militar liderada por Moscou, a Organização do Tratado de Segurança Coletiva.

Em 2016, os confrontos armados em torno de Karabakh quase degeneraram em uma guerra aberta entre Erevan e Baku.

Este conflito tem sido objeto de mediação russo-americana-francesa desde 1992 na OSCE (Organização para Segurança e Cooperação na Europa), conhecida como Grupo de Minsk.