Forças israelenses e milicianos do Hamas travaram combates intensos neste sábado (27) no sul da Faixa de Gaza, continuando a empurrar milhares de deslocados que vivem em “condições desesperadoras” em direção à fronteira do território palestino com o Egito.

No território cercado, a Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês) está na mira das autoridades israelenses, que acusaram alguns funcionários da organização de envolvimento no ataque violento do Hamas de 7 de outubro que desencadeou a guerra.

Israel pretende garantir que a UNRWA não tenha nenhum papel em Gaza após o conflito, afirmou neste sábado o chefe da diplomacia do país, Yisrael Katz. O movimento islamista palestino Hamas denunciou “ameaças” israelenses contra a agência.

O governo dos Estados Unidos anunciou na sexta-feira a suspensão temporária do financiamento à UNRWA, medida que também foi adotada neste sábado por Austrália, Canadá, Finlândia, Reino Unido e Itália.

A Autoridade Palestina pediu aos contribuintes que desistam das suspensões e afirmou que a organização internacional deve receber “apoio máximo”.

Os combates estão concentrados atualmente em Khan Yunis, a maior cidade do sul de Gaza e onde os dois principais hospitais, que abrigam milhares de deslocados, mal funcionam em um cenário de ofensiva implacável.

Um deslocado de 28 anos morreu na entrada da sala de emergência do hospital Al Amal por disparos israelenses, informou o Crescente Vermelho Palestino.

Mais ao sul, centenas de milhares de civis estão aglomerados em Rafah, perto da fronteira com o Egito, onde vivem em “condições desesperadoras”, segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês).

– ‘Nenhum lugar seguro’ –

A ONU calcula que quase 1,7 milhão de civis abandonaram suas casas desde o início da guerra.

Rafah, para onde muitos foram em busca de refúgio, também não escapa das bombas. “Não há nenhum lugar seguro na Faixa de Gaza. Tudo o que se diz é falso”, declarou neste sábado Mohamed Al Chaer entre as ruínas do seu bairro.

Durante a noite, as chuvas intensas inundaram os campos de deslocados, de acordo com imagens da AFP.

“As fortes chuvas inundam milhares de deslocados em Rafah, Khan Yunis, Nuseirat, Deir al Bala, assim como na Cidade de Gaza, mais ao norte”, declarou o presidente da Defesa Civil, Mahmoud Basal.

“O que está acontecendo não faz sentido. Que abram os pontos de passagem para que possamos ir embora! Não há mais nada em Gaza: não há escolas, nem educação, nem produtos essenciais”, disse Hind Ahmed, de 29 anos.

A guerra começou em 7 de outubro com o ataque de combatentes islamistas, que mataram quase 1.140 pessoas, a maioria civis, e sequestraram cerca de 250 no sul de Israel, segundo um balanço da AFP elaborado com base em dados oficiais israelenses.

As ações de represália, com bombardeios incessantes e ações terrestres em Gaza, deixaram até o momento 26.257 mortos, a maioria mulheres, crianças e adolescentes, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.

“Disparos de tanques apontam desde a manhã para os setores do oeste da cidade, para o campo de refugiados de Khan Yunis e os arredores do hospital Nasser”, onde provocaram “um corte de energia elétrica”, anunciou o Hamas.

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) afirmou que a capacidade cirúrgica do hospital Nasser, o maior da cidade, é “quase inexistente” e que os poucos profissionais da saúde que permanecem no centro médico trabalham com pouco material.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que 350 pacientes e quase 5.000 deslocados pelos combates estão no hospital.

Israel acusa o Hamas de ter construído túneis sob os hospitais de Gaza e de utilizar estes edifícios como centros de comando.

– Reunião em Paris –

Na sexta-feira, a Corte Internacional de Justiça (CIJ), com sede em Haia, determinou que Israel deve prevenir possíveis atos de “genocídio” em sua guerra contra o Hamas, classificado como organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.

Também pediu a Israel que facilite a entrada de assistência humanitária em Gaza. O tribunal, no entanto, não tem como exigir o cumprimento de suas decisões.

A guerra prossegue sem trégua, mas Catar, Egito e Estados Unidos tentam atuar como mediadores para obter uma nova trégua, que incluiria a libertação de reféns e prisioneiros palestinos, como aconteceu no final de novembro.

Quase 100 reféns foram libertados naquela ocasião em troca de presos palestinos. Segundo as autoridades israelenses, 132 reféns continuam em cativeiro na Faixa de Gaza, dos quais 28 estariam mortos.

Uma fonte dos serviços de segurança afirmou à AFP que o diretor da Agência Central de Inteligência (CIA) americana se reunirá com autoridades de Israel, Egito e Catar “nos próximos dias em Paris” para tentar obter um acordo de trégua com o Hamas.

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