19/10/2017 - 11:06
As forças árabes e curdas apoiadas pelos Estados Unidos que tomaram a cidade de Raqa, no norte da Síria, dos extremistas do Estado Islâmico se preparavam nesta quinta-feira para entregar a cidade às autoridades civis.
As posições ocupadas há meses na cidade pelos combatentes das Forças Democráticas Sírias (FDS) foram abandonadas, com exceção de algumas na praça central de Al-Naim.
A ofensiva das FDS contra a antiga “capital” do EI durou mais de quatro meses.
Na terça-feira, as FDS anunciaram o fim dos combates e o início das operações para limpar a cidade das minas terrestres e procurar possíveis células jihadistas.
Com a perda de Raqa, a organização jihadista tem poucos territórios na Síria, concentrando-se na vizinha província de Deir Ezzor, para onde alguns combatentes das FDS já partiram.
Ao menos 16 civis, sendo sete crianças, morreram nesta quinta-feira em ataques aéreos russos nesta província, informou a ONG Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Em Raqa, “algumas unidades se retiraram, outras permanecem na cidade para as operações de desminagem, então a cidade será entregue a um conselho civil”, declarou a comandante Rojda Felat.
“Com as operações militares concluídas, uma parte significativa das forças foram retiradas de Raqa e enviadas para outras áreas, incluindo Deir Ezzor”, acrescentou Mustefa Bali, porta-voz das Unidades de Proteção do Povo Curdo (YPG), componente principal das FDS.
Talal Sello, porta-voz das FDS, informou que em dois dias não foram encontrados combatentes do Estado Islâmico, mas os interrogatórios daqueles que foram capturados ou que se renderam durante a batalha continuam.
“A Inteligência das FDS continua investigando-os, incluindo estrangeiros”, disse ele à AFP.
A administração da cidade, em ruínas e sem habitantes, será assumida pelo Conselho Civil de Raqa, um corpo que reúne lideranças locais criado há seis meses.
A entrega oficial da cidade deve acontecer na sexta-feira, mas o Conselho já trabalha há meses em planos de reconstrução.
Eles assumirão o controle de uma cidade fantasma sem serviços básicos ou infraestruturas.
No mês passado, a ONU estimou que 80% da cidade era inabitável.
– Raqa ‘libertada por mulheres livres’ –
Na rotatória de Al-Naim, as Unidades de Proteção das Mulheres (YPJ), uma força curda exclusivamente feminina, organizaram uma coletiva de imprensa para comemorar sua contribuição para a tomada da cidade.
Alguns dos comandantes durante a batalha eram mulheres, um fator de orgulho para as forças curdas, particularmente devido à opressão das mulheres pelos jihadistas ultrarradicais do EI.
“Raqa foi liberada pela vontade de mulheres livres”, declarou a YPJ em um comunicado.
As bandeiras das FDS agora cobrem Al-Naim, onde os jihadistas anteriormente expuseram as cabeças decapitadas de seus inimigos.
No centro da rotatória foi colocada uma bandeira amarela com o rosto do líder curdo preso Abdullah Ocalan.
Ocalan é o líder do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), uma organização considerada “terrorista” pela Turquia, onde combate Ancara há décadas.
Ocalan é idolatrado por muitos nas YPG, que segundo Ancara é o braço sírio do PKK.
O Estado Islâmico conquistou Raqa em 2014. Ali cometeu as piores atrocidades e preparou ataques em todo o mundo.
A perda de Raqa, cidade emblemática do reinado de terror imposto pela EI nos territórios sob seu controle, é um grande revés para o grupo que vê o seu auto-proclamado “califado” sucumbir.
Em julho, perderam sua segunda maior cidade, Mossul, no Iraque. Na Síria, o grupo ainda está presente, em número limitado, no centro e na periferia sul de Damasco. Sua última fortaleza é agora a província de Deir Ezzor, no leste, na fronteira com o Iraque, onde enfrentam duas ofensivas: uma liderada pelas forças do regime sírio apoiadas pela Rússia, e outra pelas FDS, apoiadas pela coalizão internacional.