As forças árabes e curdas apoiadas pelos Estados Unidos que tomaram a cidade de Raqa, no norte da Síria, dos extremistas do Estado Islâmico se preparavam nesta quinta-feira para entregar a cidade às autoridades civis.

As posições ocupadas há meses na cidade pelos combatentes das Forças Democráticas Sírias (FDS) foram abandonadas, com exceção de algumas na praça central de Al-Naim.

A ofensiva das FDS contra a antiga “capital” do EI durou mais de quatro meses.

Na terça-feira, as FDS anunciaram o fim dos combates e o início das operações para limpar a cidade das minas terrestres e procurar possíveis células jihadistas.

Com a perda de Raqa, a organização jihadista tem poucos territórios na Síria, concentrando-se na vizinha província de Deir Ezzor, para onde alguns combatentes das FDS já partiram.

Ao menos 16 civis, sendo sete crianças, morreram nesta quinta-feira em ataques aéreos russos nesta província, informou a ONG Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

Em Raqa, “algumas unidades se retiraram, outras permanecem na cidade para as operações de desminagem, então a cidade será entregue a um conselho civil”, declarou a comandante Rojda Felat.

“Com as operações militares concluídas, uma parte significativa das forças foram retiradas de Raqa e enviadas para outras áreas, incluindo Deir Ezzor”, acrescentou Mustefa Bali, porta-voz das Unidades de Proteção do Povo Curdo (YPG), componente principal das FDS.

Talal Sello, porta-voz das FDS, informou que em dois dias não foram encontrados combatentes do Estado Islâmico, mas os interrogatórios daqueles que foram capturados ou que se renderam durante a batalha continuam.

“A Inteligência das FDS continua investigando-os, incluindo estrangeiros”, disse ele à AFP.

A administração da cidade, em ruínas e sem habitantes, será assumida pelo Conselho Civil de Raqa, um corpo que reúne lideranças locais criado há seis meses.

A entrega oficial da cidade deve acontecer na sexta-feira, mas o Conselho já trabalha há meses em planos de reconstrução.

Eles assumirão o controle de uma cidade fantasma sem serviços básicos ou infraestruturas.

No mês passado, a ONU estimou que 80% da cidade era inabitável.

– Raqa ‘libertada por mulheres livres’ –

Na rotatória de Al-Naim, as Unidades de Proteção das Mulheres (YPJ), uma força curda exclusivamente feminina, organizaram uma coletiva de imprensa para comemorar sua contribuição para a tomada da cidade.

Alguns dos comandantes durante a batalha eram mulheres, um fator de orgulho para as forças curdas, particularmente devido à opressão das mulheres pelos jihadistas ultrarradicais do EI.

“Raqa foi liberada pela vontade de mulheres livres”, declarou a YPJ em um comunicado.

As bandeiras das FDS agora cobrem Al-Naim, onde os jihadistas anteriormente expuseram as cabeças decapitadas de seus inimigos.

No centro da rotatória foi colocada uma bandeira amarela com o rosto do líder curdo preso Abdullah Ocalan.

Ocalan é o líder do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), uma organização considerada “terrorista” pela Turquia, onde combate Ancara há décadas.

Ocalan é idolatrado por muitos nas YPG, que segundo Ancara é o braço sírio do PKK.

O Estado Islâmico conquistou Raqa em 2014. Ali cometeu as piores atrocidades e preparou ataques em todo o mundo.

A perda de Raqa, cidade emblemática do reinado de terror imposto pela EI nos territórios sob seu controle, é um grande revés para o grupo que vê o seu auto-proclamado “califado” sucumbir.

Em julho, perderam sua segunda maior cidade, Mossul, no Iraque. Na Síria, o grupo ainda está presente, em número limitado, no centro e na periferia sul de Damasco. Sua última fortaleza é agora a província de Deir Ezzor, no leste, na fronteira com o Iraque, onde enfrentam duas ofensivas: uma liderada pelas forças do regime sírio apoiadas pela Rússia, e outra pelas FDS, apoiadas pela coalizão internacional.