Desde 2001, a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPF) realiza eleição interna para formar uma lista tríplice com nomes dos integrantes do Ministério Público Federal (MPF) que os próprios procuradores acreditam ser os mais preparados para assumir a Procuradoria-Geral da República (PGR). Mas o curioso é que justamente agora, na eleição interna mais disputada da história, o presidente Jair Bolsonaro tenha dado indicativos de que pode ignorá-la. Esse movimento de rejeição à lista tríplice vem sendo articulado por setores da bancada evangélica e também pelos seus filhos, que miram justamente a possibilidade de indicarem um procurador mais alinhado à pauta de costumes de Bolsonaro.

Na semana passada, dois filhos do presidente, o senador Flávio e o deputado Eduardo, conversaram com o subprocurador-geral Augusto Aras, que é apontado como um dos favoritos a suceder a Raquel Dodge, cujo mandato termina em agosto próximo. Mas Augusto não pretende participar das eleições da ANPR. Ele corre por fora, entendendo que pode ser nomeado pelo presidente mesmo não constando na lista. Os filhos do presidente trabalham para a sua escolha, já que Aras é conservador.

Outros que correm por fora, mas devem participar das eleições no MPF, são os procuradores Guilherme Schelb e Ailton Benedito. Ambos não contam com muita força dentro do MPF, mas são bem quistos pelo presidente. Schelb, por exemplo, é defensor da Escola sem Partido, uma pauta de campanha do presidente. Já Benedito tem a simpatia de Olavo de Carvalho.

Independência

Determinados setores do MPF têm visto com reservas esses sinais pontuais de Bolsonaro. O presidente da ANPF, Fábio George Cruz da Nóbrega, deu um recado claro durante a solenidade de sua posse realizada na semana passada. “Nos 18 anos de funcionamento da lista tríplice sob a condução da ANPR, o MPF alcançou um nível de independência e eficiência institucional sem precedentes”, disse.

Justamente por isso, membros do MPF estão pressionando Bolsonaro a respeitar as eleições da ANPR. ISTOÉ apurou que o ministro da Justiça, Sergio Moro, também tem aconselhado o presidente a manter a tradição da escolha a partir da lista tríplice, para dar imagem de que o Executivo não interfere no Judiciário. É pagar para ver se o presidente ficará com os procuradores ou com os filhos.

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