De olho no mercado cada vez mais competitivo de clientes de alta renda, o Bradesco mira os Estados Unidos para oferecer produtos e serviços aos brasileiros que queiram operar lá. O banco acaba de comprar por cerca de R$ 4 bilhões (US$ 500 milhões) o BAC Florida Bank, instituição sediada em Coral Gables, no condado de Miami-Dade, que pertencia ao conglomerado empresarial nicaraguense Pellas, com 140 anos e operação em 10 países.

Além dos brasileiros de alta renda, o Bradesco está de olho nos latino-americanos que investem no país – seus depósitos são estimados em R$ 6 trilhões (US$ 1,5 trilhão). O BAC era uma escolha lógica. Os brasileiros representam 20% de seus clientes – cerca de 10 mil no total-, seguidos por americanos (10%), argentinos (9%) e latinos não residentes nos Estados Unidos. O BAC é o principal provedor de crédito imobiliário na Flórida para estrangeiros de alta renda, uma área que atrai investimentos de brasileiros no país. Estes já representam 22% do crédito imobiliário da instituição.

BAC FLORIDA A instituição financeira atende principalmente latino-americanos de alta renda não residentes nos Estados Unidos (Crédito:Divulgação)

“Expandir nossa oferta de produtos e serviços através do BAC Florida é uma forma de sermos o principal banco de wealth management para nossos clientes”, afirmou Octavio de Lazari, presidente executivo do Bradesco. Segundo ele, há cada vez mais demanda por diversificação e acesso a soluções globais. As negociações duraram cerca de um ano e o pagamento será em dinheiro. Para o banco, o negócio tem importância estratégica, uma vez que ampliará a oferta de investimentos nos Estados Unidos aos seus clientes Prime (alta renda) e do private bank (milionários e altíssima renda). O segmento é disputada por Itaú Unibanco e Pactual, entre outros. Também poderá expandir negócios relacionados a clientes corporativos e institucionais. Para fortalecer o atendimento na gestão de fortunas, o Bradesco já havia reforçado este ano sua operação em Luxemburgo, na Europa.

Primeira compra internacional

Segundo o Bradesco, no entanto, trata-se de uma iniciativa pontual e não há a intenção de internacionalizar a instituição nem de expandir a área de varejo fora do Brasil. Essa é a primeira aquisição internacional do banco e a primeira grande compra desde a aprovação em 2016 da incorporação do HSBC Brasil, anunciada na época por US$ 5,2 bilhões – que também visava o segmento de alto renda.

Com a nova instituição, o Bradesco vai permitir que o cliente brasileiro tenha suas operações facilitadas, com acesso a produtos e serviços locais, incluindo cartão de crédito e financiamento imobiliário. “O cliente do Brasil poderá abrir uma conta nos EUA, investir, tirar extrato ou mesmo pagar a conta de luz da casa que tem por lá”, afirma Lazari. “O private do Bradesco continuará trabalhando para os clientes no Brasil e o BAC será uma nova opção.” O correntista do BAC, por outro lado, terá acesso a produtos no Brasil, incluindo investimentos e soluções corporativas. A instituição não mudará de nome, mas passará a se denominar Bradesco American Company.

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O banco americano tem uma dimensão modesta em relação ao Bradesco. O BAC fechou 2018 com ativos totais de US$ 2,2 bilhões (R$ 8,7 bilhões), patrimônio líquido de US$ 206 milhões e lucro líquido de US$ 29,4 milhões. Só no segmento private, o Bradesco tem 13 mil clientes, com R$ 200 bilhões em gestão. O banco brasileiro encerrou o primeiro trimestre com ativos totais de R$ 1,4 trilhão – um crescimento de 6,8% comparado ao mesmo período do ano passado.

Além de crédito imobiliário, o BAC Florida opera prioritariamente em private banking. Também atende empresas e possui uma corretora. Por meio de sua plataforma digital, atua em 49 estados americanos com serviços de depósitos, investimentos e conta corrente. “Estamos satisfeitos por termos chegado a este acordo com o Bradesco. Temos certeza que esta transação irá continuar a contribuir para o sucesso dos nossos clientes e para o desenvolvimento profissional e pessoal da equipe do BAC Florida”, disse Carlos Pellas, co-chairman do banco. A compra do BAC ainda depende da aprovação dos órgãos reguladores do Brasil e dos Estados Unidos, o que deve levar entre seis e oito meses.

 


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