A seleção brasileira sub-23 encerra nesta sexta-feira, a partir das 22h30 (de Brasília), diante do Paraguai, a sua participação na primeira fase do Pré-Olímpico, mas o foco e desejo serão outros: o quadrangular decisivo que distribuirá duas vagas nos Jogos de Tóquio-2020 e a revalidação da conquista do ouro no Rio-2016.

A situação confortável e o sonho distante se devem ao bom desempenho no torneio qualificatório na Colômbia. Com vitórias nos seus três primeiros compromissos na primeira fase, o Brasil se classificou antecipadamente à etapa decisiva, o que faz o técnico André Jardine acelerar o planejamento da seleção.

Atual campeão olímpico, o Brasil precisa ficar entre os dois primeiros colocados do quadrangular para se garantir em Tóquio-2020. E esses compromissos têm datas definidas: os dias 3, 6 e 9 de fevereiro, quando serão conhecidos os representantes sul-americanos nos Jogos, que vão se juntar a Japão, França, Alemanha, Romênia, Espanha, Nova Zelândia, Egito, Costa do Marfim, África do Sul, Austrália, Arábia Saudita e Coreia do Sul – os dois representantes da Concacaf ainda não foram definidos.

Será, caso tenha êxito, a 14.ª participação olímpica do Brasil, em uma história que se transformou em obsessão na busca pelo ouro em razão de seguidas decepções, com a conquista de quatro medalhas – pratas em 1984, 1988 e 2012, e bronze em 1996 -, até o título no Rio de Janeiro.

Agora, o cenário de pressão pela conquista de um feito inédito não existe mais. Porém, a equipe nacional não quer ficar de fora dos Jogos de Tóquio-2020. E aposta em um time que tem se destacado pela valorização da posse de bola e um ataque envolvente em diversos momentos. Mas que também tem apresentado problemas defensivos.

Jardine tem apostado, com êxito, em um quarteto ofensivo poderoso, composto por dois jogadores que estão no futebol alemão – Matheus Cunha e Paulinho – e outros dois em atividade por equipes paulistas – Pedrinho e Antony, que estão na mira de equipes da Europa. Além deles, tem a força organizacional e criativa no meio de campo apoiada no talento do gremista Matheus Henrique e de Bruno Guimarães, recentemente adquirido junto ao Athletico-PR pelo Lyon.

O sistema defensivo, porém, não tem respondido do mesmo modo, a ponto de ter sofrido três gols no compromisso anterior diante da Bolívia. O zagueiro Robson Bambu já cometeu vários erros, os laterais Caio Henrique e Guga também já erraram e o goleiro Ivan exibe insegurança.

Por isso, mesmo com o Brasil garantido antecipadamente no quadrangular, o confronto contra o Paraguai terá a sua valia. Afinal, Jardine deve escalar um time misto, realizando testes, que devem se concentrar especialmente no sistema defensivo, provavelmente envolvendo os zagueiros Bruno Fuchs e Ricardo Graça. Mas também observando peças do sistema ofensivo que vem se destacando ao sair do banco de reservas como Pepê, autor de dois gols, e Reinier, badalado internacionalmente após ser adquirido pelo Real Madrid.

“No jogo do Paraguai, provavelmente vou dar espaço para atletas que não atuaram. Uma coisa é treino e outra é jogo. A equipe que vai acabar jogando o quadrangular final terá atletas que mostrarem melhor desempenho, momento melhor”, afirmou Jardine.

Será um teste para a definição do time que disputará o quadrangular e, em caso de êxito, também para a Olimpíada. Para Tóquio, porém, o funil será mais estreito, pois apenas 18 jogadores poderão ser convocados, sendo três com mais de 23 anos, enquanto que na Colômbia 23 nomes estão disponíveis.

O quebra-cabeças para o treinador não se encerra aí, pois a Fifa não obriga a liberação de jogadores pelos clubes. Isso forçou, inclusive, a alteração da lista de convocados para o Pré-Olímpico com um time formado basicamente por atletas que atuam no Brasil – apenas seis dos 23 nomes iniciaram o torneio na Colômbia vinculados a clubes do País. Depois, inclusive, alguns deles já se transferiram para a Europa.

Isso deverá dificultar uma convocação para Tóquio-2020, por também não se tratar de uma Data Fifa. E a mesma dificuldade é prevista para a escolha dos três jogadores com mais de 23 anos: Neymar, campeão olímpico no Rio-2016, já indicou o seu desejo de buscar nova medalha de ouro, mas precisará negociar a liberação com o Paris Saint-Germain. “Sou fominha, vocês sabem. Estou disposto a jogar os dois (Copa América e Olimpíada), mas acho que é um pouco mais complicado, tem que conversar com o clube”, disse.

Destaque brasileiro na Europa, Alisson poderia ser outra opção de “veterano”, ainda mais que os goleiros sub-23 possuem pouca rodagem, além de repetir Weverton, que jogou no Rio-2016 quando estava com 28 anos. Já para um sistema defensivo que tem falhado na Colômbia, um zagueiro experimentado como Marquinhos poderia ser lembrado por Jardine.

Tudo isso depende, claro, da liberação dos atletas pelos seus clubes, em uma queda de braço na qual a CBF tem pouca força. E, principalmente, que, depois do duelo contra o Paraguai, o Brasil tenha êxito no quadrangular na busca por uma vaga em Tóquio-2020.