Depois da conquista do tetra no Mundial da França, o futebol feminino nos Estados Unidos trava uma nova disputa. Desta vez não é sobre os salários e direitos iguais aos dos homens – a principal plataforma das jogadoras norte-americanas. A Liga Profissional Feminina de Futebol dos Estados Unidos (NWSL, na sigla em inglês) tenta capitalizar o título para atrair público, patrocinadores e mídia. Até agora, nem foi preciso esforço.

A arena Audi Field, em Washington, ficou lotada, com quase 20 mil ingressos vendidos no último domingo, quando jovens e famílias com crianças lotaram as arquibancadas para assistir o Washington Spirits vencer por 2 a 1 o Orlando Pride. Adolescentes com camisas de futebol estampando os nomes de Alex Morgan e Megan Rapinoe puxaram uma onda na arquibancada e, por vezes, gritos pedindo “Salários iguais!”. No intervalo, as jovens que compraram a luta pela igualdade salarial pleiteada pelas jogadoras, fizeram fila para comprar pipoca e algodão doce.

Foi a primeira vez de Kim Gray em um estádio, levada pela filha, de 8 anos, que não queria deixar de ver a estrela Alex Morgan – a craque não entrou em campo, mas a garota não saiu frustrada e, junto de uma amiga, prometeu voltar. “Elas assistiram todos os jogos da Copa”, disse a mãe.

Também foi a primeira vez de Katie Sochacki e Sarah Slomski em um jogo de futebol feminino. “Depois da Copa do Mundo, queríamos ver as nossas estrelas. Se os próximos jogos forem em um estádio próximo do centro, viremos mais vezes”, contou Katie. Ela expõe um dos desafios do futebol feminino: com público menor do que o masculino, os jogos são muitas vezes em estádios de difícil acesso.

Os Spirits têm cinco jogadoras que fizeram parte da seleção que trouxe o tetracampeonato aos Estados Unidos. A última vez que elas jogaram no Audi Field tiveram o recorde de cerca de 7 mil torcedores – praticamente um terço do público no sucesso do último domingo. Nos demais casos, as partidas são sempre fora da zona central.

Em campo, com a camisa do time opositor, estava a maior craque do Mundial: a brasileira Marta. Foi dela o gol do Orlando Pride e, apesar dos lamentos pela bola colocada na rede pelo time adversário, havia curiosidade em ver a craque em campo.

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Em julho, em meio à celebração pelo tetra da seleção norte-americana, o presidente da Federação de futebol do país, Carlos Cordeiro, afirmou: “Se vocês amam essas jogadores da Copa do Mundo, então apareçam e torçam por seus times locais, os times da NWSL, esse ano”. As 23 jogadores que estiveram em campo no Mundial da França jogaram na liga, que vive o seu sétimo ano.

O impacto do interesse após o Mundial também foi visto em arquibancadas de times da liga em Oregon, em Houston e em Orlando, por exemplo, que bateram recordes na atração de público em jogos após o tetracampeonato. A ESPN, emissora de esportes dos Estados Unidos, também anunciou que exibiria 14 jogos da temporada, que acaba em meados de outubro. Em uma das medições de jogos transmitidos, o pico de audiência foi de 177 mil pontos ligados, maior do que a final da NWSL em 2016. Mas, depois de outubro, o futuro das transmissões ainda é incerto.

A jogadora Cali Lloyd, que conquistou títulos com a camisa da seleção norte-americana em Olimpíadas e Mundiais, comemorou a “onda” de interesse após o último mundial. “O público da NWSL aumentou e é muito legal perceber isso”, disse, após um jogo do Sky Blue FC, seu clube, de Nova Jersey.

No último dia 18, o Sky Blue jogou contra o Seattle Reign – time da craque Megan Rapinoe – em um campo que não estava acostumado: a Red Bull Arena. A mudança foi considerada relevante: não só porque é possível vender mais do que os 5 mil ingressos da ocupação máxima do Yurcak Field, onde o time costuma jogar, como também por ser um campo “à altura” das estreladas jogadoras. O estádio usado anteriormente fica longe de transportes públicos e é considerado de qualidade inferior.

O receio, no entanto, é de que a onda não se sustente para muito além da agitação inicial após o Mundial. A única empresa que se comprometeu com patrocínio para além da temporada atual foi a Nike. Em 2017, dois times da liga fecharam por falta de verba. Não se depender de Isabel, Mac e Olivia, de 14 anos, que assistiram a todos os jogos da competição na França e, vestidas com a camisa de futebol do time em que jogam em sua escola, prometem voltar mais.


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