ROMA, 7 ABR (ANSA) – Com a retomada de diversas cidades pelas tropas ucranianas, as histórias dos civis que permaneceram durante o controle russo começam a ser reveladas.   

Nesta quinta-feira (7), foi a vez da idosa Halina, de 90 anos, que ganhou destaque e que foi acompanhada pelo correspondente da ANSA na Ucrânia, Lorenzo Attianese.   

A ucraniana mora em Gostomel, cidade que fica a cerca de 30 quilômetros da capital Kiev, mas não tinha como fugir quando os militares da Rússia ocuparam a localidade. Em uma casa com seus gatos e quatro patos, que sempre a cercam por todo o canto, Halina afirmou que não fugiu porque não tem mais medo de nada.   

“Eu sou velha. Ninguém me assusta mais. Os soviéticos não me dão medo porque, quando era pequena, eu vivi também a Segunda Guerra Mundial”, disse ainda se referindo ao gentílico da União Soviética.   

Segundo o que contou para os jornalistas, Halina ainda os chama com o termo antigo porque para ela “o muro [de Berlim] nunca caiu e a URSS ainda existe – mas sem a gente”. “Eles se diziam uma potência mundial, mas quando nós estávamos com eles, não tínhamos nem papel higiênico. Nós usávamos jornais nos banheiros”, afirmou.   

Quando foi questionada sobre como sobreviveu, já que não recebeu nenhum tipo de ajuda humanitária durante as semanas de ocupação desde o fim de fevereiro, Halina revelou que viveu com o que plantava em sua horta.   

“Por mais de um mês eu comi o que tinha na minha pequena horta.   

Batatas, cenouras e nabos vermelhos”, disse a idosa. Nos dias em que os combates eram intensos ou que os tanques estavam próximos à sua casa, ela contou que ficava fazendo conservas para não morrer de fome e sempre ter algo para comer.   

Agora que a ocupação acabou, os militares ucranianos a encontraram e deram uma cesta básica com alimentos e produtos de primeira necessidade para que ela possa retomar sua vida. E, como se nada tivesse acontecido durante mais de um mês, Halina ainda fez um pedido inusitado ao militar que estava carregando os mantimentos.   

“Me dê seu endereço. Quero escrever uma carta para a sua mulher e dizer para ela que você é um homem gentil”, disse entre os sorrisos dos soldados. Uma foto de todos os envolvidos também foi tirada como recordação.   

Gostomel, que faz parte da área administrativa de Irpin, foi uma das primeiras cidades próximas a Kiev a ser bombardeada, especialmente, por ter um aeroporto, o Antonov, e foi palco de uma das primeiras batalhas com diversas mortes do início da invasão. Antes da guerra, a localidade tinha cerca de 17 mil habitantes.   

O município ficou sob controle russo total por 35 dias e só foi libertado após o anúncio de Moscou de que iria parar de fazer ataques próximos a Kiev. O prefeito local, Yuri Prylypko, foi morto em 7 de março durante um ataque russo enquanto distribuía alimentos para a população civil e seu substituto interino, Taras Dumenko, relatou que cerca de 400 moradores ainda estão desaparecidos – incluindo 15 crianças.   

Assim como ocorreu em Bucha, segundo as autoridades locais, muitos corpos de civis foram encontrados nas ruas e em valas comuns. Algumas das vítimas apresentavam sinais de tortura.   

Até por conta dos riscos ainda existentes de retorno de ataques, Kiev anunciou um toque de recolher por uma semana durante a noite e madrugada para a localidade – além de uma operação minuciosa para tentar encontrar e desativar minas terrestres que possam ter sido deixadas pelos russos. (ANSA).