Um filme sobre a juventude de Donald Trump, lançado nesta segunda-feira (20), a seis meses das eleições nos Estados Unidos, e um selvagem longa de terror feminista com Demi Moore, “The Substance”, destacaram-se no 77º Festival de Cinema de Cannes, que já entra em sua reta final.

“O Aprendiz”, do dinamarquês de origem iraniana Ali Abbasi, acompanha os passos de um jovem Trump (Sebastian Stan) em Nova York, quando iniciou suas aventuras no setor imobiliário, e sua relação com seu mentor, o advogado Roy Cohn.

A princípio, o jovem Trump é ávido pelos conselhos sobre como administrar seus projetos imobiliários e se beneficia das técnicas de Cohn, de legalidade duvidosa. O futuro bilionário irá pouco a pouco conquistar seu lugar na cidade e seus negócios, como a famosa Trump Tower, vão prosperar.

O filme também mostra o relacionamento de Trump com a primeira esposa, Ivanna, e outros momentos de sua vida privada, como quando decide se submeter a uma lipoaspiração.

“Queríamos fazer uma versão ‘punk rock’ de um filme histórico, o que significa que tínhamos que manter um pouco da energia, uma certa ideia [e não] sermos minuciosos demais sobre os detalhes e o que é verdadeiro ou falso”, declarou recentemente à Vanity Fair o diretor, autor dos thrillers “Holy Spider” (2022) e “Border” (2018), ambos premiados em Cannes.

O filme chega a Cannes coincidindo com o julgamento de Trump em Nova York, acusado de ter omitido do fisco os pagamentos a uma ex-atriz de cinema pornô, e a seis meses das eleições presidenciais, nas quais o magnata pretende voltar à Casa Branca.

– Duas faces da mesma moeda –

“The Substance”, apresentado na noite de domingo, é uma história improvável que une Demi Moore (61 anos) e a jovem Margaret Qualley (29 anos), para o bem e para o mal.

Depois de tomar uma substância secreta para rejuvenescer, Moore é forçada a conviver com seu alter ego, Qualley, sua versão “mais bela, mais perfeita”.

Logo surge a rivalidade entre as duas versões da mesma mulher.

Coralie Fargeat se destacou em 2017 com outro filme sangrento, “Revenge”. Esta nova obra rendeu muitos aplausos, risadas e algumas reações de nojo do público.

– A mortalha cinematográfica de Cronenberg-

Esta edição de Cannes marca o reencontro do festival com estrelas veteranas de Hollywood, a exemplo de Francis Ford Coppola, que apresentou seu megalomaníaco “Megapolis”, ou Moore, que não pisava no tapete vermelho há quase três décadas.

Estrela de cinema dos anos 90 com sucessos como “Ghost: Do Outro Lado da Vida”, Moore faz uma atuação arriscada, expondo seu corpo nu ao lado do de Margaret Qualley, outra atriz com poucos complexos que também se destaca em “Tipos de Gentilezas”. Foi o desafio ideal.

“Estou sempre em busca de histórias que me tirem da minha zona de conforto”, disse Moore em entrevista coletiva.

Outro filme em competição que será apresentado nesta segunda-feira é “As Mortalhas”, do canadense David Cronenberg, de 81 anos, autor de títulos tão conhecidos como “Crash – Estranhos Prazeres” ou “A Mosca”.

“As Mortalhas”, estrelado por Vincent Cassel e Diane Kruger, gira em torno de um empresário que inventa, após a morte de sua amada esposa, uma tecnologia revolucionária que permite aos vivos testemunhar a decomposição de seus entes queridos falecidos graças a um dispositivo cibernético.

“Escrevi este filme quando sofria as consequências da morte da minha mulher, que faleceu há sete anos”, disse o veterano diretor, citado em um comunicado do filme.

– Incógnita sobre diretor iraniano –

Até o encerramento do festival, Cannes ainda viverá vários momentos estelares, como a chegada da chama olímpica, que está a caminho de Paris, na terça-feira.

E o grande evento cinematográfico também espera receber com todas as honras o cineasta iraniano Mohammad Rasoulof, que disputa a Palma de Ouro com “The Seed of the Sacred Fig”, com exibição marcada para sexta-feira, último dia da competição.

Ainda não se sabe se o diretor poderá apresentá-lo pessoalmente, depois de ter fugido do Irã, onde foi condenado à prisão.

Fora de competição, a mostra concedeu, nesta segunda-feira, uma Palma de Ouro honorária ao estúdio de animação japonês Ghibli, que produziu clássicos como “A Viagem de Chihiro”, “O Castelo Animado” e “Meu Amigo Totoro”. O mestre da animação Hayao Miyazaki foi representado por seu filho, Goro.

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