A transmissão do clássico entre Atlético-PR e Coritiba pelo Youtube e pelo Facebook foi só a chegada, ao futebol brasileiro, de um novo momento para todo o esporte do País. Os jogos exibidos em streaming chegaram no mês passado à Superliga de Vôlei e crescem de forma exponencial no Novo Basquete Brasil (NBB) e na Liga de Basquete Feminino (LBF). As confederações de atletismo e natação também apostam no crescimento das transmissões online em um momento em que o espaço para as modalidades olímpicas na TV está em queda.

O vôlei foi o que teve a transição mais radical. Em 8 de fevereiro, quando nenhum jogo foi transmitido na tevê, o Sesi planejava exibir online o seu jogo contra o Montes Claros, mas foi impedido. O campeão olímpico Murilo reclamou no Twitter. “Os próprios patrocinadores deveriam questionar essa proibição da CBV, porque estão perdendo exposição de suas marcas”, postou.

O Sesi, de fato, não poderia transmitir o jogo, mas o caso ganhou repercussão e a CBV agiu rápido. Quinze dias depois, transmitia pela primeira vez uma partida no Facebook. O duelo entre Vôlei Nestlé e Praia Clube foi assistido por 103 mil pessoas, com pico de audiência de 5.452 espectadores. Desde então, em duas semanas, foram cinco partidas exibidas.

De acordo com Ricardo Trade, CEO da CBV, os direitos de transmissão online da Superliga eram da Globo até a temporada passada. Na última renovação de contrato, a CBV fez questão de ficar com eles, seguindo recomendação de um plano de negócios para os próximos quatro anos.

“Esse é um instrumento para aumentar a visibilidade e dar um equilíbrio. A TV escolhe os jogos pelo seu conteúdo, por quem está em quadra, e alguns clubes ficam com poucas transmissões. Com a transmissão na internet a gente consegue equilibrar essa visibilidade”, argumenta Trade. Segundo ele, a CBV estuda monetizar as transmissões vendendo os naming rights da propriedade.

Mas os clubes já se organizam para negociar com a CBV para, na próxima temporada, serem eles os detentores dos direitos. O Sesi, por exemplo, afirma ter capacidade de transmitir todos seus jogos em casa. O Minas Tênis Clube, que também joga tanto no masculino quanto no feminino, é outro que já tem as câmeras instaladas.

“Tudo é questão de negociar sempre no começo da Liga. Os clubes estão se mobilizando para ter um pouco mais de autonomia, sempre com uma supervisão da CBV. As transmissões têm de ter um padrão, manter uma qualidade”, avalia Alexandre Pflug, diretor de esporte do Sesi-SP.

Atualmente, as transmissões ocorrem só pelo Facebook da CBV e não podem ser reproduzidas nos sites dos clubes. Mesmo assim, o duelo da última terça entre o líder Rexona e o Minas, por exemplo, teve 39 mil interações e gerou 2,1 mil novos fãs à página da CBV na rede social.

No NBB, as primeiras transmissões aconteceram em 2014. Na atual temporada, um jogo por rodada vai para o Facebook. De acordo com João Fernando Rossi, presidente da Liga Nacional de Basquete (LNB), o intuito é aumentar o engajamento com os fãs nas mídias sociais. Os jogos são exibidos com uma equipe de 10 pessoas, com narrador, comentarista e repórter. O intuito é que, somando com os jogos exibidos no SporTV e na Band, todos os duelos de mata-mata sejam transmitidos.

A Liga de Basquete Feminino (LBF) não terá sua temporada regular exibida na tevê e o streaming virou a única solução para os clubes, que detêm os direitos e o cederam, gratuitamente, a veículos regionais. O Corinthians/Americana, por exemplo, tem todas suas partidas transmitidas pela Rádio Esporte Web. Quando o time paulista foi a Recife pegar o Unissau, o jogo foi exibido pelo Facebook do site Leia já Online, que alcançou 38 mil visualizações.

Com orçamento modesto, a LBF planeja só “mais para frente” assumir as transmissões em streaming, algo que já faz a Polo Aquático Brasil (PAB), criada ano passado. Como os torneios são realizados em um só fim de semana, numa mesma piscina, a logística é mais simples. Os clubes rateiam os custos.

Outras modalidades com espaço reduzido na tevê também veem o streaming como a única saída. A Confederação Brasileira de Desportes Aquáticos (CBDA), por exemplo, já transmitiu todos os campeonatos brasileiros de natação do ano passado na TV CBDA – só o Maria Lenk foi do SporTV, exclusivo -, sempre com seis câmeras, narração e até distribuição de brindes aos espectadores. Para 2017, a ideia é exibir os torneios de todas as modalidades.

No atletismo, todos os eventos da CBAt foram transmitidos no Facebook em 2016, inclusive clínicas. A entidade trabalha com até seis câmeras de celular, que geram seis ‘lives’ diferentes de um mesmo evento. A transmissão só passou por uma ilha de edição no Troféu Brasil do ano passado, quando o Facebook foi parceiro da CBAt, impulsionando os vídeos e cedendo um estúdio inflável. Para aquele evento, uma produtora garantiu o “padrão Globo” mesmo nas sessões que não foram exibidas pela emissora, que não renovou contrato para 2017. Sem o veto dela, a Atletismo Brasil TV deve chegar também ao Youtube em 2017.