17/12/2018 - 8:00
Com o recorde de 16 jogadoras estrangeiras de dez nacionalidades diferentes, a Superliga Feminina de Vôlei tem jogos que poderiam fazer parte de um campeonato de nível mundial. Não só os idiomas são diferentes, mas os estilos de jogo que cada atleta traz em seus movimentos. A imigração tem conclusões: a Superliga atrai jogadoras de alto nível e o Brasil carece de atletas em algumas posições. Há uma questão financeira: os custos de uma estrangeira podem ser menores do que os de uma local.
Quase todo time tem uma forasteira. Elas estão em nove das 12 equipes. Em 2017, eram 11 em sete times. Cada clube só pode relacionar no máximo duas atletas. O Sesc-RJ tem Yonkaira Peña, da República Dominicana, e Tatiana Kosheleva, da Rússia. “A Superliga sempre chamou minha atenção. Sempre quis ter chance de jogar aqui. Quando tive, aceitei na hora”, diz a ponteira da América Central de 1,90m, que desembarcou no País em 2017. “Eu sabia que a Superliga tinha alto nível e ainda tinha o desejo de trabalhar com Bernardinho”, comenta a russa que venceu o Brasil na final do Mundial de 2010.
Kosheleva chega com a responsabilidade de ser a estrela de um time que se acostumou a frequentar o primeiro lugar, mas que perdeu o posto no ano passado para o Dentil/Praia Clube. Ela se recuperou de rompimento dos ligamentos do joelho esquerdo que a tirou das quadras por cinco meses. “Kosheleva quebra a impressão que temos de frieza e rivalidade com os russos. Ela quer aprender o português, por exemplo”, diz a levantadora Roberta.
A comunicação é um desafio. “No começo foi difícil, pois apenas uma atleta falava inglês. Hoje, consigo me comunicar em português”, diz a italiana Valentina Diouf, destaque do Sesi/Bauru. “Decidi jogar no Brasil porque queria mudar a carreira”, afirma a oposta da Itália, que tem 2,02m e 25 anos.
Bernardinho avalia que o torneio é atraente pelo alto nível técnico. “Hoje, temos ligas fortes na Turquia, Itália, Japão, China e Brasil. É preciso alocar essas jogadoras de bom nível”, diz o treinador. “Tivemos problemas de falta de patrocínio, mas o Brasil sempre foi um mercado atraente. É a consolidação de um processo”, completa.
A importação também dá dicas sobre as características das próprias brasileiras. O País carece de jogadoras em algumas posições, o que obriga os clubes a garimparem em outros países. Esse cenário faz acender a luz amarela para as convocações do Brasil. Bicampeão olímpico, com os ouros em Londres-2012 e Pequim-2008, o País foi sétimo colocado no último Mundial.
O aumento no número de estrangeiras revela uma saída dos clubes para driblar a crise financeira que paralisou alguns setores, como o de patrocínios. “Os clubes apontam que os custos de contratação de estrangeiras são menores do que aqueles para contratar uma brasileira, valorizada pelas conquistas da seleção”, diz Renato D’Ávila, superintendente da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV).
A faixa salarial das atletas de vôlei do torneio oscila entre R$ 5 mil e R$ 15 mil. As jogadoras de primeira linha podem multiplicar esse teto por três ou quatro. Elina Rodriguez, 21 anos e 1,89m, é a segunda estrangeira do Hinode Barueri para a disputa da Superliga. Foi eleita a melhor ponteira da Copa Pan-Americana e defendeu a Argentina na Liga das Nações e Jogos do Rio.
“Já conhecia algumas meninas da seleção, por serem rivais, e estou bem contente de jogar a Superliga. Da Argentina, sempre observamos esta competição”, comenta.
EQUILÍBRIO – Acostumados ao domínio na Superliga Feminina ao decidirem 12 das últimas 14 edições, Sesc-RJ e Osasco Audax buscam evoluir na temporada após processos de reformulação. O time do Rio perdeu Gabi e Fabi, duas de suas principais referências. Liderada pela russa Kosheleva, a equipe quer retomar a boa fase.
O Osasco, com novo parceiro, reformulou boa parte do elenco. As estrangeiras são a norte-americana Destinee Hooker e a peruana Angela Leyva.