SÃO PAULO, 04 SET (ANSA) – Com posse marcada para esta quinta-feira (5), o novo governo da Itália pode representar uma mudança de postura em relação ao presidente Jair Bolsonaro, que não terá mais em Roma um de seus grandes aliados no cenário internacional: Matteo Salvini.   

O poderoso ministro do Interior e líder da extrema direita italiana tentou derrubar o governo para levar o país às urnas e assumir o cargo de premier, mas levou um contragolpe e viu seu ex-aliado, o populista Movimento 5 Estrelas (M5S), se juntar ao social-democrata Partido Democrático (PD) para tirá-lo do poder.   

Com isso, Salvini e sua legenda, a ultranacionalista Liga, dão lugar a uma sigla potencialmente hostil a Bolsonaro, em um momento em que o Brasil enfrenta pressão internacional – especialmente de países europeus – por causa das queimadas na Amazônia.   

No período em que coincidiram no poder, Salvini e Bolsonaro nunca se encontraram pessoalmente, mas o então ministro recebeu na Itália o deputado Eduardo Bolsonaro e o chanceler Ernesto Araújo e trocou afagos com o presidente brasileiro nas redes sociais.   

A Itália sempre foi um dos focos da política externa do governo – especialmente em função de Cesare Battisti, extraditado pela Bolívia após um longo período no Brasil -, assim como Israel e Estados Unidos, mas a queda de Salvini pode enfraquecer esse tripé.   

Substituto da Liga no governo italiano, o PD é próximo ao PT, e algumas de suas principais lideranças defendem publicamente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma delas, o novo ministro da Economia Roberto Gualtieri, até visitou o petista na cadeia e assinou um manifesto na campanha de 2018 pedindo um “categórico ‘não'” à eleição de Bolsonaro.   

M5S – O ponto de intersecção entre o primeiro e o segundo governo de Giuseppe Conte na Itália é o M5S, partido antissistema cujo fundador, Beppe Grillo, também é admirador de Lula. Em setembro passado, o comediante disse que o ex-presidente é “símbolo de coragem e honestidade”.   

O movimento, no entanto, possui um posicionamento ideológico bastante fluido, e seu atual líder, Luigi Di Maio, nomeado ministro das Relações Exteriores, nunca se pronunciou abertamente sobre Bolsonaro ou Lula.   

Já o partido publicou recentemente um texto criticando Bolsonaro pelo aumento “frenético” do desmatamento na Amazônia e pela disseminação de “fake news” sobre a floresta. “A retomada do desmatamento é consequência direta das escolhas políticas do novo presidente, fortemente apoiado pelo lobby da agroindústria de massa e das mineradoras”, diz o texto, que não é assinado, mas está no blog do M5S, sua principal ferramenta de comunicação.   

A troca de governo chega no momento em que a Itália costura uma aproximação econômica com o Brasil, com recorrentes encontros de autoridades, incluindo o ministro da Economia Paulo Guedes, com empresas do país europeu. Além disso, dois membros do último governo italiano visitaram o Brasil em 2019: Gian Marco Centinaio (Liga), que chefiava a pasta de Políticas Agrícolas, e Elisabetta Trenta (M5S), agora ex-ministra da Defesa.   

Em seu primeiro governo, Conte também chegou a se encontrar brevemente com Bolsonaro, à margem do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, em uma reunião marcada pelo tom amigável.   

(ANSA)