Depois do show de Lewis Hamilton no Brasil, a briga pelo título da temporada 2021 da Fórmula 1 entrou em sua reta final. E está cercada de incógnitas, não somente pela surpreendente performance da Mercedes em São Paulo. Das três últimas corridas do ano, duas serão disputadas em pistas novas no calendário da categoria, a começar pelo GP do Catar, neste fim de semana.

O holandês Max Verstappen lidera o campeonato, com 14 pontos de vantagem sobre Lewis Hamilton: 332,5 contra 318,5. No GP de São Paulo, a Red Bull entrou como favorita, mas a Mercedes dominou. O piloto inglês venceu mesmo após duas punições, que lhe custaram 25 posições entre o sprint race, no sábado, e a corrida, no domingo.

Menos de uma semana depois desta batalha, os dois pilotos voltaram a se encontrar nesta sexta-feira para os dois primeiros treinos livres do GP do Catar. Foi a estreia do Circuito Internacional de Losail no campeonato. Localizado nos arredores da capital Doha, o traçado foi inaugurado em 2004 pela MotoGP, categoria que mais tem utilizado a pista. São 5,3 quilômetros de extensão, cerca de um quilômetro a mais que o Autódromo de Interlagos, com curvas de média e alta velocidade.

Na avaliação dos pilotos, o circuito não oferece muitos pontos de ultrapassagem. “É uma pista muito rápida, parece divertida. Mas acho que não será muito fácil fazer ultrapassagens. Então, o treino classificatório se tornará ainda mais importante”, projeta Sergio Pérez, companheiro de Verstappen na Red Bull. O mexicano é o único entre os 20 pilotos do grid a já ter corrido na pista, quando estava na GP2, atual Fórmula 2.

As equipes também esperam que a prova de domingo seja mais exigente do ponto de vista físico por causa do calor e das características da pista. Para amenizar a primeira preocupação, a corrida será realizada em horário incomum na temporada: a largada está marcada para as 17h de domingo, 11h de Brasília. Será a primeira corrida noturna da temporada.

Duas semanas depois, os pilotos vão encarar outra pista nova no campeonato. O GP da Arábia Saudita também fará sua estreia na categoria. E sob certa preocupação. Faltando menos de três semanas para a corrida, o circuito construído na cidade de Jeddah ainda não está pronto. A F-1 não comenta, mas há até especulações de que a prova será cancelada por conta dos atrasos na entrega das obras.

Se mantida no campeonato neste ano, com largada no dia 5 de dezembro, a etapa vai oferecer aos pilotos uma pista mista, com trechos permanentes e outro de rua. São 6,1 quilômetros de traçado às margens do Mar Vermelho. Caso não aconteça mudanças de última hora nas obras, será a segunda pista mais longa da competição.

Tanto no Catar quanto na Arábia Saudita é difícil fazer previsões sobre o rendimento das equipes, por serem estreias no calendário. No primeiro, Red Bull e Mercedes devem manter certo equilíbrio porque o circuito apresenta uma boa mistura de retas e curvas, diferentemente do traçado saudita, com mais retas. Portanto, o mais provável é que a Mercedes se destaque na segunda.

O capítulo final da temporada será novamente em Abu Dabi. Na corrida disputada nos Emirados Árabes Unidos, Hamilton é franco favorito sobre Verstappen. A Mercedes venceu seis das últimas sete corridas no local. O holandês venceu a última, no ano passado. A prova, como de costume, será noturna, com largada marcada para as 17 horas (10h de Brasília), no dia 12 de dezembro.

Se ainda estiver na briga pelo título, Hamilton poderá conquistar o oitavo título na F-1, se tornando o recordista de troféus da categoria. Superaria, assim, o alemão Michael Schumacher, sete vezes campeão.

ALTA TENSÃO – O campeonato esquentou de vez em São Paulo, e não somente na pista. A corrida ficou marcada por uma manobra de Verstappen ao defender a liderança da prova diante de uma investida de Hamilton na 48ª das 71 voltas do GP brasileiro. O holandês não abriu espaço para o rival e ambos precisaram recorrer à área de escape para evitar a colisão.

O caso não rendeu punição a Verstappen. Mas a Mercedes entrou com recurso junto à Federação Internacional de Automobilismo (FIA) pedindo revisão da decisão dos comissários da prova após vídeo liberado pela F-1 na segunda-feira. As imagens mostram Verstappen mantendo o volante reto na curva de forma deliberada para conter Hamilton.

A manobra causou irritação na equipe. Ao fim da corrida, o chefe da Mercedes, Toto Wolff, disse que a “diplomacia acabou”. O GP ainda contou com uma denúncia da Red Bull aos comissários sobre a asa traseira do carro de Hamilton, o que acabou rendendo uma desclassificação do britânico no sprint race – pulou do 1º para o último lugar.

DIREITOS HUMANOS – Os atritos não devem se restringir à rivalidade entre pilotos e equipes na F-1 nas próximas etapas. As corridas no Catar e na Arábia Saudita serão duas das mais sensíveis para a categoria em termos de direitos humanos e questionamentos políticos, até mesmo interno.

No início da semana, a Anistia Internacional enviou comunicado à BBC para criticar a decisão da F-1 de correr nestes países. “Ao usar o glamour e o entusiasmo da F-1 para tentar distrair a atenção dos abusos dos direitos humanos, o Catar e a Arábia Saudita esperam que haja pouca ou nenhuma discussão sobre as questões de direitos humanos ao longo destas etapas, algo que não deve ser permitido que aconteça”, disse o comunicado.

Acostumado a sair em defesa de causas sociais e ambientais, Hamilton destacou a importância de falar sobre estes assuntos ao longo do fim de semana. “Acredito que, à medida que os esportes alcancem esses lugares, eles têm o dever de aumentar a conscientização sobre essas questões”, declarou o inglês.

“Esses lugares precisam de escrutínio e é preciso que a mídia fale sobre essas coisas. Direitos iguais é um problema sério. No entanto, estou ciente de que neste país eles estão tentando dar passos à frente e não podemos mudar tudo da noite para o dia. Ouvi dizer que há coisas como uma tentativa de reformar o sistema. Só sinto que, se estamos indo a esses lugares, precisamos melhorar o perfil da situação.”