Com pandemia como pano de fundo, insatisfação com Netanyahu aumenta

Com pandemia como pano de fundo, insatisfação com Netanyahu aumenta

“Não sairemos daqui até Bibi ir embora!”. Em Israel, os manifestantes vociferam sua insatisfação com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, acusado de corrupção, em meio a um duro cenário social, acentuado por sua gestão da pandemia de COVID-19.

A alguns metros de sua residência em Jerusalém, milhares de pessoas denunciavam, no sábado à noite (25), um governo “corrupto”, que toma medidas “ilógicas” contra a COVID-19 e que ignora – segundo eles – os mais frágeis, “pensando apenas nele”. Os protestos continuavam neste domingo (26).

Inicialmente, Israel se vangloriava de sua gestão da pandemia, com um número relativamente baixo de casos. Com o desconfinamento, decidido no final de abril para recuperar a economia, o número de infecções foi-se multiplicando, o que forçou o governo a decretar novas restrições.

Com nove milhões de habitantes, o país registrou oficialmente mais de 61.380 casos de COVID-19 e 464 mortes. Recentemente, atingiu até mil novos casos diários, com um pico de até 2.000 casos confirmados em um único dia.

A taxa de desemprego continua a subir e passou de 20% nos últimos meses, contra apenas 3,4% em fevereiro passado.

As autoridades anunciaram ajuda para assalariados e para trabalhadores autônomos, assim como para todas as famílias e cidadãos maiores de 18 anos.

Para os manifestantes, porém, é pouco e chega muito tarde.

– Sem planejamento –

“Dar 750 shekels (cerca de 190 euros) para todos é apenas uma maneira de nos silenciar”, diz Amit Finkerstin, uma garçonete de 27 anos demitida por causa da pandemia e que desafia a política “ilógica” do governo.

Na semana passada, o que se observou foi um vaivém decisório na gestão da crise da saúde. Primeiro, o governo ordenou o fechamento dos restaurantes e, diante do descontentamento do setor, adiou a entrada em vigor dessa decisão. Por fim, o Parlamento revogou o decreto, autorizando a reabertura de restaurantes.

“Um dia sim, um dia não”, diz Finkerstin.

“O governo não planeja, as pessoas não têm perspectivas, não sabem quando terão dinheiro. O governo se preocupa apenas consigo mesmo”, critica a jovem.

“Tudo começou com um grito prematuro de vitória sobre o coronavírus. Depois, se transformou em um fracasso sanitário e econômico, para acabar em uma profunda crise de confiança da população em relação ao governo”, resumiu neste fim de semana o jornalista Einav Schiff, do Jornal “Yedioth Aharonoth”.

O último amplo movimento de protesto social em Israel remonta a 2011, quando milhares de pessoas se mobilizaram contra a pobreza e o alto custo de vida, sem essa mobilização se materializasse em mudanças significativas.

– Pandemia como gatilho –

Para Tamir Gay Tsabary, que viaja diariamente do sul de Israel a Jerusalém para se manifestar com sua esposa, vestindo um colete amarelo, “a pandemia foi o gatilho (…) a má administração do governo”, destacou.

“Agora as pessoas entendem que Netanyahu realmente não se importa com Israel. Ele se importa apenas com ele mesmo”, disse o diretor comercial, de 56 anos.

Alguns protestos nas últimas semanas terminaram em confrontos violentos com as forças da ordem. Na noite anterior, 12 pessoas foram detidas em Jerusalém, informou a polícia.

No poder sem interrupção desde 2009, Netanyahu, apelidado de “Bibi”, foi indiciado em novembro de 2019 por corrupção, abuso de confiança e malversação de recursos, em vários casos separados. É a primeira vez que isso acontece com um chefe de governo israelense durante seu mandato.

Diante da crescente revolta, o primeiro-ministro denuncia um movimento liderado por “anarquistas de esquerda” e acusa a mídia de “propaganda” e de fabricar “fake news” (“notícias falsas”.

“Todos nós podemos ouvir, ver e, acima de tudo, sentir: algo está acontecendo”, disse Einav Schiff.

Para o jornalista, resta saber “se é um terremoto real, ou um simples tremor”.