A pandemia do novo coronavírus mudou a rotina dos parlamentares da Câmara dos Deputados. Acostumados a viajar com frequência dos seus Estados para Brasília, com a adoção das sessões remotas e a suspensão de algumas comissões, os deputados acabaram diminuindo em quase 82% o uso da cota parlamentar para compra ou reembolso de passagens aéreas.
De fevereiro do ano passado (quando a atual legislatura começou) até junho de 2019, os parlamentares gastaram mais de R$ 27,3 milhões com compra e reembolso de passagens aéreas. No mesmo período deste ano, o gasto foi de aproximadamente R$ 5 milhões.
Conforme os dados do Portal da Transparência da Câmara, o custo com passagens teve uma queda brusca em abril, quando somente R$ 174 mil da cota foram gastos em voos. No entanto, mesmo que timidamente, os gastos vêm aumentando novamente.
Nos dados levantados pela reportagem, o uso da cota por meio das lideranças partidárias não foi incluído.
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Votação remota
Além da diminuição do uso da cota para voos, a implementação do sistema de votação remota aumentou a participação dos deputados nas sessões e proporcionou mais agilidade na apreciação das propostas.
No entanto, a distância tem atrapalhado negociações e debates. “A articulação política fica mais distante, a gente não consegue conversar pessoalmente. Então, a gente trabalha com uma lógica de liderança partidária mais efetiva, mas isso do ponto de vista do resultado é mais positivo também”, afirmou o deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara.
Na avaliação do líder do PSB na Casa, Alessandro Molon, o sistema de votação remota acaba “concentrando poder nas mãos do presidente da Câmara”. “Com as sessões virtuais, os debates para a apreciação de cada matéria acabam sendo limitados e prejudicados”, afirmou o parlamentar.
“O contato pessoal é muito importante na hora de discutir pontos importantes de cada proposta. A perda da presença física nesse período dificultou também a participação mais ativa de entidades da sociedade civil, por mais que se tente manter audiências públicas virtuais”, disse Molon.