Estudantes do 3º ano do ensino médio tiveram as piores notas em Matemática na série histórica de uma avaliação do governo de São Paulo que mede o desempenho na rede estadual. Os dados, divulgados nesta quarta-feira, 2, evidenciam os prejuízos provocados pela dificuldade de ensino durante a pandemia.

As provas do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) foram aplicadas em dezembro do ano passado para mais de 642 mil alunos do 5º e 9º anos do ensino fundamental e da 3ª série do ensino médio. A última avaliação havia sido realizada em 2019.

Escolas em todo o Brasil foram fechadas em março de 2020, para reduzir o risco de contaminação pelo coronavírus. A rede estadual paulista adotou o ensino remoto, mas houve dificuldade em alcançar os estudantes nas atividades online. Parte dos alunos deixou de frequentar as aulas remotas por problemas de conexão ou pressão para trabalhar.

O retorno presencial aos colégios da rede estadual paulista começou, de forma gradativa, no segundo semestre de 2020. Com o recrudescimento da pandemia no ano passado, porém, as escolas voltaram a ser fechadas e houve rodízio de estudantes para frequentar as aulas presenciais.

Conforme os dados do Saresp, a queda de rendimento ocorreu em todas as séries avaliadas, tanto em Língua Portuguesa quanto em Matemática. O desempenho no ensino médio, que já vinha em redução desde 2018, despencou. A maioria dos estudantes do 3º ano do ensino médio (58,7%) saiu da escola estadual no ano passado sem saber o básico de Matemática.

Os alunos obtiveram nota 264,2 na disciplina, valor que nunca foi tão baixo em toda a série histórica do Saresp, que começou em 2010. Em 2013, ano com os piores desempenhos até então, a nota dos alunos em Matemática era de 268,7. O estudante do ensino médio terminou os estudos no ano passado com defasagem de quase seis anos em Matemática.

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Em Língua Portuguesa, os dados também preocupam. Os resultados despencaram em relação a 2019 e foram semelhantes aos de 2013. Estudantes do ensino médio deixaram a escola com desempenho que seria adequado para um aluno quase cinco anos mais jovem. A maioria deles não tem habilidades como inferir o público-alvo de um texto ou os objetivos do autor.

O problema atinge também alunos mais jovens, o que deve pressionar a rede estadual a recuperar a aprendizagem desses estudantes antes que eles deixem a escola. Alunos do 5º ano vinham melhorando suas notas em Matemática desde 2017, mas o desempenho sofreu queda abrupta de 21,1 pontos com a pandemia – a maior redução porcentual entre todas as disciplinas e séries avaliadas.

Boa parte dos alunos do 5º ano do fundamental não consegue fazer contas de subtração e adição. Isso significa que esse estudante, de 11 anos, tem o mesmo desempenho esperado de um aluno de 8 anos de idade. Uma em cada cinco crianças nessa faixa etária tem nível abaixo do básico em Matemática. E só 23,9% tem desempenho adequado ou avançado.

As dificuldades se intensificam na etapa seguinte. Em Matemática, um terço dos jovens de 15 anos (9º ano do fundamental) não sabe nem o básico. Os resultados obtidos agora interrompem a tendência de melhora no desempenho desses alunos e se comparam às notas de 2014. Em Língua Portuguesa, as notas do 9º ano são compatíveis com as de 2017.


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