O título de um dos maiores clássicos do U2, “With or Without You” (“Com ou sem você”), cabe perfeitamente na trajetória de Elijah Hewson, filho de Bono, vocalista da banda irlandesa. Com seu álbum de estreia, ele mostra que tem talento para fazer sucesso por conta própria – com ou sem a ajuda do pai famoso. Na verdade, o que ocorreu com Elijah foi o contrário: “meu pai não me apoiou no início porque queria que eu fosse para a faculdade. Ele diz que música hoje não dá dinheiro”.

+ Bono faz a playlist de sua vida ao completar 60 anos
+ Em Davos, Bono Vox evita comentários sobre direitos humanos no Brasil
+ U2 disponibiliza shows históricos no YouTube

CARREIRA
Bono: roqueiro preferia que o filho fizesse faculdade (Crédito:ANDER GILLENEA)

Bono já foi o músico mais rico do mundo, mas hoje a realidade é mesmo diferente. Isso não impede o Inhaler de apostar alto: além de Elijah na guitarra e vocais, o grupo conta com John Jenkinson (guitarra), Robert Keating (baixo) e Ryan McMahon (bateria). Colegas de uma escola católica em Dublin, eles se aproximaram graças ao amor pelo som de Led Zeppelin e Black Sabbath. Ao ouvir seu primeiro disco, “It Won’t Always Be Like This”, é surpreendente ver como esses jovens irlandeses fizeram algo tão pronto para as paradas de sucesso: canções como “Cheer up Baby”, escrita para alegrar os fãs durante a pandemia, ou “Who’s Your Money On”, dançante mistura de rock e eletrônica, mostram que, apesar da baixa idade, na faixa dos 20 anos, o Inhaler tem maturidade de gente grande. Além do talento, o segredo pode estar na escolha do produtor: o londrino Antony Genn foi tecladista do Pulp, um dos nomes mais originais dos anos 1990, e parceiro de Joe Strummer, do The Clash.

“Tenho respeito por meu pai e pelo sucesso que ele alcançou, mas as pessoas da minha idade não ouvem U2”
Elijah Hewson, músico

Como artista, Elijah Hewson repudia a influência do pai-rockstar. Recusa-se a abordar a política, como fez o U2 no início da carreira (“há sempre coisas loucas acontecendo no mundo, usamos a música para escapar delas”) e critica o estilo dos veteranos: “A gente ama a banda, eu os respeito, amo meu pai, eles são incríveis e conquistaram muitas coisas, mas não somos eles. Não acho que nossa banda se inspirou no U2, queremos seguir outro caminho”. Ao ser indagado se o pai não lhe daria bronca se o ouvisse falando assim, Elijah responde com ironia: “já sou mais alto que ele, não tem problema”. Apesar do tom de voz parecido – “é culpa da genética, assim como o meu nariz grande”, explica –, o som do Inhaler realmente não tem nada a ver com o do U2. É mais parecido com o dos oitentistas do Joy Division e Stone Roses, ou com os americanos do The Strokes. Apesar da pandemia, o Inhaler pretende voltar aos palcos em setembro. “Aguardamos a confirmação, mas a vacinação na Europa pode tornar nosso sonho possível.”

PROMISSORA Inhaler: banda formada por colegas de escola faz sucesso na Europa (Crédito:Divulgação)

Na casa dos Hewson, Elijah, de 21 anos, não é o único artista entre os filhos. Sua irmã, a atriz Eve Hewson, de 29, ficou conhecida por seus papéis no filme “Ponte de Espiões e na minissérie “Por Trás dos Seus Olhos”. A irmã mais velha, Jordan, 32, seguiu os passos da mãe, a empresária e ativista Alison Stewart, com quem Bono é casado há quase quatro décadas. O filho mais novo, John, de 20 anos, ainda é estudante.

Não há nada de mais em seguir o caminho de pais roqueiros. No caso do maior grupo de todos os tempos, os Beatles, isso aconteceu com os quatro integrantes. Zak Starkey, filho de Ringo, é hoje baterista do The Who; Dhani Harrison é um ótimo guitarrista, como o pai, George; James McCartney é multi-instrumentista, como Paul; John Lennon, por sua vez, teve dois filhos músicos: Sean Ono, filho de Yoko, e Julian, do primeiro casamento, com Cynthia Powell. Se eles serão tão fabulosos como os pais, aí já é uma outra história.

Rock De pai para filho